Traduzido do artigo escrito por T Cooper para o site da CNN. T Cooper é romancista e autor da memória Real Men Adventures, uma meditação sobre a masculinidade. Ele é co-fundador, com sua esposa, do wearechangers.org, um projeto para desenvolver empatia em jovens adultos. Seu último livro é Changers, um romance infantojuvenil que acabou de ser publicado.
Recentemente Katie Couric entrevistou a modelo Carmen Carrera e a estrela do seriado Orange Is The New Black, Laverne Cox, em seu programa. Cox e Carrera são ambas transsexuais homem para mulher que estão em fases de sucesso em suas respectivas profissões. Como tais, foram entrevistadas para um episódio do programa de Couric entitulado “Desbravadoras Transgênero”.
Como eu mesmo sou um desbravador transgênero – ou seja, meu gênero de nascimento é feminino, e eu fiz a transição para o gênero masculino mais tarde – eu assisti ao programa Katie com a esperança de que finalmente havia chegado o momento em que não se perguntaria ao entrevistado transgênero sobre suas partes íntimas.
Minhas esperanças foram rapidamente ceifadas no momento em que, gaguejando, Couric perguntou para Carrera “Suas, suas, suas partes íntimas são diferentes agora, não são?”.
Carrera, obviamente pega de surpresa, respondeu com elegância, educadamente informando a Couric que ela não se sentia bem tendo que dar informações sobre algo tão pessoal quanto sua genitália.
Assim como qualquer outra pessoa.
Quando Couric lançou a pergunta para Cox mais tarde no mesmo episódio, Cox habilmente completou a resposta de Carrera dizendo que dedicar tanta atenção aos corpos das pessoas transgênero as objetifica. Ainda mais grave, ela apontou, o foco nas partes íntimas desvia a discussão cultural de questões mais relevantes e urgentes, como a violência e a descriminação que pessoas trans (e transmulheres de cor, principalmente) encaram todos os dias. (Num episódio posterior, Couric comentou esta resposta a suas questões sobre a anatomia de suas convidadas.)
Como alguém que já foi abordado inúmeras vezes por completos desconhecidos curiosos para saber o que acontecia ou não dentro de minhas calças, eu acho que esta é uma boa oportunidade para sugerir oito coisas que NÃO se deve dizer a pessoas transgênero, uma listinha que pode fazer com que suas festas de escritório, reuniões familiares, deveres públicos – ou entrevistas perante milhões de telespectadores – transcorram mais tranquilamente.
- “Você parece de verdade, eu jamais adivinharia!” Apesar de dito com a melhor das intenções, essa é uma das afirmações mais arrasadoras. Nós não precisamos que as pessoas não-trans reafirmem nosso gênero, e sutilmente implicar que nós somos de mentira – ou fantasiad@s e tentando enganar você – nunca nos cai bem. Pessoas transgênero não são bijuteria.
- “O que é que você faz com a sua esposa?” E o que é que você faz com a sua? Eu – ou qualquer outra pessoa transgênero – quero responder a um questionário sobre minha vida sexual tanto quanto você.
- “Eu achava que você seria uma pessoa assustadora, mas você é tão educado e normal.” Uma vez, uma mulher que era minha motorista em uma feira de livros chegou a me dizer exatamente isso, antes de admitir que tinha deixado seus filhos em casa quando descobriu para quem ela teria que servir de chofer. Desconfio que ela achou que estava soltando um elogio, mas não estava. Nem mesmo quando usou “normal”.
- “Não me importa, você sempre será uma mulher para mim.” É verdade que suas experiências são suas e minhas experiências são minhas. Mas é uma questão de decência pura e simples se referir às pessoas com os pronomes e os nomes preferidos por elas. (Portanto não continue a usar o nome de nascimento se você sabe qual ele é, e não pergunte “Qual é o seu nome de verdade?” se você não sabe.) As mulheres adotam os sobrenomes dos maridos há séculos, e gerações e gerações de seres humanos nunca tiveram muita dificuldade em acompanhar a troca de nomes. Não é muito difícil ser respeitoso, então deixe de resmungar sobre como a transição de outra pessoa está sendo difícil para você.
- “Você não tem medo de apanhar?” Obrigado por me lembrar disso. Houve uma vez no começo da minha transição em que um grupo de moleques no metrô sacou uma faca e me provocou dizendo “você acha que é muito macho?”. Já fazia um tempo que eu não me preocupava com a possibilidade de me tornar vítima de um crime de intolerância até você tocar no assunto!
- “Deixa eu te apresentar meu amigo Tyson; ele é um trans!” Não é uma boa você expor uma pessoa transgênero sem a permissão dele ou dela. É uma questão de respeito e privacidade. Infelizmente, pode ser até uma questão de segurança pessoal. (Outra coisa: não use “trans” como substantivo.)
- Quando é que você percebeu que era gay?Eu sei que isso pode causar confusão, mas é importante entender que a sexualidade (por quem você sente atração) e identidade de gênero (o gênero com o qual você se identifica) são duas coisas diferentes, e muitas vezes não relacionadas. Pessoas trans podem ser gays, héteros, bissexuais, assexuais, pansexuais, ter tesão por meias usadas – basicamente qualquer expressão sexual que pode ocorrer em pessoas não-trans.
- Quando você fez “a cirurgia”?E assim nós retornamos à pergunta que Couric fez a Carrera e Cox. Não há uma única cirurgia, e a verdade é que pessoas transgênero têm uma enorme variedade de situações ocorrendo “lá embaixo”, e em todas as outras regiões do corpo. Alguns fazem cirurgias; outros não. Alguns fazem tratamento hormonal; outros não. Alguns não têm dinheiro para bancar nem o tratamento hormonal nem a cirurgia; alguns fazem um, mas não o outro. Outros têm os meios e realmente fazem “tudo”, como se diz.
Independentemente dos detalhes (e das tradições patriarcais da sociedade), o gênero não se reduz à presença ou ausência de um pênis. A não ser que uma pessoa se ofereça para discutir o assunto, as partes íntimas das pessoas transgênero, assim como as de qualquer pessoa, devem ser mantidas íntimas.
Então eu tiro o chapéu para Carrera e Cox por – a despeito do que está em suas calcinhas – terem o culhão de dizerem “não” às questões deseducadas de Couric.
Adorei seu texto ,isso nos ajuda e muito .THANK YOU !
Adorei o texto. Sendo amiga de trans e conhecendo el@ antes da mudança é dificil essa parte da troca de nome, não pq eu não aceitei a mudança, longe disso, só pelo habito mesmo de sempre chamar de A e dps ter que chamar de B. O bom é que el@ é bem tranquil@ com isso. Tudo é uma questão de respeito, e eu amei a mudança pq continuo amiga da mesmíssima pessoa porém mais feliz e completa.
Cara eu curto muito os seus textos, sou gay e convivo com pessoas trans e sei como é difícil conviver com o preconceito e a grosseria das pessoas que se acham normais. Eu realmente gostaria que todas as pessoas tivessem a oportunidade de ler um site como o seu tão esclarecedor. Parabéns continue nessa luta que é de todos nós pode até parecer que não, mais de certa forma o seus textos promovem o ativismo que precisamos pra melhorar ao menos um pouco o ambiente em que vivemos. Abração.