As animações dos estúdio Disney passaram por uma era de ouro nos anos 1990, é inegável. Grande parte dos seus clássicos foram produzidos nessa década, filmes que rendem milhões explorando uma miríade de princesas até hoje. Mas não é apenas o tema recorrente de heróis com vidas trágicas e figuras familiares ausentes que une essa safra de animações. Os vilões de todos esses longas, apesar de nunca serem declaradamente homossexuais, movimentam-se e falam de maneira marcadamente gay.
Úrsula, de A Pequena Sereia, tem toda figura da lésbica caminhoneira (e chiquérrima). Gaston, de A Bela e a Fera, basicamente é uma barbie que quer usar Bela como fachada. Quando chegamos em Aladdin, a coisa começa a ficar mais escancarada no vizir Jafar. Scar, tio de Simba em O Rei Leão, praticamente dispensa apresentações (mas não é o único gay do filme: Timão e Pumbaa podem ser considerados um casal homoafetivo que adota um órfão). O governador Ratcliffe de Pocahontas é uma tiazona que se veste de rosa e tem lacinhos pink segurando as trancinhas. Até mesmo o deus dos mortos Hades, em Hércules, dá pinta. Apenas em Mulan o vilão é assustadoramente heterossexual – mas, por outro lado, Shan Yu, o líder dos hunos aparece pouco, muito pouco nesse filme. Eu não colocaria a mão no fogo por Chi Fu, o conselheiro do imperador, no entanto.

Jafar, de Aladdin

Radcliffe, de Pocahontas

Úrsula, de A Pequena Sereia
Qual seria a razão disso? David Thorpe, documentarista que acabou de lançar um novo filme, Do I Sound Gay? (“Eu soo gay?”, em português), levantou uma hipótese para isso em entrevista recente à revista Vice. “Os filmes precisam de vilões, e por muito tempo, o homem afetado, aristocrático e afeminado era o vilão. O principal assunto de grande parte dos filmes é a trama do casamento. Os gays viviam à parte desse tipo de objetivo até bem recentemente.” Homossexuais eram vistos como uma “ameaça à ordem moral”, afirma o documentarista, e esse perigo simbólico era apresentado em inúmeros filmes.
No início do cinema, na era dos filmes mudos, era comum a presença de bichinhas adoráveis e um tanto ridículas nas tramas: elas ajudavam a realçar a masculinidade do protagonista viril, por contraste. Na década de 1930 os estúdios passaram a seguir o Código Hays, que estabelecia códigos morais para a produção cinematográfica. A partir de então, personagens que apresentavam sexualidades não-normativas passaram a serem mostrados como malignos, e em geral sofriam algum tipo de punição, frequentemente a morte.
Felizmente as animações estão agora apresentando personagens LGBT de maneira mais positiva. O Rei Julian, de Madagascar, é um bom exemplo, assim como o esportista Mitch, de Paranorman, e uma breve fala de Oaken em Frozen. Na TV, A Lenda de Korra, Hora da Aventura e Steven Universe tratam de sexualidades não-normativas com naturalidade – coisa que já acontece faz muito tempo em animes. Os personagens homossexuais agora tendem a serem os melhores amigos, o alívio cômico, ou parte do grupo de vários estereótipos que apoiam a jornada pessoal do protagonista.
Em Do I Sound Gay?, Thorpe analisa as razões por que tantos LGBTs têm padrões de fala que os caracterizam como homossexuais ou transgênero mesmo antes dos próprios darem-se conta disso. O documentarista entrevista figuras proeminentes do mundo LGBT dos EUA, como George Takei, David Sedaris, Margaret Cho, Dan Savage e Tim Gunn. Ao mesmo tempo, registra seus esforços pessoais para descobrir quando que ele próprio passou a falar de maneira “afetada”, e seu trabalho com fonoaudiólogos para descobrir o que exatamente faz um jeito de falar soar mais gay, e testar se é possível alterar essa voz. Estamos torcendo para que esse documentário chegue para o Brasil o quanto antes.
[…] documentarista David Thorpe, do documentário Do I Sound Gay?, argumenta que até o início dos anos 2000 gays eram muitas vezes os vilões perfeitos porque grande…, e, como LGBTs viviam fora desse objetivo, tornavam-se vilões perfeitos. Por que o mesmo não […]
(corrigindo)
Já nos filmes anteriores aos anos 90, e aqui destacando “A Branca de Neve”, “A bela Adormecida”, “Os aristocatas”, “101 dálmatas” e “Peter Pan” os vilões eram pessoas visivelmente divorciadas ou “encalhadas”, mostrando que o certo era você se casar…
Li, não lembro onde que a Ursula de Pequena Sereia é inspirada na protagonista do clássico trash Pink Flamingos…..Agora tudo faz sentido!!!
Mais exatamente na drag queen Divine!
usavam o estereótipo de bicha afetada como se todo gay fosse afeminado.
Eu nunca gostei desses estereótipos que giram em torno de todos os gays que não são afetados.
Afetados? Afetados com o que exatamente? Uma doença? Não entendo esses gays que tratam outros gays como doentes, chega a ser ridículo. Você precisa vencer os preconceitos dentro de você, ninguém é obrigado a seguir um padrão, essa norma imposta para vocês se sentirem aceitos é coisa deles, não caia nisso jovem.
Não seja afetado pela ignorância.