Ela é diva. Ela é a madrasta da Cinderella. Ela é a rainha virgem. Ela é a blue Jasmine. Ela é a Galadriel. E ela é bi e daí…
A atriz australiana Cate Blanchett contou em entrevista à revista Variety deste mês, cuja capa é estampada por ela, detalhes sobre seu novo filme, Carol, e que já teve alguns romances com mulheres. No longa, dirigido por Todd Haynes, a atriz interpreta uma mulher que vive um romance com a personagem da atriz Rooney Mara.
O longa independente foi filmado em Cincinnati, transformada para se parecer com a Nova York dos anos 50. “Filmamos em casas antigas que pareciam túmulos”, disse a atriz à revista. De acordo com a reportagem, a atuação de Blanchett poderá lhe render a sétima indicação ao Oscar (ela já ganhou dois, em 2004 por O Aviador e em 2013 por Blue Jasmine).
Durante a entrevista, no entanto, foi questionada se esta era a sua primeira vez como lésbica. Espirituosa, respondeu: “No filme ou na vida real?”. E revelou em seguida que na vida real teve relações com outras mulheres. “Sim, muitas vezes”, disse sem entrar em detalhes. No entanto, assim como a personagem Carol, Cate Blanchett não quer saber de rótulos. Ela foi casada durante 18 anos com o roteirista Andrew Upton.
Carol vai estrear no dia 17 de maio no Festival de Cannes, na França, e conta a história de uma carismática nova-iorquina (Blanchett) que se envolve com Therese (Mara), uma jovem funcionária de uma loja de departamentos.
Blanchett disse à revista que não gosta de ver a si mesma nos filmes. “Talvez seja por isso que continuo trabalhando”. De acordo com a reportagem, para se acalmar, a atriz imagina que ninguém vá ver seus filmes. Após terminar de filmar O Aviador, dirigido por Martin Scorsese e co-estrelado por Leonardo DiCaprio, Blanchett disse que não tinha ficado satisfeita com o resultado. “É por isso que eu gosto de teatro. Na noite seguinte você sempre pode fazer melhor do que na apresentação anterior”.
A atriz falou ainda na entrevista sobre a falta de equalidade entre homens e mulheres na indústria do cinema e como uma filme com mulheres como protagonistas são vistos como um mau investimento. Blanchett disse que não estava convencida de que Carol chegaria aos cinemas. “Foi tão difícil”, lembra ela. “Filmes de médio porte com as mulheres no centro são difíceis de financiar. Há um monte de pessoas que trabalhavam sob a visão equívocada de que as pessoas não querem vê-los, o que não é verdade.”
Carol é baseado no livro de Patrícia Highsmith, The Price of Salt (“O Preço do Sal”, em tradução livre), que quando foi lançado obrigou a autora a usar um pseudônimo para proteger-se do clamor público. Segundo a Variety, estes são tempos muito diferentes, mas Hollywood ainda não superou este tabu. Desde que O Segredo de Brokeback Mountain estreou, há 10 anos, houve alguns romances homossexuais no cinema desde então. Mas mesmo com a entusiasmada crítica sobre Love Is Strange, que estreou no verão passado (estrelado por Alfred Molina e John Lithgow como um casal), a bilheteria chegou a meros US$ 2,3 milhões na bilheteria americana. Haynes, que dirigiu a história de um marido enrustido interpretado por Dennis Quaid em Far From Heaven, diz que o foco em histórias gays se deslocou mais para TV. “Em alguns aspectos, o caso de uma história de amor gay é menos surpreendente a cada dia”, diz Haynes.
Elizabeth Karlsen, que produziu Carol, acrescenta: “Espero que seja um filme para todos. E, certamente, quando tivermos os resultados nós encontraremo jovens e velhos, homens e mulheres, héteros e gays em sua audiência.”
Quando uma declaração como essa de uma atriz renomada como essa não causa nenhum impacto, significa que isso não é realmente dana demais.
Como bem coloca o texto: “e daí…?”.
Daí nada… normal.
Quando Ângela Rô Rô disse que gostava de mulheres, nos anos 1970, isso foi um escarcel.
Felizmente os tempos estão mudando. Lentamente, mas estão mudando pra melhor.