Estudo demonstra que filhos de casais homoafetivos são mais felizes

Crianças submetidas a testes no maior estudo do gênero já realizado tiveram resultados melhores em avaliação de saúde e felicidade que a média

por Marcio Caparica

Quando os inimigos do casamento igualitário buscam argumentos contra a união homoafetiva, geralmente usam as crianças. “Crianças precisam de um pai e uma mãe! O que será desse pobre inocente sem um exemplo digno dos dois sexos em sua vida? Que males crescer num lar como esse podem gerar em sua pobre cabecinha?”

Muito poucos, segundo indica um estudo inédito feito por pesquisadores da Universidade Melbourne, na Austrália. Segundo esta pesquisa (maior do gênero até o momento), crianças criadas por casais LGBTs crescem muito mais ajustadas, saudáveis e felizes.

Os pesquisadores da Universidade de Melbourne, coordenados por Simon Crouch, avaliaram 315 casais gays com um total de 500 crianças de até 17 anos. Os filhos em famílias homoafetivas tiveram resultados em média 6% superiores que a média da população em medidores de saúde em geral e coesão familiar, anunciaram Crouch e sua equipe na publicação BMC Public Health. Em outros medidores de saúde não houve diferenças entre filhos de casais gays e filhos de casais héteros.

Esses resultados provavelmente se devem à falta de papéis fixos em lares governados por casais homoafetivos, declarou Crouch. “Pesquisas anteriores sugeriram que dentro das famílias homoafetivas as funções cuidar dos filhos, e as funções de trabalho, e os papéis caseiros são distribuídos mais igualitariamente em comparação às famílias heterossexuais”, ele comentou à rede Australian Broadcasting Corp.

“O papel de cuidar dos filhos é compartilhado, não é a obrigação de uma parte do casal mais do que da outra, e o papel tradicional de ser o ganha-pão também é dividido”, ele continuou. “Isso significa é que as pessoas assumem os papéis que são mais apropriados a suas habilidades ao invés de recaírem aos estereótipos de gênero, ou seja, a mãe ficando em casa e cuidando das crianças e o pai indo trabalhar fora para ganhar dinheiro. Isso leva a uma unidade familiar mais harmoniosa, o que estimula saúde e bem-estar maiores.”

O pesquisador ainda completou que “muitas vezes, quando as pessoas abordam a questão do casamento igualitário no contexto da família, dizem que o casamento [heterossexual] é necessário para que se crie as crianças no ambiente correto e que uma mãe e um pai são indispensáveis para isso, e portanto o casamento deveria ser restrito a casais heterossexuais. Eu acho que esse estudo sugere, quanto a isso, que na verdade as crianças podem viver em muitos contextos familiares diferentes, e que isso não deveria ser uma barreira para o casamento igualitário.”

Não é o primeiro estudo a apontar que casais gays podem ser tão capazes quanto os héteros de educar crianças sadias e felizes. No começo do ano um estudo do Williams Institute descobriu que filhos de lésbicas declaravam ter maior autoestima e menos problemas de comportamento que os filhos de casais héteros. Um estudo de 2012 intitulado Adolescentes com Mães Lésbicas Descrevem Suas Próprias Vidas revelou que adolescentes com duas mães tinham notas altas na escola e mantinham elos familiares sólidos com suas mães.

Resultados como estes não deveriam vir como surpresa. Vale lembrar que dificilmente pais homoafetivos tornam-se pais sem desejá-lo muito. Não há pressão social para que gays tenham filhos ou “providenciem logo um neto”. Não faz parte do senso comum que a vida de um homossexual é “incompleta” sem crianças, nem eles sentem a urgência de um “relógio biológico” para se tornarem pais antes de se sentirem preparados. Gays não ficam bêbados e fazem filhos, nem se esquecem de tomar anticoncepcionais e engravidam por acidente. Os gays que decidem encarar a responsabilidade de criar e educar crianças fazem isso porque realmente querem fazê-lo. Uma média de pais realmente dispostos a serem pais naturalmente acaba gerando resultados melhores que uma população de pais que conta com vários casos de gente que se tornou pai sem ter a intenção. E a ciência cada vez mais comprova isso.

Apoie o Lado Bi!

Este é um site independente, e contribuições como a sua tornam nossa existência possível!

Doação única

Doação mensal:

4 comentários

Alexandra

Klecius, são assuntos diferentes. Embora eu tenha ressalva a todo tipo de “reeducação” transmitida pela indústria farmacêutica.
Existe um estudo interessante feito pelos economistas do Freakonomics em que estudaram por 30 anos o efeito comportamental das leis do aborto no crescimento econômico. O que de certa forma confirma que existe diferença entre crianças desejadas e acidentais.

Marcos Célio Soares de Oliveira

Isso é algo que já era esperado, visto que pessoas homoafetivas são pessoas que estão a seguir a sua verdade enquanto humanos e não a tentar interpretar um papel, um script, escrito pela sociedade onde está escrito “é assim que deve ser”.
Em um lar onde não existe a pedagogia sexista, a qual eu acho ridícula é claro que o humano crescerá mais pleno em relação a lares onde existe o sexismo.
Bela matéria!
Atenciosamente,
Marcos Célio Soares de Oliveira

Comments are closed.