Integrante do Abba diz que comunidade LGBT foi responsável pelo revival da banda

Biógrafo do grupo disse em entrevista que, apesar da gratidão, eles não entendem muito bem por que fazem tanto sucesso entre os LGBT

por James Cimino

Acaba de chegar ao Brasil a biografia de uma dos grupos de música pop mais famosos do mundo: o Abba. Escrita por Carl Magnus Palm, que pesquisa a história do grupo há 15 anos, além de ser um grande fã, “Abba – A Biografia” conta, em 452 páginas, a história de vida de Björn Ulvaeus, Benny Andersson, Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad (mais conhecida como Frida) e a busca desses quatro artistas pelo sucesso no mundo da música.

Eu entrevistei o Carl para o UOL Entretenimento e perguntei se os integrantes da banda tinham noção do sucesso que faziam entre os LGBT. Ele respondeu o seguinte:

“Eles estão cientes de que o Abba são enormes na comunidade LGBT, embora eu ache que Björn e Benny não entendam muito bem por que eles são tão populares entre esse público. Nos últimos anos, o grupo tem apoiado alguns eventos de caridade relacionados com os LGBT, doando itens assinados e tal… E, claro, Björn foi ovacionado em fevereiro de 2011, quando apresentou o Homo do Ano, no Prêmio QX, em Estocolmo, organizado pela principal revista gay da Suécia. Ele estava vestido com uma das fantasias do musical “Mamma Mia!” e, em seu discurso, reconheceu a importância da comunidade gay para o renascimento do Abba.

Björn disse o seguinte: “Nos anos 1980, o Abba não era considerado legal. Totalmente ultrapassado. Então eu pensei: ‘Bem, é isso, foi bom enquanto durou, mas agora já era. Mas, de uma forma estranha, continuamos muito populares na cena gay. Pode parecer que eu estou puxando o saco, mas eu não ligo. Eu tenho certeza de que quando rolou o nosso ‘revival’ no fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990 foi porque continuamos populares entre os gays. Foi o fator mais importante, e esta é a melhor oportunidade que tenho para demonstrar minha gratidão.”

A apresentação de Björn, citada pelo biógrafo, está disponível em vídeo do Youtube, que postamos abaixo:

O relato do livro se estende até os dias atuais e conta, com entrevistas dos próprios integrantes, as razões por que eles, segundo a opinião do autor, jamais voltarão a se reunir novamente. “O Abba começou como um grupo formado por dois casais apaixonados, e quando o amor se foi, grande parte da energia do Abba desapareceu.”

As separações de Benny e Frida e de Björn e Agnetha, assim como o amor e a alegria de estarem juntos, sempre foram temas de suas canções. O livro conta em detalhes as histórias por trás dessas produções, mas também retrata o Abba como um marco na transição da música sueca, da tradicional e folclórica ao pop, que atravessou as fronteiras escandinavas e conquistou países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Brasil e que abriu os ouvidos do mundo para artistas da região que vieram depois deles, como A-Ha, Roxette, Ace of Base, Björk, The Cardigans, entre outros.

Palm conta por que ainda hoje os integrantes do Abba protegem tanto seu patrimônio musical (o grupo só liberou “samples” de suas músicas duas vezes) e qual o motivo de eles terem recusado, no início dos anos 2000, uma proposta para uma turnê mundial no valor de US$ 1 bilhão: “Eles acharam que seria uma trabalho muito duro, e eles não precisam de dinheiro.” Leia:

UOL – Lendo o livro, notei que a história do Abba se confunde com a história da música pop na Suécia. Eles foram os primeiros cantores suecos a atravessar as fronteiras do país?

Carl Magnus Palm– Sim, eles foram, pelo menos nessa escala. No início de 1960, um grupo instrumental chamado The Spotnicks teve algum sucesso no exterior, mas bem menor. Um grupo chamado Blue Swede também teve um hit número um nos EUA com uma canção chamada “Hooked On a Feeling”, praticamente ao mesmo tempo em que o ABBA venceu o festival Eurovision. Mas o Abba foi a primeira banda sueca a realmente conseguir um avanço em escala internacional.

Como o Abba influenciou o pop na Escandinávia? Depois deles, houve o Roxette , o A-Ha, Björk, Ace of Base, The Cardigans… Eles certamente abriram portas, não?

O Abba abriu as portas, mostrando que era possível a todos. Antes do Abba não havia praticamente nenhum interesse em música pop sueca –se a música pop não viesse da Inglaterra ou dos EUA, era considerada desinteressante. O Abba e seu produtor, Stig Anderson, mostraram que, se você tivesse as músicas certas, você poderia ser levado a sério como uma banda pop, mesmo que você fosse da Suécia.

Aparentemente os quatro integrantes lutaram por uma carreira solo antes de o Abba surgir. Depois que o grupo terminou, nenhum deles alcançou o mesmo sucesso. Por quê?

É muito difícil superar algo que era tão incrivelmente bem-sucedido como o Abba . No caso de Agnetha e Frida, seus álbuns simplesmente não eram tão bons quanto os álbuns do Abba. Não tinham canções fortes. Björn e Benny nunca nem tentaram ser bem-sucedidos no mundo pop, mas se concentraram em seus musicais [entre eles, o sucesso “Mamma Mia!”]. E embora esses musicais tenham sido bem-sucedidos, eu não acho que Björn e Benny esperavam que eles fossem tão grandes quanto o Abba.

biografia abbaQual é a verdade sobre o fim do grupo?

