Amanda Nunes

Amanda Nunes: “nunca tentei mudar, sabia que seria campeã do jeito que sou”

Conheça a trajetória da lésbica brasileira que conquistou o cinturão dos pesos-galo no UFC

por Marcio Caparica

O Brasil adora seus campeões esportivos. Basta um atleta se destacar em um esporte – seja futebol, tênis, automobilismo ou MMA – para tornar-se um ídolo das multidões, disputado por patrocinadores. A não ser que essa atleta seja mulher. Nesse caso, o barulho é bem, bem menor (Marta que o diga). Se essa atleta é lésbica, então, o público brasileiro meio que faz que não vê. E quando ela aparece abertamente com a namorada? O orgulho do “braziu-ziu-ziu” acha melhor passar batido.

Confira o áudio da entrevista com Amanda Nunes!

No dia 30 de dezembro Amanda Nunes, brasileira, entrou no octógono do UFC 207 para defender seu cinturão da categoria peso-galo. Sua oponente, Ronda Rousey, era a ex-campeã da categoria, a atleta mais bem-paga do UFC, e a principal responsável pela imensa popularidade da divisão feminina do MMA nos últimos anos. Foi nocauteada em 48 segundos. “Eu sabia que ia ser no primeiro round, falei nas entrevistas que ia terminar muito rápido”, lembra Nunes durante entrevista exclusiva ao LADO BI. “Foi tudo mentalmente planejado. Só fiquei esperando para me divertir naquela luta.”

A namorada de Nunes, Nina Ansaroff, entrou no octógono para comemorar. A campeã sabe que nem todos estão confortáveis ao ver um casal de lésbicas celebrando uma vitória para (literalmente) o mundo ver, mas não se importa. “Leva mesmo um tempo para as pessoas se adaptarem, mas faço questão de dividir esse momento da minha vida, abrir meu coração e mostrar que sou feliz, muito feliz. Mostrar que existe amor e respeito. Quero ajudar a acelerar esse processo e fazer com que as pessoas vejam que nosso amor é igual a qualquer outro.”

Nunes e Ansaroff, também lutadora de MMA, estão juntas há quatro anos. As duas se conheceram (onde mais?) numa academia de lutas nos Estados Unidos. “A gente passa 24 horas juntas, eu não enjoo de estar ao lado dela. Nina é minha namorada, minha amiga, minha parceira de treino, cuida de mim”. Ansaroff abrigou a namorada recém-chegada aos EUA em seu primeiro ano no país, um apoio essencial na carreira da lutadora brasileira.

Nascida na Bahia, ela recorda-se que apaixonou-se pela primeira vez por uma menina aos seis anos de idade. “Mas nunca tive coragem de contar a ninguém”, recorda-se. “Fui crescendo escondida, até que, aos 15, 16 anos, decidi que chega, não podia mais viver assim. Eu tenho ser quem eu sou de verdade.” Depois de conferir o que Nunes postava nas redes sociais, sua irmã veio conversar com ela. “Foi difícil no começo, mas todo mundo acabou compreendendo e aceitando. Foi minha irmã quem contou para minha mãe.”

Nunes começou a lutar no MMA há nove anos. Desde o início decidiu que nenhum obstáculo lhe impediria de ser campeã. “Eu dormia na academia para não gastar aquele dinheiro de transporte. Minha irmã e minha mãe me ajudavam, às vezes dormiam lá comigo. Eu tive a sorte de sempre ter muitas pessoas que acreditavam em mim.” Não demorou muito para Amanda chamar a atenção do treinador Edson Carvalho e ser convidada para treinar na filial norte-americana de sua academia.

Nunes saiu do país em 2010. “Eu tinha 20 dólares no bolso quando cheguei nos Estados Unidos”, continua. “Estava nevando, um frio terrível, mas mesmo assim continuei focada, me preparando. Em três meses fui convidada para substituir uma lutadora no Strikeforce, um campeonato profissional. Eu já estava pronta, apenas esperando a oportunidade aparecer.” Em 2013 ela lutou no UFC pela primeira vez. Em 2016, conquistou o cinturão peso-galo feminino.

Em um esporte tipicamente masculino como o MMA, uma atleta como Nunes se acostuma a enfrentar homens nos treinos. Ela tira isso de letra. “O jiu-jitsu é uma arte suave, em que a técnica conta muito”, explica Nunes. “Como eu treino há muito tempo, minha técnica é mais refinada. Acabo finalizando muitos homens, até os professores  se surpreendem.” Os lutadores com quem convive, afirma, a tratam de igual para igual. “Eu prefiro treinar lutando contra homens. Afinal, depois de vencer aqueles marmanjos, estarei mais preparada para lutar contra mulheres.”

