Malafaia ameaça Marina e candidata faz revisão em plano de governo para os LGBTs

Não durou nem um dia inteiro a euforia da comunidade LGBT em relação ao programa de governo de Marina Silva, candidata do PSB à presidência da República, que previa a aprovação do casamento igualitário, a adoção de crianças por casais homoafetivos, a aprovação do PLC 122, que criminaliza a homofobia, entre outros pontos.

Bastou Silas Malafaia se manifestar no Twitter com seu já tradicional terrorismo eleitoreiro para que a coordenação da candidata que representa “a nova política”, “que não faz concessões”, fizesse uma errata eliminando quase todos os pontos que fazem o pastor subir pelas tamancas, especialmente o PLC 122, que segundo a interpretação de Malafaia, “bota pastor na cadeia”. Ou seja, ele mesmo acha que o que ele faz é crime, não promoção do cristianismo, o que apenas prova a importância da aprovação desse projeto de lei.

O que chama a atenção neste episódio é o tom intimidatório que Malafaia usa com a candidata, apelando para sua religião (“ou se agrada a Deus ou se agrada ao mundo”), dando-lhe um ultimatum até segunda-feira para ela se pronunciar sobre o assunto. Segundo ele, só então ele se decidiria sobre um possível apoio a sua candidatura no segundo turno. “Podem ficar certos que depois que Marina se posicionar sobre o programa do PSB, vou me posicionar sobre ela. Não sou covarde nem omisso”, diz o pastor que afirma estar aberto a ouvir a candidata.

Mas é óbvio que Malafaia não está disposto a ouvir. Está disposto a chantagear: “Se Marina não se posicionar até segunda, na terça será a mais dura e contundente fala que já dei até hoje sobre um candidato a presidente”, postou ele. Ou seja, é como se os fundamentalistas já tivessem se tornado os donos da República. Ou o próximo presidente faz o que eles mandam, ou não haverá governo. E quem não seguir a cartilha cristã, à qual Malafaia classificou no Twitter como “estilo de vida” e não religião, que se limite a engolir seco, na melhor das hipóteses.

Se Marina não se posicionar até segunda, na terça será a mais dura e contundente fala que já dei até hoje sobre um candidato a presidente.

— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 30 agosto 2014

Chegamos portanto ao ponto que venho debatendo desde que a nossa fragmentada comunidade LGBT começou a festejar Marina Silva como a grande redentora do Brasil. Faço a mesma pergunta que Malafaia, embora com a grafia correta da palavra “alto”: “O que vai falar mais alto para ela? Sua convicção política ou sua fé?” E acrescento: “Marina dará mais importância aos votos dos evangélicos ou manterá sua suposta defesa dos direitos dos LGBTs?” Acho que já temos a resposta, não, amiguinhos?

Nesta manhã de sábado, a coordenação de campanha publicou uma nota de esclarecimento em que diz, indiretamente, exatamente do que se trata a defesa dos direitos dos LGBT em qualquer programa de governo destas eleições, exceto pelo de Luciana Genro (PSOL) que foi a única a incluir desde o princípio em sua pauta esta agenda.

“Em razão de falha processual na editoração, a versão do Programa de Governo divulgada pela internet até então e a que consta em alguns exemplares impressos distribuídos aos veículos de comunicação incorporou uma redação do referido capítulo que não contempla a mediação entre os diversos pensamentos que se dispuseram a contribuir para sua formulação e os posicionamentos de Eduardo Campos e Marina Silva a respeito da definição de políticas para a população LGBT.”

Ou seja, isso é o que nossos direitos são: uma falha de editoração. E embora continue afirmando que a candidatura tem um compromisso com os direitos da comunidade, foi suprimido outro trecho delirante deste programa que, de tão lindo, dava mais desconfiança ainda, o que versava sobre a eliminação do fundamentalismo religioso do legislativo.

Afinal, como Marina Silva conseguiria fazer isso, sendo que o fundamentalismo está no cerne das religiões neopentecostais, que são contra tudo o que não seja elas mesmas, que fomentam a intolerância contra católicos, contra candomblecistas, contra umbandistas, contra a mistura racial?

E supondo-se que a candidata mantivesse seu plano como ele era. Como ela iria se eleger com a chantagem da bancada evangélica? E, caso eleita, como iria aprovar o casamento igualitário sem o apoio desta mesma bancada? E como iria aprovar outros projetos como a reforma política defendendo os LGBT e, ao mesmo tempo, dependendo do voto dos deputados pastores? Não neste país, pelo menos.

A questão que urge neste momento é: até quando a democracia brasileira será refém do fundamentalismo religioso? Até quando iremos misturar as duas coisas? Enquanto debatemos aqui o Executivo, esquecemos completamente do Legislativo, que neste ano deve ser tomado por um maior número deste oportunistas.

Portanto, meu apelo aqui vai para os verdadeiros cristãos. A mudança está em suas mãos, não nas nossas, que somos uma minoria sem voz, sem poder e massacrada. Não votem em pastor! Tirem o poder desse oportunista do Malafaia! Mostrem a ele que vocês servem a Deus, não a ele! E usem seu dom de pregar para ensinar seus irmãos de fé o que é o verdadeiro cristianismo, como me disse o pastor batista Mark Parnell, em entrevista na Comic Con. “A igreja tem machucado muita gente ao longo dos anos. E esse não é nosso papel. A igreja é um local de acolhimento e amor. Quando você diz que está certo e que o outro está errado, não há diálogo. Tem gente mais preocupada em impor seu ponto de vista que transformar as pessoas em discípulos de Cristo. Há uma diferença entre ser bom e estar certo.”