António Simões: “se não fosse gay, provavelmente não seria CEO do HSBC”

“Grande parte das pessoas gay pensa que ser gay é ok, que não é uma grande desvantagem ou que é uma coisa neutra. Eles devem pensar que ser gay é uma vantagem e não uma desvantagem. Penso que ser gay é uma vantagem para mim. Tornou-me uma pessoa mais autêntica, com melhor empatia, melhor inteligência emocional. Se eu não fosse gay se calhar não seria CEO do banco.”

Quem deu essa declaração foi António Simões, o atual presidente da divisão britânica do banco HSBC, onde comanda 50 mil empregados e é responsável por 25% da renda do grupo. No cargo desde 2012, ele costuma se apresentar como “um português gay, baixinho e careca”. Ao contrário da maioria dos executivos, ele não vê sua homossexualidade como um impedimento para o sucesso, pelo contrário: acha que ser gay é seu diferencial competitivo, como declarou ao jornal português Expresso.

O próprio António, no entanto, é o primeiro a dizer que ser gay não deveria ser algo excepcional no mundo executivo. “É muito mais impressionante ser presidente de um banco aos 38 anos do que ser um gay presidente de um banco. De alguma forma, até é uma das coisas menos interessantes da minha personalidade. É interessante porque não é vulgar que o presidente de um banco seja gay. A única razão por que isto é notícia é porque não há muitas pessoas [declaradamente gays] na mesma posição que eu”, comentou ao jornal Público.

Ser declaradamente homossexual no mundo executivo lhe traz vantagens, afirmou ao site Dezanove.  “As pessoas têm mais confiança em mim porque se sou honesto com algo que é difícil de partilhar também o serei em outros temas. É muito mais fácil ser honesto.”

Em 2013 Simões ficou no topo da lista OUTStanding In Business, publicada pelo Financial Times, como o gay fora do armário mais poderoso do mundo. Em 2014, ele ficou em segundo lugar. A lista foi criada para divulgar bons exemplos de diversidade no mundo dos negócios. Simões compreende a importância de seu exemplo, e como ele pode desfazer o tabu da sexualidade entre os executivos: “Há uma responsabilidade pessoal para se sair totalmente do armário. Se queremos viver numa meritocracia, a única coisa que deveria importar é o mérito. O que interessa é o que se consegue fazer e não o que se é.”

Muitos dizem que não precisam “falar da intimidade” na empresa para justificar o próprio armário. António Simões discorda. “Qualquer pessoa, qualquer CEO de uma empresa em Portugal, tem uma fotografia da mulher e dos filhos no gabinete. As pessoas sabem quem é a mulher e os filhos. Essas coisas passam-se dentro de portas mas ninguém consegue ocultar todos os dias, em todas as situações da sua vida profissional, a sua vida pessoal”, lembrou em entrevista ao Jornal de Negócios.

Ser gay às vezes lhe causa saias-justas. “Por vezes ainda me perguntam: o que faz sua mulher? Muitas vezes antecipo-me e digo: o meu marido pede o divórcio se não chego a horas a casa para passear os cães”, brincou na entrevista ao Expresso. Ele trata da vida pessoal como qualquer outro executivo: “Falo do Tomás [marido], dos meus dois labradores, das férias. Falo muito pouco sobre homossexualidade como tema, mas falo muito sobre o Tomás. Falo como qualquer outra pessoa fala. Estou a tentar desdramatizar. Isto é bom para o negócio porque precisamos de líderes autênticos que liderem de forma autêntica, com pessoas que os queiram seguir.”

Simões se graduou pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, e fez MBA na University of Columbia, em Nova York. Em sua carreira, já trabalhou na McKinsey & Company e na Goldman Sachs, até entrar no HSBC em 2007.

Criar um ambiente profissional que encoraja as particularidades de cada um pode trazer ganhos às próprias empresas, considera. “Valorizar a diversidade faz com que todas as pessoas na empresa sintam que também podem lá chegar. Com ambição, com trabalho. O que importa é só o que eles fazem. If you’re good, you play.”