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Gaydar é nada mais que estereotipar pessoas, diz estudo

O conceito do gaydar, além de falho, promove e reafirma estereótipos prejudiciais, afirmam pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison

por Marcio Caparica

Uma das principais dificuldades daqueles que começam sua carreira de gay é descobrir quem também é viado fora dos bares, boates e ruas marcados como território de caça. Com o tempo e experiência, a gente fica mais esperto em sacar quem é homossexual como nós. Alguns ficam tão seguros dessa habilidade que afirmam ter desenvolvido um “gaydar”, sendo capaz de afirmar se tal pessoa é ou não homossexual sem contato prévio, apenas de olhar. Bem, como não chega a ser surpreendente, isso provavelmente não passa de uma aplicação de estereótipos.

É o que afirmam pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, num trabalho publicado recentemente no Journal of Sex Research. Seus autores afirmam que “colocar o gaydar em ação” não passa de uma forma mais sutil de infligir estereótipos muitas vezes nocivos sobre os outros. “A maioria das pessoas acha feio estereotipar alguém”, aponta William Cox, autor principal dessa pesquisa. “Mas quando não se chama o que se faz de ‘estereotipar’, se você dá outro nome ou camufla o que está fazendo de ‘gaydar’, isso parece se tornar mais aceitável social e pessoalmente.”

A equipe de Cox reuniu um grupo de voluntários e os dividiu em três grupos. Para um deles, disse que o conceito de gaydar era real, para outro, disse que era falso, e para o terceiro, não disse nada. Em seguida, os cientistas mostraram para os membros de cada grupo fotos de homens e forneceram descrições de seus interesses. Aqueles que haviam sido induzidos a acreditar que gaydar existe mostraram-se mais propensos a fazer suposições apoiadas nos estereótipos tradicionais, como “ele gosta de fazer compras” ou “ele é muito sensível”.

“Quando se acredita que gaydar existe, legitima-se o uso de estereótipos”, conclui Cox.

Cox acredita que as pessoas insistem na existência do gaydar porque LGBTs são uma porcentagem pequena da população em geral, e portanto não são confrontados com provas ao contrário muitas vezes. “Imagine que 100% dos gays usassem camisas rosa o tempo todo, e apenas 10% dos homens hétero vestissem camisas rosa o tempo todo. Apesar de todos os gays estarem vestindo rosa, ainda haveria duas vezes mais homens hétero usando camisas dessa cor”, ele explica. “Mesmo num exemplo extremo como esse, aqueles que se baseiam na cor das camisas como indício de que alguém é gay estaria errado 66% das vezes.”

Essa não é a primeira vez que a equipe do Dr. Cox estuda os preconceitos ocultos sob ações inocentes. No ano passado, os pesquisadores pediram que um grupo de voluntários participassem de um jogo em que eles tinham que dar um choque elétrico em uma pessoa em outra sala. Eles descobriram que os participantes davam mais choques na pessoa que não estavam vendo quando lhes diziam que essa pessoa era gay.

Portanto, quando você for para outro país e descobrir que seu gaydar “deixou de funcionar”, não se preocupe: é apenas que você está tendo uma maravilhosa oportunidade de descobrir que os estereótipos que funcionavam tão bem para você em sua terra natal não passam disso: estereótipos.

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Um comentário

Alexandre Melo

A questão toda vai mesmo além do estereótipo, penso. É um termo criado para dar mais aderência à uma suposta identidade gay e fechar ainda mais o grupo em seu gueto e comunidade, veja, não digo reforçar os estereótipos mas tornar a identificação, o ‘branding’ da manada algo único, ímpar e que todos comungam.

Em tempos de sexualidades cada vez mais divergentes, diferentes e de uma gama que o arco-íris já não pode mais suprir, o gaydar ficou obsoleto..

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