Patrícia Abravanel bate o recorde de preconceitos por minuto no horário nobre

Em pouco mais de três minutos, entre risos e sarcasmos, Patrícia Abravanel conseguiu atacar todas as minorias sexuais e de gênero. Com isso, o canal da família brasileira só faz afirmar os preconceitos que ainda estão arraigados em nossa cultura

por Marcio Caparica

Nesse domingo, 8 de maio, Patricia Abravanel e seu pai conseguiram empilhar todos os preconceitos mais comuns contra LGBTs em menos de três minutos do horário nobre brasileiro. Muito sorridentes, cercados de outros jurados que, entre muitos risos e caras de espanto, achavam aquilo tudo muito razoável, os donos do SBT demonstraram que, infelizmente, ainda há muito pelo que se lutar quando o assunto é a aceitação de lésbicas, homossexuais, bissexuais e transexuais.

Não sou contra o juradismo, sou contra dizer que é normal.

A discussão começa quando Seu Sírvio levanta a questão do filme Carol, que, diz logo de cara, é “uma porcaria, duas mulheres se amando, não tem história” – porque, aparentemente, amor entre homem e mulher conta como história, mas entre duas mulheres não. E daí levanta a bola para sua filha evangélica: “você é contra ou a favor das mulheres que se amam?”. Amor não se é contra nem a favor, ele simplesmente existe. Duas mulheres que se amam é algo tão válido quanto um homem e uma mulher que se amam. Carol e todas as outras lésbicas não precisam de sua aprovação ou permissão, muito obrigado.

Não sou contra o evangelismo, sou contra dizer que é normal.

Patrícia Abravanel é rápida em desviar da pecha de evangélica, mas tira do bolso um artigo de revista que diz que hoje um terço dos jovens se relaciona com pessoas do mesmo sexo (“Não é possível!”, exclama Sílvio), “mesmo sem saber se a opção deles é real”. Bem, para começar, isso não é um sinal da degeneração dos tempos modernos – os jovens sempre experimentaram relacionar-se com pessoas do mesmo sexo, isso apenas não era documentado. Seja os garotos que fazem troca-troca ou campeonato de punheta, as meninas que dão selinho, os rapagões que comem a bichinha do bairro “por falta de algo melhor” ou tantas outras tradicionais variantes de homoafetividade na juventude, isso sempre aconteceu, não é algo “de hoje” como Patrícia Abravanel quer argumentar.

Não sou contra o heterossexualismo, sou contra dizer que é normal.

“Eu acho que o jovem é muito imaturo para saber o que quer.”  Esse é um dos argumentos mais capciosos dos preconceituosos que querem pagar de bonzinhos. Que atenciosos, estão preocupados com os jovens inocentes. Acontece que a única vez que se questiona se o jovem é imaturo para tomar uma decisão quanto a sua sexualidade é quando essa decisão é pela homossexualidade. Se seu filho Pedro, em alguns anos, sair beijando meninas, ela não vai achar que ele é muito imaturo para saber que gosta de meninas, sentar com o garotinho e questionar se ele não acha melhor esperar um pouco, olhar para outros garotos com atenção e ver se não curte nenhum também. Isso não passa de uma maneira de tentar disfarçar o preconceito contra a homossexualidade.

Não sou contra o sexismo, sou contra dizer que é normal.

(“Que Pedro? O meu neto? Não fala isso aqui!”, Silvio Santos dispara quando a discussão sobre a homossexualidade se aproxima do nome do herdeiro. Porque, né, vai que pega.)

“Eu acho que a gente tem que ensinar para os jovens de hoje que homem é homem, e mulher é mulher. E se por acaso ele tiver algo dentro dele que fale diferente, aí tudo bem.” Como se não fosse isso que a sociedade vem ensinando para todos os jovens há séculos – experimenta mandar o filho para a escolinha com um tutu de bailarina cor-de-rosa. Patricia Abravanel comete um dos erros mais comuns na compreensão da sexualidade, a de se confundir sexo, gênero e orientação sexual. A seus olhos, um homem homossexual não é “tão homem” quanto um homem heterossexual. Homem que “é homem” gosta de mulher. De repente, ela acha que homem “de verdade” é alguém como o bonitão da foto abaixo, o modelo Ben Melzer, capa da Men’s Health alemã:

ben-melzer

Acontece, é claro, que esse homão nasceu com o sexo feminino, e fez sua transição com 23 anos. Patrícia Abravanel gostaria de questionar se ele é homem?

“Hoje a gente está nessa de dizer que tudo é normal, tudo é bonito, e o jovem pode acabar fazendo coisas que ele pode se arrepender depois.” Mais uma vez, essa preocupação toda com o arrependimento dos jovens só vem quando acompanhada da homoafetividade. Durante toda a vida as pessoas fazem coisas das quais se arrependem: cortam o cabelo, fazem tatuagens, gastam mais do que deviam, casam-se, investem dinheiro. Mas a única coisa que pode deixar uma nódoa da qual Patrícia Abravanel sente-se na obrigação de defender a juventude é ser gay ou lésbica. E vamos ler direitinho o que ela disse? Quando a herdeira diz “Nessa de dizer que tudo é normal, tudo é bonito”, o que ela realmente está dizendo é que acha feio ser homossexual.

