Opinião: Por que Silas Malafaia não é um pastor, mas um pilantra

"Quando digo que Malafaia é um pilantra, estou dizendo: ele não é um pastor. Ele não acredita em Deus nenhum, a não ser que consideremos a nota de cem dólares como uma divindade."

por Bruno Bimbi

A discussão não pode começar por outro lado, porque se não, não entendemos do que é que a gente está falando. Tentar um debate sério com o Silas Malafaia, apenas com argumentos e razões, não adianta. Até pode ser bom, para desconstruir muitas das asneiras que ele fala, mas será um fracasso se o formato da resposta for todo certinho, calmo e dentro dos cânones da divergência entre pontos de vista respeitáveis. Ele não tem um “ponto de vista” que seja “respeitável”!

Pedro Bial tentou fazer esse tipo de “debate” no seu programa da Globo e foi um fracasso — e ele sabe disso. Confrontado com pessoas sérias que falavam respeitosamente, de forma serena, expondo suas ideias sem ofender nem desqualificar, Malafaia venceu. E venceu porque impôs as regras do jogo: gritou, ofendeu, mentiu descaradamente, falou todo tipo de asneiras e barbaridades, interrompeu, não deixou os outros falarem, foi agressivo e mal-educado, vomitou ódio que nem comentarista do fórum de leitores da revista Veja com um megafone, fez um escândalo. Contudo, nada disso o prejudicou, porque ele o fez profissionalmente. Na televisão, o que rende é o espetáculo, e ele é mestre nisso. Graças ao formato do programa (que colocou um agressor e suas vítimas para debaterem de igual a igual) e ao desespero em que ficaram seus oponentes, ele conquistou a plateia fazendo um show dos horrores. E foi até aplaudido!

Quando digo que Malafaia é um pilantra, estou dizendo: ele não é um pastor. Ele não é um líder religioso. Ele não acredita em Deus nenhum, a não ser que consideremos a nota de cem dólares como uma divindade. Ele não é teólogo e nem é capaz de fazer uma análise minimamente séria dos textos bíblicos, muito menos ainda uma contextualização histórica, cultural ou filosófica da tradição judaica milenar do Antigo Testamento ou dos relatos fundacionais do cristianismo. Ele não acredita em nenhuma das merdas que fala. Ele nem sequer deve ser, realmente, homofóbico.

Provavelmente ele nem tenha preconceito contra gays! Ele simplesmente interpreta um personagem e ganha muito, muito dinheiro, e muito poder e influência política fazendo isso, como tantos outros da mesma escola. Ele consegue que a prefeitura carioca pague sua marcha do Ku Klux Klan antigay e que o governador e o prefeito o acompanhem no palco. Ele consegue ser temido por candidatos presidenciais e até os ameaça pelo Twitter. Ele indica candidatos a deputado, a vereador. Ele é milionário. Ele e a turma da qual faz parte, que hoje controla o Congresso, são atores, vigaristas profissionais, empresários de um falso ódio sustentado numa falsa fé e nas mais clássicas leis da ciência política e da psicologia social. Então, não adianta lidar com eles como lidaríamos com alguém que fosse um homofóbico convicto, sincero, que realmente odeia os LGBT ou tem falsas certezas sobre a sexualidade humana, ou que realmente acredita que existe um ser superior barbudo que é “contra a homossexualidade”. Ele está cagando para tudo isso! Apenas interpreta o papel!

Se, para multiplicar o lucro como pães e peixes, Malafaia precisasse dizer que as pessoas que gostam de música sertaneja irão para o inferno, porque a única música aceita por Deus é a bossa nova, ou mesmo o samba ou o funk, ele construiria uma pseudoteologia da burrice para isso; acharia três ou quatro passagens bíblicas que, numa interpretação bem tosca, justificassem a rejeição de Deus à música sertaneja, e passaria os sete dias da semana atacando o Luan Santana, ou até o Zezé de Camargo e o Luciano, com a mesma fúria com que hoje ataca o Jean Wyllys, buscando holofotes, palanque, ibope. Buscando ser apresentado pela mídia como alguém que tem uma opinião legítima — radical, mas legítima — a respeito da música brasileira. E tentando se transformar no líder de uma legião de analfabetos funcionais que odeiam a música sertaneja, ficam extasiados ouvindo suas pregações, esvaziam o bolso enchendo a conta dele e votam nos candidatos que ele indicar para que essas melodias de Satanás não tomem conta do Brasil.

