BBC estabelece metas de diversidade para 2020

Num esforço para refletir melhor seu público, dezesseis porcento dos funcionários da rede serão LGBTs, portadores de deficiência física e não-caucasianos, na frente das câmeras e nos bastidores

por Marcio Caparica

Enquanto no Brasil as emissoras ampliam a diversidade em seus elencos e equipes a passos lentos (quando não retrocedem), no Reino Unido a diversidade não apenas é celebrada como tornou-se um objetivo a ser alcançado.

Na última sexta-feira, 23 de abril, os porta-vozes da rede de televisão e rádio britânica BBC anunciaram metas de diversidade a serem cumpridas até 2020. Num esforço para refletir melhor seu público, a emissora decidiu que um em cada seis papéis dos programas que produz deverão ir para pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgênero, ou com deficiência física. O mesmo acontecerá para funções nos bastidores da rede. Além disso, a empresa estatal se comprometeu a ter metade de seus cargos em todos os níveis preenchidos por mulheres.

A decisão vem em resposta ao debate levantado no parlamento britânico pelo deputado David Lemmy, que acusa a rede de ser “horrendamente branca”. Esses objetivos deverão causar mudanças grandes em algumas estações da rede, como a Radio 2, que tem predominância de DJs homens e brancos. A lógica é simples: sendo uma rede de telecomunicação estatal, é obrigação da BBC refletir a população que a sustenta com seus impostos – e, ao contrário das redes brasileiras, ela entende que seu público é cada vez mais diverso.

Deve-se apontar que, para os padrões brasileiros, a diversidade da rede britânica já é altíssima: 13,1% de sua equipe já é composta de negros, asiáticos e outras minorias étnicas, e 48,4% dela é de mulheres – 41,3% em cargos de liderança. Apesar de não dispormos de estatísticas oficiais, basta ligar o televisor para constatar que a TV brasileira é predominantemente caucasiana e masculina. A presença de pessoas com deficiência física – principalmente entre aqueles que aparecem na frente das câmeras – é praticamente nula. Pessoas transgênero? Zero.

E não é apenas na estatal BBC que a diversidade vem se ampliando. Enquanto no Brasil um personagem homossexual por novela já é visto como “excesso de homossexuais”, o canal Channel 4, privado, produz séries excelentes sobre a população LGBT como BananaCucumber – essa última protagonizada por um casal gay interracial de meia-idade.

Tunde Ogungbesan, diretor de diversidade da BBC, declarou: “Quase metade de nossa força de trabalho é formada por mulheres, e a proporção de negros, asiáticos e outras minorias étnicas em nossas equipes nunca foi tão alta. Mas ainda há muito o que fazer, e sabemos que temos um desafio pela frente, portanto construiremos uma plataforma sólida para continuar a fazer o que dá resultado. Ainda esse mês lançaremos nossa nova estratégia de diversidade, repleta de novas ideias para nossos públicos, para realizarmos um trabalho ainda melhor até 2020.”

O Brasil é capaz de se vangloriar da “diversidade da mulher brasileira” num concurso em que todas as candidatas são loiras, trocar de mulata Globeleza porque a vencedora do concurso é “negra demais”, e atacar a apresentadora do tempo Maju Coutinho por sua etnia. Autor de novela acha razoável dizer que “não gosta de história de gay”, um beijo entre duas senhoras lésbicas é causa de controvérsia, e o primeiro beijo gay do horário nobre da Globo só veio a muito custo, num casal branco, magro, rico e pouco afeminado. Ao invés de tomarem as rédeas de sua responsabilidade em educar seu público, as redes brasileiras reagem às reclamações intolerantes e perpetuam os padrões de beleza e culturais vigentes.

As redes de comunicação brasileiras têm muito a aprender com a BBC.

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9 comentários

Rodrigo

Essa Andrea é o atraso em forma de “gente”.

“Tudo o que existe hoje foi criado por pessoas brancas…”

A “jênia” tá “sertinha”…

Andrea

Grande merda conviver com pessoas de origem variada, ninguém deveria ser obrigado a conviver com pessoas sem qualificações apenas em nome da diversidade. É tão difícil assim aceitar que nem todas as pessoas merecem certos cargos apenas por causa de sua etnia? O conceito de diversidade obrigatória acaba se tornando uma imposição idiota. Não entendo porque as pessoas lgbts querem parecer tão avançados que não param para pensar no com o idiota estão sendo.

Andrea

Quando alguns critérios para seleção é de pessoas não brancas e 50% das vagas para mulheres, isso já mostra que a qualificação esta em segundo plano. Diversidade, que coisa mais idiota, sendo que tudo que existe hoje foi criado por pessoas brancas, agora as outras etnias revoltadas e sem capacidade querem a fatia do que não ajudaram a construir. Vergonha de fazer parte dessa sigla LGBT, ninguém tem personalidade ou idéia própria, um bando de maria vai com as outras que se acham os diferentões por desafiar o tradicional.

Marcio Caparica

Não costumo aprovar comentários com mensagens de ódio, mas vou deixar o seu publicado para que o mundo saiba o quanto você é racista.

Andrea

Meritocracia para que não é mesmo? Colocar quem não tem qualificação para preencher cotas? Ridículo apenas….

Marcio Caparica

Quem realmente é qualificado e não acha que vai “passar raspando” não se preocupa com políticas de diversidade porque sabe que vai estar entre os escolhidos de qualquer maneira. E comemora que vai passar a conviver com pessoas de origens variadas.

Yã Cintra

quer dizer que é natural e normal que homens, cisgêneros, caucasianos, magros, não deficientes e heteros tenham capacidade pra desempenhar qualquer tipo de função no mundo, mas já gente que foge desse padrão ai provavelmente não tem capacidade alguma e só tá lá por cota?
querida, cotas dão oportunidades pra quem não faz parte do padrão de “pessoa ideal”, gente que por mais boa que seja na sua área e por mais que tenha vontade provavelmente nunca conseguiria, ou precisaria fazer um esforço colossal ou ter muita sorte pra chegar em alguma profissão ou posição.
não é dar vantagens, fazer uma trapassa ou qualquer besteira que você está defendendo ai, é simplesmente dar a oportunidade pra quem nunca teve e tem capacidade poder fazer.

Elma Westphal Kwitschal

Muita gente tem um conhecimento tão tímido que deixa um vazio tão grande neste meio social DIVERSIDADE é conquistar espaços. Através de que? estudar. estudar… estudar . Compreenderás o que é DIVERSIDADE. Profissão e posição é frequentar uma UNIVERSIDADE e fazer boas escolhas. Tenho 62 anos e cheguei no pódio de minhas realizações/ profissão e posição e frequento mais uma ESPECIALIZAÇÃO -PÓS GRADUAÇÃO. Fui ousada , corajosa e conquistei o meu espaço. Sou feliz? Sim sou feliz.

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