Não sou contra o capitalismo, sou contra dizer que é normal.

“Eu sou contra ficar propagando em rede nacional que isso é algo super… normal.” O velho temor dos preconceituosos de que as crianças vão “aprender” a serem homossexuais vendo algo na TV. Obviamente, dado o bombardeio incessante de heterossexualidade em toda nossa cultura popular, se os meios de comunicação fossem capazes de moldar a sexualidade de quem quer que seja, não haveria homossexuais no mundo. Esse poder a mída não tem. Mas ela tem o de propagar ou dissipar preconceitos. Infelizmente, nesse caso, a TV está sendo usada para propagá-los.

E daí, claro, vem a cereja do bolo:

Eu não sou contra homossexualismo, sou contra dizer que é normal.

Não é inocência. Patrícia Abravanel sabe que homossexualismo é chamar a homossexualidade de doença. Mas, dado o que ela disse até agora, não é mais surpresa.

Não sou contra o falocentrismo, sou contra dizer que é normal.

“Mulher com mulher não é assim tão… legal… eu acho. Não tem aquele brinquedinho que a gente gosta bastante.” “A gente” quem? Sim, tem muitas mulheres que adoram pênis (ou pau, pinto, caralho, vara, benga, cacete, todas essas palavras que Patrícia Abravanel fica sem graça de dizer). Mas tem muitas que não gostam. E muitas que não gostam só de pênis. Sexo é mais que a penetração do pênis na vagina – bem mais.  Apesar do que dizem os evangélicos como Patrícia Abravanel, a função principal do sexo não é fazer filhos, mas sim o prazer dos parceiros – não dá pra negar o fato de que 99,99999% do sexo que se faz na face da Terra não tem a intenção de gerar filhos. Pelo contrário, essa fixação na penetração do pênis é a causa da falta de prazer de muitas mulheres, que acham que têm algum problema porque não conseguem alcançar o orgasmo apenas com a pica encantada de seu parceiro. Mas, no mundo limitado da apresentadora, provavelmente sexo sem penetração não é sexo. Ela também deve achar que uma mulher que só fez sexo anal continua sendo virgem.

Não sou contra o televisionismo, sou contra dizer que é normal.

Mas qual seria o problema de uma fala de alguém claramente desinformada como Patrícia Abravanel? Bem, ao contrário do que a jurada pensa, muitas crianças e jovens que estão assistindo o Programa Silvio Santos na noite de domingo já sabem, sim, que são homossexuais, ou transexuais. Mais ainda, seus pais, que estão junto na sala, também já sabem. E talvez estejam querendo negar. E as crianças, esconder. Quando veem alguém que, bem ou mal, respeitam e tomam como referência dizer que aquilo que são “não é normal”, o jovem se afunda um pouco mais de vergonha. O pai se pergunta onde é que errou – afinal, em algum ponto deixou de ensinar que “homem é homem e mulher é mulher” (será que deixou o filho assistir muita Rede Globo?). Quando destrói a autoestima de tantos LGBTs entre risos e piadas, o “canal da família brasileira” só faz perpetuar preconceitos. E não, preconceito não é apenas opinião.

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18 comentários

DVV

Adoro o programa Lado Bi, quando dá venho ler as reportagens que vocês falam no programa. Realmente, um artigo sambador! Obrigada pelo trabalho de vocês. Muito amor e sucesso para vocês.

Marcos

Não entendo essas emissoras de televisão.
Se de um lado usam a figura dos gays (há décadas) para alavancar audiência (novelas da globo, casos de família SBT, Luicana Gimenez rede-tv, etc), por outro agem com total desrespeito sobre algo que não tem o mínimo de conhecimento.
Acho que o movimento deveria processar essas emissoras hipócritas e exigir direitos pelo usos da figura do homossexual na TV…
Já pensaram nisso?
Sociedade hipócrita é igual a empresas piores.

Desirèe

Quando uma mulher comenta que ser lésbica não faz sentido pq “falta um brinquedinho”, logo imagino que a vida sexual dela é uó.

Cintia

Na mesma bíblia que ela prega fala sobre sexo antes do casamento, sobre a língua ferina, sobre o julgamento, provavelmente versículos que ela não leu.

Maria José Nia

PRECONCEITO É CRIME HEDIONDO! PRECONCEITO É TÍPICO DE GENTE DE MENTE PODRE, ATRASADA, PRIMITIVA E ANTI CIVILIZADA.

Lela

Parabéns pelo texto Márcio!!!
… acrescento que aprendi com amigos que não é opção ^^.

