Todo defensor dos direitos LGBT tem que ser também, e com convicção, um feminista. Afinal, a raiz da homofobia é exatamente a crença de que o homem é melhor que a mulher. Para quem segue (conscientemente ou não) a doutrina da superioridade masculina, ser gay é abrir mão de um privilégio inato e por vontade própria se rebaixar a um patamar mais fraco; ser lésbica é tentar de maneira caricatural alcançar um escalão mais elevado; e ser trans é simplesmente uma aberração. A mera existência de pessoas LGBT que são saudáveis, realizadas e felizes é uma ameaça à ordem e hierarquia ditada pelo mundo machista. Então melhor é suprimir qualquer “desvio” para que se mantenha a “estrutura” da sociedade.
As mulheres têm um papel fundamental na construção de um mundo mais igualitário e menos machista. Com seus exemplos, elas inspiram todos a ultrapassar os limites que a cultura ainda tenta impor. Também vale a pena lembrar que muitas vezes são as próprias mães que incutem os valores machistas em seus filhos – uma mãe que cria seu filho para respeitar a igualdade de gênero cria uma sociedade igualitária para mulheres e minorias sexuais.
A seguir, conheça nove mulheres que, em diferentes lugares do mundo, estão lutando para que a população LGBT viva melhor.
Alice N’Kom, Camarões
A população gay de Camarões enfrenta uma luta diária contra as leis homofóbicas de seu país. Uma de suas principais defensoras é a advogada Alice N’kom. Fundadora da Associação pela Defesa dos Homossexuais, N’kom já guiou inúmeros cidadãos LGBT de Camarões através dos árduos processos legais criados para descriminá-los.
Irshad Manji, Estados Unidos
Autora, ativista e acadêmica, Irshad Manji é uma das maiores defensoras para que se promova mudanças e igualdade dentro do Islã. Ela escreve constantemente sobre como conciliar a fé com a liberdade progressista, e há quem a considere o “pior pesadelo” de Osama bin Laden. “Quando eu estudava em uma escola islâmica, eu fazia perguntas demais, e fui expulsa aos 14 anos”, ela conta em seu website. “Mais tarde, quando estudava o Islã por conta própria, eu fiz uma descoberta surpreendente: é possível conciliar a fé com a liberdade”. Seu livro The Trouble With Islam Today: A Muslim’s Call for Reform in Her Faith (“O problema com o Islã hoje: o clamor de uma mulçumana por reformas em sua fé”, em tradução livre) já foi publicado em 30 países, apesar de ter sido banido em várias nações mulçumanas. Atualmente ela é diretora do Projeto de Coragem Moral da Universidade de Nova York, que ensina líderes a desafiarem a conformidade intelectual e a autocensura.
Li Yinhe, China
Li Yinhe desbravou muitos caminhos na China no que se refere a sexualidade, gênero e direitos LGBT no decorrer das últimas décadas. Ela é conhecida como a “primeira sexóloga” da China, algo que pode ser considerado uma verdadeira façanha dado o histórico chinês de censura e a inclinação do país a evitar conversas abertas sobre sexualidade. Seu primeiro livro, publicado em 1992, incluía pesquisas extensivas sobre homens gays, e ela continua lutando para que se estabeleçam o casamento igualitário e proteções legais para a população LGBT na China. “A maioria dos chineses acredita que sexo é algo negativo que não deve ser discutido em público”, ela já declarou em entrevista.
Anjali Gopalan, Índia
Além de seu trabalho em apoio à população LGBT da Índia, Anjali Gopalan é uma defensora convicta dos portadores do vírus HIV. A organização que lidera, a Fundação Naz, é um dos grupos mais importantes da Índia a trabalhar pelos direitos da população LGBT no país – principalmente pelas pessoas transgênero. Gopalan é famosa por adentrar os esconderijos das minorias sexuais de todos os tipos, trazendo luz e esperança a pessoas que de outra maneira seriam abandonadas na escuridão.
Anna Grodzka, Polônia
Antes mesmo de Grodzka se tornar a primeira pessoa transgênero a ser eleita para o Sejm, a câmara dos deputados do parlamento polonês, ela já levantava a bandeira da legalização da maconha e do casamento igualitário. Agora que ela já está no poder há quase três anos, Grodzka tem utilizado sua posição para promover discussões sobre os direitos LGBT em seu país, extremamente católico. No início do ano ela e o primeiro político abertamente gay da Polônia a ocupar um cargo federal, Robert Biedron, sentaram-se na primeira fileira do parlamento polonês depois que um ex-presidente declarou que figuras LGBT deveriam se esconder “atrás de um muro”.
Kasha Nabagesera, Uganda
Os homens de Uganda são as vítimas mais comuns de que se tem notícia das leis extremamente homofóbicas do país e seu ambiente violento, e é uma mulher que vem se destacando no combate a essa situação degradante. Kasha Nabagesera, diretora executiva da organização Freedom and Roam Uganda, é uma ativista lésbica que vem batalhando incansavelmente por um tratamento melhor, igualdade perante a lei, e justiça. Seu apelido, “Kasha Bombástica”, já diz tudo: ela combate ferozmente um sistema que está avassaladoramente contra ela.
Kenita Placide, Santa Lúcia
Muitos veem o Caribe como o paraíso, mas as leis e a perseguição contra homossexuais tornam a vida dos habitantes LGBT da região muito difícil. A organização Immigration Equality constatou que a Jamaica é o país de onde vem o maior número de pedidos de asilo no momento, depois da Rússia. Mas, na ilha de Santa Lúcia, Kenita Placide não deixa que os direitos dos homossexuais sejam deixados de lado. Ela é a co-diretora executiva da organização United and Strong Inc. de Santa Lúcia, a coordenadora do Fórum pela Liberação e Aceitação dos Gêneros e Sexualidades Caribenho, e parte da Secretaria das Mulheres da International Lesbian and Gay Association. Ainda mais curioso, porém, é que Placide foi escolhida a Pessoa do Ano 2013 por Júri Popular pelo jornal St. Lucia Star. “Eu percebo que, apesar de recebermos muitos comentários negativos, por meio da educação e da informação nós estamos tornando a vida de muitas pessoas muito, muito mais fácil”, ela disse ao jornal. “Uma coisa é ter medo do que é desconhecido, e outra é dedicar algum tempo para compreender as questões em pauta.”
Pussy Riot, Rússia
A banda punk feminista de protesto Pussy Riot tornou-se um símbolo da rebelião e da censura na Rússia de Vladimir Putin, um país que vem se esforçando para reduzir quaisquer direitos que a população LGBT porventura tenha adquirido nas últimas décadas. A fama global da banda explodiu depois que alguns membros passaram uma temporada na cadeia por “perturbar a ordem” após o governo sancionar a lei que proibia a “propaganda” LGBT.
Mariela Castro, Cuba
Uma das maiores surpresas vindas de Cuba na última década também carrega o sobrenome Castro – mais especificamente, a filha do atual presidente Raúl Castro e sobrinha de Fidel, Mariela Castro. Sua campanha sincera pelos direitos LGBT capturou a atenção internacional, especialmente quando se considera que seu país natal é conhecido por ter mandado pessoas LGBT para campos de concentração durante os anos 1960 e 1970, e promover uma cultura que força muitos a passarem décadas no armário. Agora, graças a seu trabalho e sua colaboração com outros ativistas, a situação está melhorando. Castro é a diretora do Cenesex (Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba), e sua proposta para que o governo bancasse os procedimentos de alteração de sexo tornou-se lei em 2008.
Fonte: Advocate.com