O Malafaia é um pilantra. E a resposta que o Boechat deu a ele no rádio, em rede nacional, chamando-o com esse nome e alguns outros — “idiota”, “paspalhão”, “tomador de grana de fiel”, “explorador da fé alheia”, “otário”, “figura execrável e horrorosa”, “charlatão que usa o nome de Deus para tomar dinheiro” — foi a melhor resposta que ele já recebeu.

Não apenas porque todos os termos usados pelo jornalista da Band são precisos e certeiros, mas principalmente porque o tom usado por ele foi exatamente o necessário, o imprescindível para responder a um vigarista como Malafaia. E a melhor parte da fala de Boechat foi, paradoxalmente, aquela que mais está sendo criticada por alguns ativistas da correção política que jamais conseguiram atingi-lo com sua perfeição semântica: “Vai procurar uma rola!”, disse o jornalista, e repetiu várias vezes. “Vai procurar uma rola e não enche o saco!”. Bravo!

Boechat lavou nossa alma e conseguiu, em poucos dias, mais de QUATRO MILHÕES E MEIO de visualizações do vídeo com o qual foi divulgada sua resposta no YouTube, mais outros milhares, talvez milhões, nos outros formatos em que a fala dele viralizou nas redes sociais. Conseguiu centos de memes engraçadíssimos zoando o pastor e o passarinho que também viralizaram nas redes — e todo o mundo está rindo do pilantra. Zueira não tem fim! Se a frustrada campanha de Malafaia contra os anúncios d’O Boticário (belíssimos anúncios que a galera da correção política também criticou desde sua superioridade moral e pureza ideológica) tinha significado já uma dura derrota para o pilantra, da qual tentou se recompor atacando um jornalista famoso, a resposta do Boechat foi nocaute!

Então, por que a polêmica? Alguém acredita, realmente, que o que o Boechat quis dizer foi que o Malafaia é uma bicha enrustida que precisa de rola? Todo o mundo sabe que não é. Foi a resposta de um heterossexual cisgênero para outro, querides! Acham que o Boechat quis dizer que “rola soluciona tudo”, ou que os tomadores de grana como Malafaia o são por falta de rola? É óbvio que não, e se esses sentidos aparecem na leitura de muitas pessoas, a culpa não é de Boeachat, mas da cultura machista e misógina em que ainda vivemos, que essa semana recebeu um soco como há tempos não recebia. Qualquer ativista com um mínimo de vontade de contextualizar, de focar na força pragmática do enunciado, de se desprender da necessidade patológica que parte da esquerda tem de atacar os aliados e condená-los à fogueira por uma vírgula, aliás, qualquer pessoa com um pouco de bom senso entenderá facilmente que mandar Malafaia procurar uma rola é calar a boca dele!

Porque ele está acostumado a responder a pessoas educadas e sérias com uma enxurrada de agressões verbais, gritos e desqualificações. E, de repente, ficou nu, desarmado, porque não foi mais tratado mais como pastor, como teólogo, como homem de Deus, como religioso, como portador de uma opinião tão respeitável como as outras, que até tem o direito de debater de igual a igual com suas vítimas. Pela primeira vez, mandaram ele procurar uma rola. E não foi qualquer um: foi um dos jornalistas com mais ibope do Brasil.

Acabou. Game over.

E por que uma rola? Porque ele passa os sete dias da semana atacando os que gostamos de rola. Sim, gostamos de rola! Qual é a vergonha de falar isso? Não enche o nosso saco, Malafaia. Vai procurar uma rola se quiser, e se não quiser, cala a boca. Ponto final. Você não é ninguém. Até que enfim alguém fala isso claramente e consegue ser ouvido.

Por isso, quem não gostou, por um monte de razões que explicará num complicado texto acadêmico com citações de todos os próceres das ciências sociais, pode ir procurar uma rola também. Sacou? E por favor não encha o saco, que aqui estamos festejando que o pilantra se fodeu. Pronto, falei.

Bruno Bimbi é jornalista, doutorando em estudos da linguagem na PUC-Rio, autor do livro Casamento igualitário (Garamond, 2013) e integrante da Executiva Estadual do PSOL-RJ.

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25 comentários

Fábio Miranda

Parabéns, nunca um texto resumiu tão perfeitamente tudo o que eu penso desse Malafaia!

