HIV - Homem oferecendo preservativos para o parceiro

Por que os gays têm mais chance de contrair HIV?

Homens que fazem sexo com homens têm sim maior risco de contrair HIV, mas isso se deve a fatores biológicos, não à homossexualidade

por Marcio Caparica

Adaptado do artigo de Elizabeth Boskey para o site VeryWell.com

O problema do HIV está longe de ser resolvido, principalmente aqui no berço esplêndido. Um novo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) divulgado em 12 de julho mostrou que as novas infecções entre adultos no Brasil subiram de 43 mil para 44 mil  entre 2010 e 2015 — aumento de 2,3%. No mundo, as novas infecções tiveram baixa de 4,5%, passando de 2,2 milhões em 2010 para 2,1 milhões em 2015.

O nível de transmissão do HIV por vias sexuais entre homens que fazem sexo com homens é substancialmente maior do que o de heterossexuais. Segundo estatísticas recolhidas pela Unaids em 2014, entre 0,4% e 0,7% da população geral está vivendo com HIV; entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) essa proporção cresce para 10,5%. Isso se deve a vários fatores biológicos, comportamentais e sociais:

  • Estima-se que, em média, o risco de transmissão do HIV durante o sexo anal seja 18 vezes maior que o risco de transmissão durante o sexo vaginal. O risco de se contrair HIV durante um ato de sexo anal sem proteção fica por volta de 1,4%.
  • A variação de papeis sexuais nas relações sexuais dos homens gays aumenta o risco de transmissão. Homens que praticam sexo anal receptivo (ou seja, são os “passivos”) sem proteção têm um risco maior de contrair HIV. Homens que praticam sexo anal insertivo (ou seja, são os “ativos”) sem proteção têm maior probabilidade de transmitir o HIV. Esses dois fatores em conjunto fazem com que o vírus se espalhe entre homens gays de uma maneira que não se observa entre parceiros heterossexuais. Em casais heterossexuais, o HIV é transmitido com maior frequência do parceiro masculino para o parceiro feminino.
  • A homofobia e outras formas de discriminação legal e social contra homens gays tornam mais difícil o acesso à saúde. Isso pode causar atrasos no diagnóstico e no tratamento da infecção do HIV. As pessoas costumam ter maior poder de transmitir o vírus para outras pessoas durante a fase aguda da infecção, e o tratamento com medicamentos antirretrovirais reduz quase que totalmente o risco de transmissão do vírus. Portanto, quanto maior a demora para iniciar o tratamento antirretroviral, maior o risco de transmissão entre homens que fazem sexo com homens.

Vale apontar, no entanto, que em termos absolutos, a maioria das transmissões do HIV por via sexual acontece por meio de relações heterossexuais.

Como lidar com o estigma de que a Aids é “doença de gay”

Em julho de 2012 foi publicado um artigo numa edição especial da publicação médica britânica The Lancetentitulado “HIV in Men who have Sex with Men” (“O HIV em homens que fazem sexo com homens”). Em pesquisa inovadora, o dr. Chris Beyrer e sua equipe calcularam que entre 80% e 90% da epidemia entre homens gays desapareceria se o nível de transmissão do sexo anal fosse o mesmo que o do sexo vaginal.

Simplesmente a segregação de papeis sexuais faria com que os números de soropositivos (hipoteticamente) caísse entre 20% e 50%. Esses dois fatores combinados faria com que o número de infecções entre gays se reduzisse em até 95%. Ou seja, a causa do risco maior de se contrair HIV entre gays não se deve ao “comportamento homossexual”. Se deve à biologia.

Maior acesso a profissionais de saúde treinados para não julgarem os pacientes por sua homossexualidade também ajudaria. Gays sentirem-se seguros para discutir seus riscos sexuais com seus médicos pode fazer muita diferença. Nessas condições, eles realizam o exame de HIV com maior frequência, obtêm acesso ao tratamento mais cedo, e reduziriam o risco de infectar seus parceiros, e, ao mesmo tempo, melhorariam a própria saúde. Infelizmente, a recomendação para que se realize testes universais de HIV (para todes, não apenas para homens gays) ainda não teve muita repercussão. Poucos médicos e clínicas chegaram a realmente implementar essas medidas.

