Por que brancos são sempre os passivos em filmes pornôs interraciais?

Traduzido do artigo de Mike Alvear para o site Huffington Post

Já percebeu como é difícil encontrar negros dando para brancos em filmes pornôs interraciais? Com poucas exceções, os estúdios pornôs, ao que parece, pensam que só há uma maneira aceitável de exibir o sexo interracial: com o negro no papel do ativo hiperagressivo e o branco sendo o passivo submisso.

Será que os filmes pornôs gays são racistas? Ou será que esse é um tipo benigno de estereótipo?

Se pesquisas na internet não tivessem me trazido essas questões, o que aconteceu enquanto tentei fazer a versão em vídeo de meu livro de aconselhamento sexual gay, How to Bottom like a Porn Star (“Como Dar Feito um Astro Pornô”). Eu conversei com vários produtores de filmes pornôs, sugerindo que usassem um casal interracial para dramatizar as instruções do livro, e todos eles me disseram que não funcionaria, a não ser que o negro fosse o ativo e o branco, o passivo.

“Você estaria infringindo uma regra não-escrita do pornô gay”, alertou um produtor. “A maior parte dos brancos que assistem a pornôs interraciais querem a fantasia de se submeterem a um bandidão de rua.”

“Bem”, eu respondi, “eu gosto de pornô interracial, e gostaria de ver mais versatilidade.”

O produtor insistiu que eu era minoria e que meu vídeo não se tornaria viral se eu insistisse em ter um branco ativo.

“Mas e os negros?”, eu perguntei. “Você quer me dizer que não há um negro por aí que gostaria de ver brancos ativos?”.

“Não é nosso mercado”, descartou. “Eles não chegam nem perto de comprar ou alugar pornôs interraciais tanto quanto os brancos.”

E lá estava a razão por que é tão incomum encontrar pornôs que apresentem negros em plena versatilidade sexual, de acordo com os estúdios pornôs: o comprador é branco, e ele não quer ver outra coisa. Ele quer o “show do negão”: uma submissão forçada por um negro mal-encarado hipersexualizado, super-agressivo e dotado de um pau gigante.

Como todos os estereótipos, há um grau de verdade nessa caracterização dos gays brancos. Meu amigo Mike, que é negro, recorda-se de vários semblantes decepcionados nos rostos dos brancos que o abordam. Mike tem a aparência do protagonista  das fantasias de muitos brancos na hora do sexo: ele é bonito, alto e encorpado. Mas quando ele abre a boca, muitos dos brancos perdem o interesse, porque Mike tem um nível educacional alto e não fala como um mano das ruas. Quando veem suas fantasias de bandidagem evaporar, esses brancos perdem o interesse e dão no pé.

Os estúdios pornôs estão corretos? Os brancos não querem ver passivos negros?

Antes de irmos em frente, devemos dizer que há estúdios pornôs que apresentam negros dando para brancos. Mas mesmo os produtores de filmes pornôs admitem que isso é incomum. Duas perguntas me vêm à mente. Primeiro, os estúdios pornôs estão corretos quando consideram que brancos não querem ver negros passivos? E, segundo, se isso é verdade, por quê?

Não há pesquisas (que eu saiba) sobre as preferências dos brancos na pornografia interracial, mas eu duvido muito que a plena glória da variedade sexual se interrompe no sexo interracial – que os brancos querem ver os negros em um papel e um papel apenas. No que se refere à segunda questão – por que tantos brancos querem ver apenas a versão do sexo interracial em que o negro é um dominador agressivo – há algumas possibilidades intrigantes.

Para começar, a natureza de ser ativo. Muitas vezes isso envolve poder e dominação. Se você tivesse que construir o ativo ideal, você provavelmente diria que ele tem que ser maior que você, em termos de altura, peso, e tamanho da mala. E você talvez dissesse que, como ser ativo envolve exercer controle, ele também deveria ser mais agressivo e dominador que você.

Vamos agora dar as boas-vindas ao estereótipo do negro.

Ele é mais alto, pesa mais e tem um pau maior que os brancos. Portanto, se você vai exibir a penetração, como faz quase todos os pornôs, faz sentido que o ativo seja o negro. O problema é que esse é um estereótipo que, empiricamente, não é verdadeiro. Negros não são mais altos que os brancos. Eles não pesam mais. E eles não têm paus maiores. Veja essas estatísticas da CDC (agência sanitária dos EUA) comparando homens brancos não-hispânicos e homens negros entre os 20 e 39 anos de idade (a idade mais comum entre os astros pornôs):

E para acabar de vez com o estereótipo de que os negros têm paus maiores, eu o convido a conferir o último estudo sobre tamanhos de pênis do Journal of Sexual Medicine:

A diferença de comprimento e circunferência entre as raças é estatisticamente insignificante. O estudo descobriu que características como raça ou orientação sexual não eram boas maneiras de se prever o tamanho do pênis de um homem. Esse estudo é relativamente consistente com os resultados de pesquisas anteriores.

O poder dos estereótipos

A ficção é mais sedutora que os fatos. Mesmo quando confrontado com dados empíricos de que os negros não são maiores que os brancos – em qualquer departamento – o estereótipo perdura. Como a maior parte dos brancos nunca teve uma boa variedade de parceiros negros, suas percepções são quase completamente construídas pela pornografia, que mostra apenas atores com paus tão grandes que poderiam ser usados para misturar drinks na sala ao lado.

Os estúdios pornôs alegam que não fazem mais que servir aquilo que o mercado quer, mas na verdade eles criaram esse mercado ao perpetuarem sistematicamente  o conceito de que negros são maiores que os brancos, mesmo quando se verificou que isso não é verdade.

Colby Alexander, um escritor que por acaso é metade branco e metade negro, escreveu uma “Carta Aberta aos Estúdios Pornôs Gays” surpreendentemente sincera, na qual ele sugere como os produtores de pornografia poderiam fazer pequenos ajustes em seus vídeos que revolucionariam a pornografia interracial. Será que os executivos do pornô vão ouvir?

Provavelmente não. Portanto, se você quiser ver mais versatilidade na pornografia interracial, você vai ter que gastar horas na internet procurando. Ou você pode clicar aqui para ver uma lista de filmes pornôs interraciais que mostram negros dando para brancos. (Esse link não leva para sites pornôs;  ele apenas mostra onde você pode encontrar esses vídeos). Minha equipe levou três horas para conseguir compilá-la. Das centenas de vídeos que mostravam pornografia interracial, nós encontramos apenas por volta de três dúzias com brancos ativos (10% a 15% do total).

Há esperança para a versatilidade na pornografia interracial. Um estúdio novo e pequeno especializado em atores negros completamente versáteis emergiu, o Harlem Hookups. Vamos torcer para que outros estúdios sigam seus passos e tornem nossa lista obsoleta.