Leandro

srsrsr Vc é um alienado que busca alienar com um discurso bem montadinho fazendo o ridiculo paracer logico e o logico uma piaa. Tenho pena do autor do texto, que a uinica coisa que consegui provar é que é alfabetizado

ADRIANA LOPES

Como é mesmo o nome do Doutor? ah ! Bimbi!…DOUTOR Bimbi.. , o DOUTOR tem um vocabulário assim como seu coleguinha Boechat de alto nível!…muito pertinente pra um DOUTORANDO em linguagem ,meus parabéns!…gente como o DOUTOR só me enche de orgulho e engrandece o nosso querido país ! que fofo !!! coração…coração…

Luiz Fernando Dias

Não costumo comentar, e sou neutro em relação a posição do Malafaia,pra mim é irrelevante.

Agora o que é bem odioso é desrespeitar uma mulher que postou sua opinião de forma ordeira. Geraldo, você não é homem.

Paulo

Sua suposta intenção em relacionar o sobre nome do autor do texto com o famoso personagem do desenho animado já demonstra seu caracter e personalidade preconceituosa e agressiva. Quer falar de linguagem culta mas começa com esse tipo de conversa. Agora me pergunto uma pessoas como você faz o que aqui neste site?

James Cimino

Na verdade quem usou a imagem do Nemo, que se tornou um meme depois do esculacho que o ROLAfaia tomou do Boechat fui eu, que editei o texto. E achei perfeita.

All

Esses fans do pastor sao idiotas, nao enxergam um palmo diante do nariz. Merecem ser enganados! Pois se ate Hitler seduziu multidoes, porque esse merda tambem nao o faria? Otimo texto Bimbi! E voces, idolotras do Mala, nao precisam fazer o esforço de tentar entender um texto desses. Paguem seus dizimos e se abstenham de pensar, ja que essa nao parece ser uma grande habilidade de voces.

paulo pereira

malafaia é um idiota,que se acha o tal, não passa de mais um charlatão, ganhando dinheiro em cima de jesus. vai catá coquinho! você só ta na mídia porque o brasil é desinformado.DEMAGOGO!

Fabio Reginaldo de Paula

Este Pastor, que se credita como lider religioso, na verdade ele é sim um exemplo, mas um exemplo de como não se portar na religiosidade.
Pois esta na Biblia, Amar Deus sobre todas as coisa,e Amar o próximo como a ti mesmo.
E nem uma destas ele pratica, então ele não é lider e nem exemplo pra nada e ninguem.
Adorei seu texto.

Natan

Perfeito texto. Sempre digo q esse Malacheia deve ser até mesmo ateu…

André

Bimbi, com um nome desses e o ódio que você tem ao Malafaia, só tem uma explicação: você é um tremendo boiolão.

Marcio Caparica

Vou dizer a você e qualquer outro que vier com essa argumentação refinada que chamar qualquer um dos autores desse blog de boiolão em nada nos ofende, somos todos boiolões mesmo. Tremendas.

Benny

Também sou ” boiolão” e o Bimbi me representa.Vá procurar vc também uma rola, André.É uma delícia!!!

James Cimino

Nossa, que gênio! Descobriu que um blog LGBT é feito por boiolas. UAU! Pena que você não pode falar isso do Boechat, né? Mas se vc curte dar dinheiro pra pilantra, manda ver.

Alexandra

⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Parabéns pelo texto! Gostoso de ler do início ao fim!

marília

esse texto é muito maravilhoso. não tem nada oq discordar. obviamente aplaudo toda a rechaçação (acho q inventei essa palavra) feita ao “””””pastor””””” e obrigada tbm por salientar a “necessidade patológica que parte da esquerda tem de atacar os aliados e condená-los à fogueira por uma vírgula”. beijos.

msfrio

Vc. Ta falando um monte de merda. Seu ponto de vista esta sendo uno e pobre, vc fala do que nao tem conhecimento.

Marcos

Se não derem jeito nesse pilantra esse país vai virar uma República de Nazievangélicos, igual ao dos fundamentalistas mulçumanos.

Leonice conceião silva

Hum…perda de tempo…achei q fosse um texto interessante,autêntico..a mesmice de sempre…ódio contra os pregadores da verdade,já tão comum,por aqui…e ainda acha quem publique essa idiotice…francamente.

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