Felizmente, há sinais de que a situação pode melhorar no futuro. Depois que pesquisas demonstraram que soropositivos com carga viral indetectável não transmitem o vírus para seus parceiros, adotou-se o modelo de tratamento como prevenção, ou seja, tentar reduzir a carga viral do maior número possível de soropositivos, para que o vírus não se espalhe mais. O Brasil passou a oferecer tratamento para todas as pessoas que vivem com HIV, independentemente de seu estado imunológico (contagem de CD4).

A Unaids tem como meta que, até 2020, 90% das pessoas vivendo com HIV estejam diagnosticadas; destas, que 90% estejam em tratamento; e que, das pessoas em tratamento, 90% apresentem carga viral indetectável). Se isso for alcançado, a epidemia do HIV estará sob controle.

Fontes: Beyrer, C., Baral, S.D., vanGriensven, F. Goodreau, S.M., Chariyalerstak, S., Wirtz, A., & Brookmeyer, R. (2012) Global epidemiology of HIV infection in men who have sex with men. The Lancet. 380(9839):367-377 Millett, G.A., Peterson, J.L., Flores, S.A., Hart, T.A., Jeffries, W.L., Wilson, P.A., Rourke, S.B., Heilig, C.M., Elford, J., Fenton, K.A>, & Remis, R.S. (2012) Comparisons of disparities and risks of HIV infection in black and other men who have sex with men in Canada, UK, and USA: a meta-analysis. The Lancet. 380(9839):341-348

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11 comentários

Newton César

Essa reportagem é a maior idiotice. De acordo com as pesquisas, o número de casos de HIV tem maior expressividade entre casais heterossexuais; depois, vêm os bissexuais; e, em último lugar, vêm os gays. =/

Liah

Vc não entendeu eu falei de gays tipo os da reportagem do Fantástico q passam aids de graça associado a outros q tm esse comportamento de risco roleta russa, q depois da putaria vão recorre ao sus abarrotando ainda mais essa demanda, se outras pessoas q realmente sofrem um acidente ou um descuido sem querer eles tm todo o direito de recorrer a esse remedio agora outras q fazem de proposito diversas vzs isso eu acho errado e criminoso. Inclusive tm um cara q em dois meses foi lá atras desse remedio 8 vzs na 9 os enfermeiros falaram q não tinha o remedio depois disso ele nunca mais foi lá.

Liah

Legal porq vc não fala dos gays q ficam transmitindo aids de proposito inclusive com reportagem no Fantástico, q visibilidade né? sem contar em gays q transam e vão correndo no Emilio Ribas pegar aql remedio, vc passa lá em uma segunda da de manhã q vc ver a cena. Seja honesto.

Marcio Caparica

Nós falamos sobre a reportagem muito errada que o Fantástico fez na época em que ela foi ao ar: http://ladobi.com.br/2015/03/30-fatos-hiv-aids-fantastico-clube-carimbo/

E o Emilio Ribas está lá para atender as pessoas que dele precisam, se as pessoas correm para o Emilio Ribas na segunda-feira é porque têm consciência de que podem evitar uma infecção. Pior são os muitos outros (heterossexuais e homossexuais) que não vão para o Emilio Ribas porque acham que pegar HIV só acontece com os outros. Não há nada de errado em ir no Emilio Ribas buscar PEP na segunda-feira. Que pensamento pequeno esse seu.

André

Marcio, num outro post seu, vc diz que o risco de transmissão no sexo oral, é muito baixo. Tive uma experiencia, pratiquei por menos de um minuto e me arrependi. 19 dias depois fui fazer um teste rápido, e deu não reagente para hiv, porém sempre fico com dúvida. O que faço?

Marcio Caparica

Pode já acreditar no teste, porque realmente é baixo. Por via das dúvidas, faça outro daqui a dois meses. Mas não há razão pra perder o sono.

André

Legal cara agradeço a resposta. Não sei se o teste nesse período que fiz já Valéria pra alguma coisa. Acontece que sou casado e ai fica difícil segurar mais dois meses. Uns dizem que 15 dias ja começa a aparecer, outros colocam 30 dias. A gente fica perdido. Se não é pra perder o sono, então vc crê que vida normal?

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