Entre as discriminações que LGBTs sofrem, uma das mais dolorosas é a que vem dos próprios pais. Há três anos Patrick Bradley, fundador do blog GayFoodie.com, casou-se com seus parceiros. Seus pais religiosos, no entanto, recusaram-se a participar da cerimônia. E fizeram questão de anunciar que estariam ausentes para o filho. Desde então, Bradley ainda tentou manter algum tipo de relação com sua família, por mais abalados que estivessem esses laços. Cansado de seus esforços unilaterais, no entanto, essa semana ele publicou uma carta aberta a seus pais no site da revista Out.com, em que ele conta sua versão dos fatos, desabafa sobre seus sentimentos, e deixa claro: não vai mais lutar para manter um relacionamento quando não há vontade mútua para que ele continue existindo. Confira a tradução da carta a seguir:
Queridos mãe e pai
Já se passaram 890 dias desde o dia em que vocês dois decidiram não participar de meu casamento. Eu não sei por que eu levei tanto tempo para falar algo sobre isso. Talvez eu tinha medo do que a família vai pensar, do que a família vai dizer. Ou talvez eu tinha medo de perder ainda mais da minha família “maravilhosa” e “linda”, que ocupa meus pensamentos dia e noite.
Mas a hora é agora porque eu finalmente fiquei cansado demais depois de passar 890 dias e noites sendo assombrado pela sua presença – por sua ausência, para ser mais preciso. Eu estou cansado de sonhar a seu respeito noite após noite. E essa noite, eu tive o sonho mais desagradável de todos – um que me arrancou do sono e me impediu de voltar a dormir. Então, às 6:22h da manhã, depois de ter dormido pouco mais que três horas, eu estou escrevendo essa carta para vocês – sabendo que escrevê-la vai me privar do descanso de uma noite bem dormida, antes do trabalho; mas eu prefiro trabalhar privado de sono do que privado de dignidade.
Para que ninguém da família sinta-se excluído (daqui pra frente), eu estou enviando essa carta para todos os envolvidos. Eu quero que todos saibam o que aconteceu na última visita que fiz a vocês, antes do meu casamento, tão lindo e tão maravilhoso. Eu não estou escrevendo essa carta como um ato de vingança (apesar de que possa dar essa impressão), pelo contrário, eu estou escrevendo-a porque estou cansado de pisar em ovos ao redor dos meus irmãos, afilhados, sobrinhos e sobrinhas. Eu estou cansado de ter que ser “civilizado” com vocês dois, “pela família”. Eu também estou cansado dos presentes de natal e de aniversário que eu não quero receber, e estou cansado da audácia que vocês têm de falarem com meu marido (e comigo) como se nada tivesse acontecido. Vocês não têm vergonha?
Acho que é hora de eu contar o meu lado da história para a família, já que eu tenho certeza que vocês já contaram sua versão. Quero que tudo fique aberto, para que eu possa sentir que retenho toda minha dignidade comigo quando encontrá-los nas reuniões familiares – reuniões que, daqui por diante, eu vou preferir evitar se isso significa que qualquer um de vocês dois estará presente; eu tenho outras maneiras de encontrar minha família.
No dia 13 de maio de 2013 eu viajei até Nova Jersey – um dia depois do dia das mães – para levá-la para almoçar porque eu tive que trabalhar no dia anterior. Você me pegou na estação de trem, e nós paramos numa loja para comprar um cartão de aniversário para um dos meninos. No caminho, eu lhe contei como a família extendida de Michael, que estava vindo da Georgia, do Colorado e de outros lugares – em parte para conhecê-la! – estavam animadíssimos com o encontro. Você apenas respondeu que vocês dois não estariam presentes no casamento. Eu fiz o que pude para manter a compostura, pensando que conseguiria mudar sua opinião antes do grande dia.
Quando deixamos a loja de cartões, você começou a recitar a Bíblia, enquanto outros clientes passavam por nós, ocupados com seus problemas. Quando voltamos ao carro, você havia mencionado como temia que um anjo aparecesse para você, dizendo “Pare de rezar pelo Patrick! Ele já está no inferno!”. Eu sabia então que era a hora de dar minha última cartada, e fazer o ultimato que eu nunca esperava ter que cumprir.
Eu lhe expliquei, simples e calmamente, que se vocês dois não estivessem presentes em meu casamento, vocês não me veriam mais depois do casamento: nada de feriados, nem aniversários, nem hospitais, nem funerais. O que eu ouvi a seguir me deixou levemente em choque. Você redarguiu, rapida e prontamente, dizendo “Nós sabemos disso! Eu conversei com seu pai ontem à noite e nós já aceitamos isso! Nós dissemos que estávamos devolvendo você para Deus!”. Eu me lembro de outras coisas que foram ditas, que vou omitir aqui. Enquanto estava sentado em estado de choque – em choque porque você preferia nunca mais me ver ao invés de prestigiar meu casamento – você apenas seguiu para o próximo tópico: “Bem, acho que a gente não vai mais almoçar junto”. Quando eu abri a porta do carro para caminhar de volta para a estação de trem, você ofereceu: “Deixa eu levar você de carro de volta para a estação. Deixa essa ser a última coisa que eu faço por você.” Se havia qualquer dúvida de que você não havia compreendido o que havia me dito antes, você tinha acabado de deixar suas intenções claras, naquele momento.
Mãe e pai: ao não prestigiarem meu casamento, vocês me rejeitaram, e rejeitaram meu marido, que é minha família imediata. Eu, por minha vez, rejeito qualquer um que rejeite minha família – por dignidade e por respeito a minha família. Mas proponho uma solução.
Eu vou perdoar os dois pelo que fizeram, se vocês, na frente de toda a família (dos mais jovens aos mais idosos) admitirem que o que vocês fizeram foi errado; admitirem que vocês deveriam estar no casamento. Porque eu acho que o que vocês dois fizeram é vergonhoso. Vocês destruíram uma família. O que me deixa mais magoado é o que isso causou aos mais jovens na família – aqueles que eram jovens demais para saber ou compreender o que estava acontecendo. Aqueles que não conseguem chegar a outra conclusão além de “Patrick deve ser mau” ou “Ele deve ter feito algo errado porque a vovó não foi no casamento dele”. É nesse ponto que eu acho que vocês dois deveriam sentir vergonha, não eu.
Eu quero que todos saibam de tudo. E quem sabe essa noite eu finalmente vou conseguir dormir a noite inteira.
Com a melhor das intenções
Patrick
Infelizmente esse com certeza não é um caso isolado, nem uma raridade. Que essa carta sirva de exemplo das consequências das ações rancorosas de pais contra seus filhos homossexuais. Que eles pensem nos efeitos que suas ações terão sobre toda sua família quando decidem transformar um dia de alegria em um trauma na vida de seu filho ou filha. Que pais como esses aprendam com os erros de outros, antes de cometê-los com as pessoas que mais deveriam amar.
Impressionante como a mitologia cristã corrói a sanidade mental dos mais fracos psicologicamente.
Triste ver uma pessoa dessas, que tem uma máquina tão potente e complexa – o cérebro – não usá-lo, pois a gibiblia tomou seu lugar. Agora ela não pensa, apenas recita versículos.
Não entendo por que tantos gays fazem drama?
Os gays vai ser respeitado o dia que pararem de se fazer de vitimas.