Sir Ian McKellen já tem lugar garantido na história. Antes mesmo de tornar-se um ícone pop encarnando nas telas dois dos maiores ícones geeks da ficção, Magneto e Gandalf, o ator britânico já era renomado pelo seu talento e por seu ativismo na causa LGBT. Não é surpreendente, portanto, que uma editora estivesse disposta a pagar muito por sua autobiografia. Nesse caso, infelizmente, a bola bateu na trave. McKellen revelou recentemente que havia recebido um adiantamento de um milhão de libras (5,2 milhões de reais) para escrever suas memórias, mas que desistiu do projeto por considerá-lo “doloroso demais”.
A declaração foi feita no último domingo (3), quando o ator participou do Oxford Literary Festival. O contrato já havia sido assinado com a editora Hodder & Stoughton. “Eu separei nove meses para escrever esse livro, e recebi um belo adiantamento. E então tive que devolvê-lo.” O motivo para abandonar o livro teriam sido as ressalvas em remexer e expor detalhes de sua vida íntima. “Foi doloroso demais – eu não quero revisitar minha vida e repisar coisas que eu não compreendia na época. Francamente, se alguém quiser saber qualquer coisa sobre minha vida pública, minha vida profissional, minha carreira, está tudo catalogado com mais detalhes em meu website do que eu poderia contar em meu livro.”
Para seus fãs, restam alguns relances em sua vida pessoal que o ator já ofereceu em entrevistas passadas. Numa entrevista feita à revista Vanity Fair em 2012, McKellen contou como era ser gay em sua juventude. “Quando eu cresci na Inglaterra dos anos 1950, eu não sabia de nenhum clube gay. Não havia bares. Os homossexuais eram humilhados publicamente e aprisionados. Você estava por conta própria, olhando sua retaguarda o tempo todo, torcendo para descobrir alguém gay no aperto de mãos de um estranho. Essa é provavelmente uma das razões por que eu me tornei um ator”, explicou. “Haviam me dito que era uma boa maneira de conhecer bichas. E era mesmo. Eu nunca vivi no armário com os amigos e colegas do teatro profissional, mas eu não havia contado para meus parentes mais próximos.”
McKellen veio a público sobre sua homossexualidade em 1988, aos 49 anos, para se posicionar contra um projeto de lei britânico que prejudicaria a comunidade LGBT. “Foi o momento certo para mim, porque, aos 49 anos, eu já me sentia seguro como ator e como pessoa”, contou numa entrevista para a TV em 2015. “Eu era capaz de articular minhas frases e argumentar com veemência. Havia um lugar para mim no movimento gay do Reino Unido, e eu adorei. Claro que envolvia atuar, mas com a verdade. E então eu me senti muito melhor.”
“A sociedade toda impedia pessoas da minha geração de sair do armário, porque era contra a lei fazer amor”, continuou. “Cada vez que você fazia sexo, você se lembrava que era um criminoso.”
Em entrevista ao site Huffington Post, McKellen disse que declarar-se gay ajudou-o em seu ofício. “Segundo meus amigos, eu não me tornei apenas uma pessoa mais feliz, eu também me tornei um ator melhor. Acho que, até aquele momento, atuar funcionava como um tipo de disfarce – uma maneira de expressar minhas emoções, e chamar atenção para mim de uma forma que eu não queria fazer na vida real. Depois disso, atuar não era mais um disfarce, era uma forma de falar a verdade. Minhas emoções tornaram-se muito mais livres. Eu passei a representar melhor, e acho que isso acontece com qualquer trabalho. Todos são melhores se são honestos”.
Ele também admitiu que se arrepende de não ter saído do armário mais cedo. “Eu me arrependo, e sempre me arrependerei, de não ter percebido a importância de se declarar gay antes, porque acho que eu teria me tornado uma pessoa diferente, mais feliz. Confiança em si mesmo é a coisa mais importante que qualquer um pode ter. Não é possível tê-la se uma parte de você está envergonhada ou escondendo algo.” E aconselha: “Garanto às pessoas que pensam que não são capazes disso: o mundo vai gostar muito mais de você, porque as pessoas gostam de honestidade e autenticidade.”
Que homem MITO!!!