A verdade é muito simples: eles fizeram uma pausa da banda para que Björn e Benny pudessem escrever o musical “Chess”, e, quando isso acabou, nenhum deles quis voltar. Eu acho que a verdade é que eles simplesmente se afastaram. O Abba começou como um grupo formado por dois casais apaixonados, e, quando o amor se foi, grande parte da energia do Abba desapareceu.

No início de 2000, o Abba recusou um contrato de US$ 1 bilhão para uma turnê mundial. Por que eles recusaram? Você acha que há muita amargura entre eles?

Eu não acho que foi por causa de amargura. Os quatro discutiram a oferta, mas todos eles chegaram à conclusão de que seria muito trabalho duro. E eles não precisam do dinheiro. Hoje, eles são todos bons amigos, mesmo que não se vejam tanto. Eles apenas não se sentem motivados a voltar com o Abba novamente. Eles estão todos ocupados com suas próprias vidas.

Li que eles estavam considerando um retorno, depois de anos de insistência fãs. Podemos esperar uma turnê ou é apenas especulação boba?

É apenas especulação boba. Acho que podemos dizer com 99,9% de certeza que o Abba nunca mais vai se reunir para shows.

Neste ano, a vencedora do Eurovision foi uma drag queen barbada. Embora ela cante bem (e politicamente esta vitória é cheia de significados), a música em si não é nada notável. Mesmo no Eurovision, o Abba foi um evento único?

Musicalmente, o Eurovision era muito melhor nos anos 1960 e 1970. O foco estava em canções fortes, não tanto na imagem e na coreografia. Dito isso, o Abba foi uma raridade no Eurovision, já que claramente eles miravam muito além da concorrência e eram muito mais ambiciosos como compositores e intérpretes que a maioria dos artistas do festival.

Gostaria que você contasse a história por trás da produção de cinco de seus maiores sucessos (ouça a playlist do Abba na Rádio UOL):

“Waterloo”

Esta foi escrita para o Festival Eurovision de 1974, no qual o Abba tinha tentado entrar no ano anterior com “Ring Ring”, mas que só terminou em terceiro lugar na seleção sueca. Em 1974, no entanto, eles tiveram uma vitória esmagadora e foram para as finais. O produtor do Abba, Stig Anderson, escreveu as letras originais em sueco e levou uma semana para encontrar o título certo para a música. Uma de suas ideias originais era “Honey Pie”, mas então ele encontrou a palavra “Waterloo” em um livro de citações e construiu a história em torno disso.

“The Winner Takes it All”

O título original da canção era “The Story of My Life” (o Abba quase sempre começava a trabalhar as músicas pelos títulos antes de as letras finais serem escritas). No começo, eles gravaram uma versão que não gostaram porque era muito “dura”. Então eles gravaram uma nova versão, que era mais “fluida”. Björn, em seguida, escreveu as letras. Posteriormente ele revelou que estava um pouco embriagado de uísque quando escreveu esta música. O ponto de partida para a letra foi o divórcio entre ele e Agnetha, mas Björn disse várias vezes que não é uma representação literal de seu divórcio. No entanto, Agnetha teve uma forte reação emocional quando leu a letra e começou a chorar.

“Gimme! Gimme! Gimme! (a Man After Midnight)”

“Gimme! Gimme! Gimme! (a Man After Midnight)” foi escrita e gravada no verão de 1979. O Abba queria um novo single a ser lançado em conjunto de sua turnê na América do Norte e na Europa, de setembro a novembro de 1979. Os anos de 1978 e 1979 foram o auge da discoteca e foi um período em que o Abba fez algumas canções dance (“Summer Night City”, “Voulez-Vous”‘, “Does Your Mother Know”, etc). Então eu não acho que necessariamente tivesse alguma coisa a ver com o sucesso de “Dancing Queen”, era apenas o tipo de música que eles gostavam de fazer na época. Quanto a eles terem liberado o “sample” para Madonna, não sei muito sobre os detalhes de seu contrato, só sei que foi muito caro para ela. Isto é o que Björn disse a esse respeito: “Madonna enviou sua assistente com a gravação [de ´Hung Up´] pronta, não era apenas uma especulação, ela terminou a canção. Nós ficamos completamente embasbacados, já que a música é ótima. Nós só tivemos de ouvir a metade da canção, fechamos o negócio.”

“S.O.S.”

Originalmente chamada de “Turn Me On”, esta foi uma das primeiras músicas a serem gravadas para o terceiro álbum do Abba, que se chamava simplesmente “Abba” . Foi lançada em 1975. A canção é sobre corações partidos, mas não tem relação com os divórcios dos membros do Abba, o que aconteceu alguns anos depois. Pode-se dizer que este foi o primeiro “clássico de fossa” da Agnetha.

“Dancing Queen” 

Lançada em 1976, esta música se chamava “Boogaloo”. Björn e Benny não tinham uma forte relação pessoal com a música soul americana e com a disco, mas eles queriam que esta canção tivesse essas bases. Eles ouviram o hit de George McCrae, de 1974, “Rock Your Baby” para encontrar alguma inspiração para o ritmo de “Dancing Queen”. O resultado foi uma música que se tornou a canção mais conhecida do Abba, de longe.

A íntegra da entrevista pode ser lida aqui: Biógrafo diz que fim do amor entre seus integrantes fez o Abba acabar

 

 

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