Infelizmente a mídia ainda tem suas preferências. Foi gritante a maneira como a divulgação do embate entre Nunes e Rousey abusou da imagem da norte-americana, apesar de que quem estava defendendo o cinturão era a brasileira. “O mundo inteiro viu isso, foi um arrependimento grande do UFC”, considera. “Dana White [proprietário do campeonato] hoje fala bastante que foi um erro. Mas tinha que ser daquela forma, para que eu brilhasse apesar de tudo.”

Amanda Nunes durante entrevista para o LADO BI

Amanda Nunes durante entrevista para o LADO BI

As novas responsabilidades de campeã com relação às marcas e ações de marketing, no entanto, não vão transformar seu jeito de ser. “Depois de Ronda Rousey, o UFC exige que você cuide mais de sua aparência, mas eu decidi continuar no meu estilo mais tranquilo”, afirma Nunes. “Eu sempre acreditei que seria campeã assim. Eu sabia que conquistaria meu espaço do jeito que sou. O mais importante é a luta, eu sou atleta. Eu não preciso me forçar a ser algo diferente.”

Com 14 vitórias e 4 derrotas em seu cartel, Nunes aproveita do sucesso e faz planos para o futuro. “Estou muito bem financeiramente, graças a Deus. Hoje posso viver em paz, ajudar minha família e investir no meu corpo, que é minha principal ferramenta.” Entre seus planos está o de ter um filho com Ansaroff no ano que vem (“adotar, quem sabe, mas Nina quer engravidar, o sonho dela é ser mãe”). E, principalmente, o de montar uma academia de MMA exclusiva para mulheres, para ajudar outras garotas a trilhar os caminhos que abriu no mundo das lutas. “Eu sei que posso ter muita influência nisso. Quero ajudar as meninas a chegarem lá mais rápido, ver as meninas saindo na porrada!”

Tomando-se o exemplo dos lutadores homens (que costumam competir até depois dos 40 anos), pode-se apostar que Nunes, hoje com 28, tem uma longa carreira pela frente. Se depender apenas da determinação dessa atleta, ela e suas futuras pupilas terão muito, mas muito sucesso. Resta o público brasileiro dedicar às campeãs de seu país a mesma admiração que sente pelos homens. Infelizmente a luta contra o machismo em nossa cultura é um embate que nem mesmo Amanda Nunes é capaz de vencer no primeiro round.

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6 comentários

Silvio

Acho que a mulher , digamos, masculinizada, genética masculinizada, deve lutar com homens e não com mulheres feminilizadas, menos explosivas e fortes.
Fica muita desvantagem, e voce vê um homem ali, ou quase homem. Tem que separar.

Eugenio Candido Rodrigues

“Se essa atleta é lésbica, então, o público brasileiro meio que faz que não vê. E quando ela aparece abertamente com a namorada? O orgulho do “braziu-ziu-ziu” acha melhor passar batido.”. Esse “publico” é o ignorante, é o preconceituoso por natureza, não o publico do MMA. Quem acompanha a trajetória da Amanda no UFC, sabe que ela merece ser a campeã, torce por ela, sabe que ela é lésbica e trata isso de forma natural. Ela tem muitos fãs não só no Brasil como nos EUA por ser uma das melhores lutadoras da atualidade.

Roberto Mello

DENTRO DO ARMÁRIO OU FORA. Com certeza as pessoas são livres paga altos impostos, sigam e vivam eternamente a Vida.
Parabéns campeã. E todos e todas que vivem no anonimato.

FERNANDO RODRIGUES

“Conheça a trajetória da lésbica brasileira” .. nojo de vcs.. tratam a Amnada como se fosse uma aberração. Falta de respeito com a pessoa e com atleta. Nós que gostamos de MMA conheçemos a Amnda E, NÃO PRECISAMOS DE MATÉRIAS DESSE NÌVEL.. BAIXISSIMO.

Danilo Silva Amorim

Entrei no site e li a matéria, achei legal, gostei do título e não vi nada de errado em mencionar a palavra lésbica, foi uma atitude profissional e honesta e honrada, lésbicas existem e o autor fez muito bem em colocar esse título, pois através do título fiquei curioso e cliquei na matéria e não sabia que essa campeã era lésbica, continuei lendo e vi a tragetória dessa grande lutadora em contar como se revelou sua sexualidade, uma história linda e emocionante, parabéns pela matéria, quanto mais usarmos as palavras lésbicas e etc… Mais natural é normal fica na boca do povo. Parabéns por quem escreveu a matéria e parabéns a Amanda, torso pelo sucesso dela, ela é muito linda e fofa, um exemplo de inpiração e orgulho para os LGBTs.

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