Gay for pay

“Gay for pay”: documentário mostra héteros que atuam em pornôs gays por dinheiro

Episódio de série da MTV americana acompanha dois astros pornô que passaram a atuar em filmes gays pelo cachê maior. “Isso não afeta minha orientação sexual”, afirmam

por Marcio Caparica

No começo de dezembro a série de documentários da MTV norte-americana, True Life, dedicou um episódio à história de dois homens heterossexuais que decidiram atuar em filmes pornôs gays por causa dos cachês maiores que os de filmes héteros. Um deles é aberto quanto seu envolvimento em filmes gays, mas outro guarda isso como segredo – ou melhor, guardava até o episódio ir ao ar.

O trailer para o programa anunciava:

O que você faria por dinheiro? Nesse episódio de True Life, você vai conhecer dois caras héteros que estão dispostos a fazer filmes pornôs por dinheiro. Luke tem uma legão de fãs online, mas consegue esconder isso de sua namorada… Ben é um homem casado que começou a fazer filmes pornôs gays recentemente para sustentar seus filhos… Sua esposa, Crystal, acha que isso é um tesão. Será que todos vão conseguir compreender seu estilo de vida incomum? E Ben está disposto a seguir uma carreira a longo prazo na pornografia? Eles são astros em ascensão na indústria pornográfica, mas será que as pressões da vida cotidiana farão com que reconsiderem suas carreiras tão lucrativas?

O episódio foi ao ar no dia 12 de dezembro. Desde então, os dois vêm fazendo entrevistas em que exploram o que parece ser um nó na cabeça de muitos: como um homem pode ser capaz de fazer sexo com outro homem sem, no entanto, ser homossexual? A própria MTV norte-americana entrevistou Luke, o que esconde a carreira da namorada, para saber o que aconteceu depois que o programa foi transmitido:

Luke

Luke

Como Katelin descobriu sua carreira na pornografia gay?

Katelin descobriu que eu faço filmes pornôs gays por um amigo dela. Ele encontrou um vídeo meu no Twitter e o enviou para a Katelin, o que eu não esperava que acontecesse.

Qual foi a reação de Katelin depois de descobrir seu trabalho secreto?

Ela chorou muito e ficou chateada de verdade com o fato de eu ter mentido sobre isso. Mas a gente conversou por muito tempo, e ela compreendeu por que eu faço isso. A gente nunca considerou se separar, e ainda queremos ficar juntos.

No programa, você contou como estava desconfortável em contar para Katelin. Você se sente melhor agora que está tudo às claras?

Eu me sinto muito melhor. Todo o estresse que eu sentia antes se foi agora que ela sabe. Eu não tenho mais que esconder nada, e isso é ótimo.

Revelar qual é o seu trabalho para Katelin ajudou a proximar vocês ainda mais?

Sem dúvida. Na verdade, Katelin acabou de ir comigo para Ohio para o dia de Ação de Graças e conheceu minha família. Tudo foi muito bem, e todos amaram ela.

O site Huffington Post entrevistou o outro protagonista do episódio, Ben, para entender melhor a personalidade de alguém que faz pornôs gays e se declara heterossexual:

Ben e sua namorada, Kristal

Ben e sua namorada, Kristal

Por que você resolveu participar do programa?

Eu decidi participar do programa por várias razões. A maior delas foi para que, quando chegar a hora, meus filhos entendam que o que eu fiz por eles não significa nada negativo quanto à minha capacidade de ser pai. Em segundo lugar, minha razão para participar desse programa foi para que eu me livrasse do fardo e do peso de manter esse segredo por tanto tempo.

O que você responderia para quem disser que você tem que ser gay (ou não pode ser hétero de verdade) para atuar nessa profissão?

Desde que o episódio foi ao ar, eu recebi muitas reações de ódio porque muitas pessoas sentiram-se ofendidas pelo que faço e porque eu faço isso sendo hétero. No entanto, o que eu faço sexualmente não reflete minhas preferências românticas. Fazer sexo com homens não representa o amor que eu sinto por minha esposa, romantica ou sexualmente. Minha resposta para isso tudo é que nós não precisamos sentir a necessidade de constantemente nos rotular por causa de nossas preferências, românticas ou sexuais, e eu mesmo estou tendo que compreender isso dia após dia. Ter uma relação sexual nem sempre é uma representação de quem nós amamos ou como amamos. O amor te encher de energia romântica e sexual, que é o que eu compartilho com minha esposa, e naturalmente o mesmo não pode ser dito sobre o que eu faço e compartimentalizo em minha vida para as telas.