Bruno Pieys

Para uma evangélica ela não dá exemplos bons de forma alguma. Um próprio programa do Silvio Santos que passa aos domingos à noite no qual várias pessoas difamam outras em rede nacional. Diversas vezes ela já chamou outras mulheres de pauta, vadia e outros adjetivos chulos. Isso é comportamento para uma pessoa que se diz ” culta”? Só se ela for culta como a presidente Dilma se intitula. Vomita asneira. Coisas de filhinha mimada de um pai que o ego é maior que sua fortuna.

Guto

Que pena contrariá-la, mas é normal sim. É um comportamento que SEMPRE existiu, em TODAS as sociedades ao redor do mundo, em épocas diferentes, em comunidades que não tinham contato ente si. Independente de crenças morais ou religiosas, orientações sexuais não-heteronormativas se desenvolvem ESPONTANEAMENTE em humanos e outros animais. Além disso, esse “alto percentual” de “experimentação sexual” não é recente. Ele é documentado em textos mais antigos de psicologia. Além de se mostrar uma pessoa preconceituosa, opinou de forma rasa, cheia de achismos e senso comum sobre um assunto sério, ferindo a dignidade de muitas pessoas inocentes. Enfim, o triste é saber que ela falou o que agrada o seu público-alvo e o que vai de encontro com a maioria das pessoas pensa. É frustante saber que esse é o pensamento dominante, muitos só não tem coragem de externar. Pra mim, cada vez fica mais claro o que dizia Brian Kinney nos anos 2000: “Existem dois tipos de pessoas heterossexuais no mundo – aqueles que te odeiam na sua cara, e os que odeiam você pelas costas”.

Emerson

Ela cagou pela boca. E o pai dela é um notório reaça capitalista que paga de “legalzão”. E tá gagá.

Rodrigo

Que burra, dá zero pra ela!

E pior, ela ainda tenta se desculpar dizendo que foi mai interpretada, isso só piora para vc minha filha.

Fico pensando de que adianta ter dinheiro, fama, um programa de TV e por outro lado com uma cabeça vazia e uma mente deturpada sobre as motivações e relações humanas.

Foi essa aí que se apaixonou pelo sequestrador? Ta explicado. Moça infantil.

Lamentável!

Bruno Beltran

Toda minha solidariedade para Thiago Abravanel. Agora deu pra entender bem o por quê dele escolher ser funcionário da Globo(tsc tsc) e não do SBesteira.

Paulo A. Ap. Benini

Que triste ouvir isso de alguém que eu achava culta!!!

1º Não se diz Homossexualismo! o correto é homossexualidade, afinal homossexuais não são doentes (doenças tem o termino – “Ismo”)
2º Não falar não vai impedir que a pessoa não tenha curiosidade, afinal somos Animais e agimos por instinto, tanto que crianças ficam excitadas com o manuseio de suas partes intimas…
3º Se esconder na bíblia não vai te fazer uma pessoa melhor se você a usa para apedrejar outras pessoas… alias saiba que a biblia foi usada por muitos e muitos séculos justamente para isso, julgar, condenar, apedrejar e matar!!! sugiro que sejamos mais inteligentes…

dizer que gay é gay por não ter conhecimento ou por não seguir uma religião ja deu né… veja quantos gays tem mais estudo que essa ameba que não fala, vomita asneiras!!! ser gay não é ser ignorante… ignorante é aquele que usa a palavra de maneira distorcida falando que é a palavra de Deus para ferir outros que são seus semelhantes em cristo!

Quando esta em rede nacional, deve-se pensar muito antes de falar… ela perdeu a chance de ficar quietinha e evitar isso, afinal ela até era legalzinha (meio agua com açúcar, mas tava indo bem) porem agora aguente meu bem… porque seu preconceito foi claramente visível em menos de 3 minutos … Tenho pena de um ser que usa a Biblia para cuspir seu preconceito contra outros!!!

Dieile Fubá

Essa vai ficar com esse peso nas costas igual aconteceu com a Joelma.

Márcia

Gente, o que esperar de uma criatura como essa. Ela é um nada e só aparece na tv por ser filha de quem é. Há muito tempo (felizmente agora tenho tv a cabo ) eu a ouvi dizer que na África existe muita fome e sofrimento porque lá se adoram muitos deuses, ou seja, a infeliz ignora completamente a história do mundo e se apega à crendices para explicar o que acontece a sua volta. O que está faltando no Brasil é uma boa base educacional para que criaturas como esta falem, falem e não sejam levadas a sério. Essa é a verdadeira ‘pobre menina rica’.

Lucas Alves de Quevedo

Nossa… que texto/samba lindo… como eu queria que alguém falasse tu isso pra ela em rede nacional, ia ser lindo. Pena que eu acho que eles iriam cortar. Parabéns Lado Bi!!! Sempre com matérias muito boas!!

Ananias

Lamentável!
O tempo nos mostra cada monstro, que estava escondido.
Será mais um canal, além da Globosta, que deixo de ver.
*Boa sorte para seu filho Pedro

Filipe

Sinto muito Patrícia… é normal querendo você ou não. Beijos

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