Blood Mirror, visto de perto

Doação de sangue: escultura contesta proibição contra HSHs

“Blood Mirror”, de Jordan Eagles, utiliza o sangue de nove gays, proibidos de doarem sangue por regulamentos defasados. Estima-se que um milhão de vidas poderiam ser salvas com o fim dessas regras

por Marcio Caparica

Homens homossexuais que desejem doar sangue têm atualmente duas opções: calçar a cara e mentir para quem atendê-lo, ou sujeitar-se à rejeição por causa de seu comportamento sexual – mesmo que esse homossexual nunca tenha feito sexo sem proteção na vida. Eu sei porque já fiz isso (sim, eu menti). Em protesto contra essa proibição defasada, o artista plástico nova-iorquino Jordan Eagles construiu a escultura Blood Mirror (“Espelho de Sangue”), que será exposta pela primeira vez no dia 12 de setembro no Katzen Arts Center, em Washington, D.C.

A obra consiste de um sarcófago de quase 2,15 metros de altura, feito de vidro. Numa das faces do paralelepípedo foi colocado o sangue de nove voluntários que se enquadram na categoria HSH (homem que faz sexo com homem), e, portanto, estão proibidos de doarem sangue. Cada um doou aproximadamente 470 ml para o projeto. Um observador que se aproximar da obra poderá ver-se refletido na superfície preenchida com sangue.

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As proibições contra doações de sangue de homens que se declaram HSH foram impostas durante o auge da crise da Aids; nos EUA, uma única relação sexual homossexual é o suficiente para vetar o sangue de um homem para o resto da vida. Um estudo do Williams Institute avaliou que, caso essa proibição fosse suspensa, haveria um aumento de aproximadamente 360 mil doadores de sangue nos EUA, uma medida que poderia salvar um milhão de vidas por ano.

Entre aqueles que deram o sangue para a obra de Eagles estão um ativista pelos direitos LGBT na Nigéria, exilado nos EUA; um pastor declaradamente homossexual de 88 anos; um gêmeo que seria impedido de doar o sangue para seu irmão idêntico, mesmo que com isso pudesse salvar sua vida; um homem bissexual, que também seria proibido de doar sangue para seus dois filhos tendo por base nada mais que seu comportamento sexual; e um casal transgênero. Todos os doadores relataram suas histórias no vídeo abaixo, em que o processo de criação da obra foi registrado.

No Brasil, exige-se que o indivíduo não tenha relações sexuais homossexuais por um ano – o que significa um ano de celibato no caso de muitos HSH. Homens heterossexuais, enquanto isso, podem fazer sexo sem proteção num dia e doar sangue no outro, sem qualquer tipo de constrangimento. O Ministério da Saúde afirma que reavalia as regras para doação de sangue periodicamente, mas admitiu à BBC Brasil que vai manter a proibição na próxima revisão. O documento está sendo finalizado e deve ser publicado em breve.

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3 comentários

Douglas

Acho esse tipo de proibição tão defasada! Hoje em dia, pesquisas já provam que o maior grupo de risco não é o de homens homossexuais, mas está entre pessoas heterossexuais! Eu faço exames regularmente pelo tipo de trabalho que exerci há pouco tempo, sempre uso proteção, e mesmo assim, se disser algo sobre minha orientação sexual, seria impedido de doar.

POR QUÊ? Afinal de contas, eu sou LIMPO! Meu sangue é limpo! E enquanto eu doaria sangue limpo com o maior prazer, outra pessoa pode estar sujando o seu de várias maneiras e doar amanhã.

Lih

Acho q nem e’ questão de preconceito e’ questão de segurança msm uma pessoa q transa sem camisinha tanto gay como não tm q ser vetada msm já q o virus pode ficar escondido por 30 dias o sus não teria verba o suficiente p fazr exames mais detalhados em grande escala. A questão é o auto índice de aids na população gay por isso esse publico tm certas restrições eu nesse momento penso como cidadão q se me encontra-se doente queria receber um sangue saudável.

Júnior

Eu já doei sangue, mas menti na hora das questões, e meu sangue por ser O+ é até bastante necessário, mas depois desisti de doar, se tenho que mentir para ajudar quem precisa, prefiro não doar!

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