O que você gostaria que as pessoas aprendessem com o programa?

Eu quero que as pessoas compreendam que, para algumas pessoas, não há limites para o que pode ser feito para sustentar seus filhos. Eu também acho que as pessoas deveriam aprender que não é necessário se colocar sob algum tipo de rótulo por causa de suas preferências sexuais ou românticas.

Mesmo assim muitos virão com o velho ditado “nesse mato tem coelho”, insistindo que os dois têm que ser no mínimo bissexuais. Em primeiro lugar, deve-se respeitar a identidade autodeclarada de cada um – algumas relações sexuais, por mais documentadas e filmadas que sejam, não mudam a preferência sexual de ninguém. Segundo, todo mundo que já fez sexo mecanicamente, por qualquer razão que seja, sabe que é totalmente possível fazer sexo sem sentir tesão de verdade. Muitas pessoas têm essa habilidade, um talento muito precioso para quem quer atuar em filmes pornôs – afinal, a gravação de pornografia é tudo, menos sexy, como já afirmaram os convidados de nosso episódio sobre pornografia.

Isso significa que todos aqueles homens que saem por aí transando escondido em banheirões, saunas, parques etc, e continuam considerando-se héteros porque são o ativo da relação (“o homem”, dirão eles), têm carta branca? Não exatamente. Essa é uma situação bem diferente de pessoas que fazem sexo com homens por dinheiro, mas não o fariam de livre e expontânea vontade. Os enrustidos estão, afinal de contas, procurando outros homens com quem fazer sexo sem nada que os force a fazê-lo – na verdade, acabam fazendo isso clandestinamente por causa de sua homofobia internalizada. Num mundo mais evoluído, seriam capazes de pesar se sua professada heterossexualidade realmente combina com seus desejos sexuais, ou não passa de uma fachada que eles mesmos se impõem. Certamente muitos seriam mais felizes se dessem a si mesmos a permissão para declararem-se bissexuais, ou mesmo homossexuais. De qualquer maneira, o princípio do respeito à autodeterminação continua: cada um define para si a identidade pela qual quer ser reconhecido, e isso deve ser respeitado.

(A não ser que essa pessoa ativamente atue para desmoralizar, prejudicar e humilhar pessoas queer. Daí, querido, vale tudo para trazer à tona sua hipocrisia.)

Relações sexuais por si só não definem a sexualidade de ninguém, como já conversamos quando foi publicado o estudo sobre o fenômeno dos bro-jobs. A necessidade de rotular as pessoas só faz apagar a incrível e fascinante variedade do comportamento humano. Com respeito, podemos todos viver as experiências que quisermos, sem julgamento nem vergonha.

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7 comentários

Carlos

Agora faz um texto falando sobre gays que atuam em filmes pornos héteros, será que existe?

Atwood

Rocco Reedé gay e fazia filmes Héteros e depois migrou para filmes gays e até fez passivo, pronto ai está seu exemplo, se sente mais feliz agora ?

Carlos

Esse é o unico exemplo?
Eu procurei textos sobre “hétero for pay” não encontrei nada.

Marcio Caparica

Se a indústria pornô hétero pagasse cachês maiores para os atores homens que a gay, aconteceria de haver “hetero for pay”. Não é o caso.

Lito

Vc está completamente equivocado. Não existe “straight for pay”, é tudo marketing, assim como o famoso “gay for pay”. Rocco Reed NUNCA foi gay, ele sempre foi e é heterossexual e sempre fez pornô hétero, há anos. Ele fez pornô gay à convite de uma produtora apenas para polemizar. Ele achou q seria uma boa polêmica e q ganharia muito dinheiro, pois seu nome ja estava cristalizado no pornô hétero, como ele viu q não iria ganhar o q pensava, voltou para o pornô hétero q é o q ele realmente gosta.

Tom

Seria melhor não precisar desse monte de rótulos. Mas rótulo facilita a vida (dos outros, principalmente, mais ainda dos que querem se enganar).

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