Por que os vilões da Disney soam tão gays?

Por que os vilões da Disney soam tão gays?

Documentarista David Thorpe analisa em seu novo filme o jeito de falar de LGBTs e pondera por que os longas infantis usavam essa entonação em personagens maus

por Marcio Caparica

As animações dos estúdio Disney passaram por uma era de ouro nos anos 1990, é inegável. Grande parte dos seus clássicos foram produzidos nessa década, filmes que rendem milhões explorando uma miríade de princesas até hoje. Mas não é apenas o tema recorrente de heróis com vidas trágicas e figuras familiares ausentes que une essa safra de animações. Os vilões de todos esses longas, apesar de nunca serem declaradamente homossexuais, movimentam-se e falam de maneira marcadamente gay.

Úrsula, de A Pequena Sereia, tem toda figura da lésbica caminhoneira (e chiquérrima). Gaston, de A Bela e a Fera, basicamente é uma barbie que quer usar Bela como fachada. Quando chegamos em Aladdin, a coisa começa a ficar mais escancarada no vizir Jafar. Scar, tio de Simba em O Rei Leão, praticamente dispensa apresentações (mas não é o único gay do filme: Timão e Pumbaa podem ser considerados um casal homoafetivo que adota um órfão). O governador Ratcliffe de Pocahontas é uma tiazona que se veste de rosa e tem lacinhos pink segurando as trancinhas. Até mesmo o deus dos mortos Hades, em Hércules, dá pinta. Apenas em Mulan o vilão é assustadoramente heterossexual – mas, por outro lado, Shan Yu, o líder dos hunos aparece pouco, muito pouco nesse filme. Eu não colocaria a mão no fogo por Chi Fu, o conselheiro do imperador, no entanto.

Por que os vilões da Disney soam tão Gays?

Jafar, de Aladdin

Por que os vilões da Disney soam tão gays?

Radcliffe, de Pocahontas

Úrsula, de A Pequena Sereia

Úrsula, de A Pequena Sereia

Qual seria a razão disso? David Thorpe, documentarista que acabou de lançar um novo filme, Do I Sound Gay? (“Eu soo gay?”, em português), levantou uma hipótese para isso em entrevista recente à revista Vice “Os filmes precisam de vilões, e por muito tempo, o homem afetado, aristocrático e afeminado era o vilão. O principal assunto de grande parte dos filmes é a trama do casamento. Os gays viviam à parte desse tipo de objetivo até bem recentemente.” Homossexuais eram vistos como uma “ameaça à ordem moral”, afirma o documentarista, e esse perigo simbólico era apresentado em inúmeros filmes.

No início do cinema, na era dos filmes mudos, era comum a presença de bichinhas adoráveis e um tanto ridículas nas tramas: elas ajudavam a realçar a masculinidade do protagonista viril, por contraste. Na década de 1930 os estúdios passaram a seguir o Código Hays, que estabelecia códigos morais para a produção cinematográfica. A partir de então, personagens que apresentavam sexualidades não-normativas passaram a serem mostrados como malignos, e em geral sofriam algum tipo de punição, frequentemente a morte.

Felizmente as animações estão agora apresentando personagens LGBT de maneira mais positiva. O Rei Julian, de Madagascar, é um bom exemplo, assim como o esportista Mitch, de Paranorman, e uma breve fala de Oaken em Frozen. Na TV, A Lenda de KorraHora da Aventura e Steven Universe tratam de sexualidades não-normativas com naturalidade – coisa que já acontece faz muito tempo em animes. Os personagens homossexuais agora tendem a serem os melhores amigos, o alívio cômico, ou parte do grupo de vários estereótipos que apoiam a jornada pessoal do protagonista.

Em Do I Sound Gay?, Thorpe analisa as razões por que tantos LGBTs têm padrões de fala que os caracterizam como homossexuais ou transgênero mesmo antes dos próprios darem-se conta disso. O documentarista entrevista figuras proeminentes do mundo LGBT dos EUA, como George Takei, David Sedaris, Margaret Cho, Dan Savage e Tim Gunn. Ao mesmo tempo, registra seus esforços pessoais para descobrir quando que ele próprio passou a falar de maneira “afetada”, e seu trabalho com fonoaudiólogos para descobrir o que exatamente faz um jeito de falar soar mais gay, e testar se é possível alterar essa voz. Estamos torcendo para que esse documentário chegue para o Brasil o quanto antes.

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6 comentários

Um

(corrigindo)

Já nos filmes anteriores aos anos 90, e aqui destacando “A Branca de Neve”, “A bela Adormecida”, “Os aristocatas”, “101 dálmatas” e “Peter Pan” os vilões eram pessoas visivelmente divorciadas ou “encalhadas”, mostrando que o certo era você se casar…

Pablo Oliveira

Li, não lembro onde que a Ursula de Pequena Sereia é inspirada na protagonista do clássico trash Pink Flamingos…..Agora tudo faz sentido!!!

Eduardo

usavam o estereótipo de bicha afetada como se todo gay fosse afeminado.
Eu nunca gostei desses estereótipos que giram em torno de todos os gays que não são afetados.

Álvaro

Afetados? Afetados com o que exatamente? Uma doença? Não entendo esses gays que tratam outros gays como doentes, chega a ser ridículo. Você precisa vencer os preconceitos dentro de você, ninguém é obrigado a seguir um padrão, essa norma imposta para vocês se sentirem aceitos é coisa deles, não caia nisso jovem.

Não seja afetado pela ignorância.

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