“Looking”: a pasteurização do gay para o grande público

No esforço de provar que eles são iguais a todo mundo, a HBO criou o seriado sobre gays mais chato de todos os tempos

por Marcio Caparica

Um gatinho se embrenha entre as árvores de um parque com um tiozão barbudo. Eu, você, todos os gays sabem o que isso significa: pegação. Certo? Mas o bonito fica tentando puxar conversa, reclama das mãos frias do barbudão, o celular toca, e assim a cena dessa expressão sexual tão clássica e clandestina do mundo gay se desfaz na comédia, que termina com o rapaz fugindo do mato com uma cara aliviada.

Esses são os primeiros momentos do seriado Looking, que estreou no último fim de semana na HBO dos EUA. Comparado por Deus e todo mundo ao seriado Girls, do mesmo canal, ele acompanha três amigos gays que vivem em San Francisco e seus relacionamentos amorosos. Os primeiros minutos do episódio resumem bem como serão os outros vinte e poucos: promessas de temas titilantes retratados da maneira mais monótona e não-controversa o possível.

Chega a impressionar que isso aconteça num seriado da HBO, famoso por aumentar o volume da sexualidade em todos os outros seriados. Mas aparentemente a proposta de Looking é provar que gays são gente como todo mundo, e para isso deve-se fugir do clichê do viado hipersexualizado. Então, apesar de atiçar o telespectador ao longo de sua meia hora com várias situações potencialmente excitantes, o máximo de nudez que se vê é um stripper numa festa, ao longe. Quem estiver a fim de ver homem pelado vai ter que recorrer a seriados mais héteros como Game of Thrones.

E nesse esforço de normalizar o homossexual, o seriado insiste em bater na distinção entre os protagonistas e os “outros” gays: nossos heróis não são promíscuos como “aqueles outros”. Patrick, o bonitinho da primeira cena, mais tarde conta o que fez mas se apressa para apontar que não costuma fazer isso. O casal que dá a sorte de fazer um ménage reflete depois: “será que nós somos ‘aquele’ tipo de casal agora?”. Nem mesmo o coroa pegador faz a biscat: quando não consegue levar um garçonzinho para a cama depois do trabalho, se limita a suspirar deitado no sofá, olhando para o nada… Nem parece que está em San Francisco, onde certamente quem quer não quer terminar a noite sem transar só precisa dar uma voltinha no Castro ou acionar o Grindr.

O que se vê é, então, uma intenção de se heteronormatizar a vida gay. Oferece-se pitadas de viadagem, mas nada tão extremo a ponto de causar desconforto para o telespectador hétero. Bobeando, serve de modelo ao qual poderão almejar tantos gays que buscam “enobrecer” sua homossexualidade aproximando-a do padrão vendido pelas revistas femininas dos últimos quarenta anos: uma busca pelo príncipe encantado, que vai unir o romantismo com uma vida sexual animada por aquele caderno lacrado da edição do mês passado.

É claro que a vida real é muito mais complexa – e por isso mais interessante. E assim, Looking perde muitas possíveis situações dramáticas. Sim, é ótimo ver um seriado 100% sobre homens gays. E não, nem todas histórias gays têm que incluir o momento de sair do armário, ou dilemas sobre como ser gay em sociedade – todos os personagens de Looking já passaram por isso, o que é ótimo. Mas se você remove todas as arestas da vida das bichas em prol de uma normalidade a toda prova, o que resta? Como bem aponta J. Bryan Lowder, se os três personagens fossem héteros, haveria razão para assistir esse programa?

Looking parece seguir o princípio de que legal é o gay que não é gay demais. Analisando-se a maneira como se retrata homossexuais na televisão, de um lado estão todas as caricaturas da bichinha que até hoje agraciam nossos televisores. Agora conseguimos descobrir um novo ponto no outro extremo: a bicha que é tão parecida com qualquer outro hétero que praticamente se torna um hétero também. A versão televisiva do gay no sigilo, fora do meio. Dois extremos de uma escala que dão a volta para se encontrarem no mesmo ponto de preconceito.

E o resultado acaba sendo meia hora de televisão chata. Os atores são lindos, mas conversinha vai, conversinha vem, e nada muito acontece no episódio inteiro. Se os produtores queriam comprovar que a vida de gays pode ser tão pastel quanto a de qualquer outro ser humano, parabéns, conseguiram.

Dez anos atrás Queer As Folk apresentava uma gama maior de situações e personagens que aparentemente Looking se propõe. Obviamente o momento é outro, mas convenhamos, por mais que hoje os gays sejam mais aceitos, ainda há dificuldades que rendem boas histórias. E os homossexuais continuam a ter comportamentos sociais e sexuais próprios, que podem desagradar o gosto de muitos, mas fazem parte de nossa cultura. Gays podem render histórias melhores – e mais picantes – que os contos de fadas.

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43 comentários

Ale

Embora seja cada vez mais comum encontrar-se com personagens gays em séries de maior sucesso e / ou mais valorizado não é de todo incomum encontrar ficção televisiva como looking com Lauren Weedman para girar em torno das preocupações e experiências das personagens gays e seu mundo.

Matheus A.

Acabo de terminar a primeira temporada de Looking… E comecei a ler essa crítica. E achei ela precipitada. Porém, a partir do 6o parágrafo, ela começou fazer me questionar…

Eu entendo que a vida dos gays é bem mais agitada (para uma considerável parcela), mas eu acho legal (e isso quase me faz ficar a favor de Looking 100%) o fato do seriado já ter passado pela repetitiva tecla (que a TV adora abordar) que é a tal saída do armário e a historia se passar num ambiente de pessoas já bem resolvidas. Eu vivo num país onde um beijo gay na tv ainda gera muita polêmica e, pra mim, seria exigir demais chegar a esse nível de achar que uma “monótona” (nem tanto: a primeira temporada fechou deixando gostinho de quero mais) vida de um gay seria tb não seria assim. Eu, por exemplo, me vi no Patrick em algumas situações e isso conta para que teve a mesma identificação. E tb é claro que se a história fosse com heteros, não teria muita graça. Mas qual o problema da graça ser essa? A de justamente ser com gays.

Ser monótono não significa, necessariamente, heteronormalização e a comparação com QAF é duvidosa: Looking tem um enredo muito mais rico do q esse outro, que era cheio de dramas teen de fácil consumo. Vamos dar mais chances a HBO e ao seriado.

Caio

Não gostei da crítica. Como assim: “nossa cultura”? Tudo bem que de maneira geral existe o chamado “mundo gay”, mas nem todos os gays vivem em função dele e já estava na hora de um seriado sair um pouco desse foco. E qual o problema de ser mostrado o lado de uma vida comum, a qual muitos homos levam? Por que sempre é preciso por muita ferveção e pinta? Chega dos estereótipos clichês, um pouco de inovação não mata, pelo contrário, melhora.

Carlos

Que exagero. Como alguém pode escrever uma crítica baseado em trinta minutos de um episódio? Calma, assista meia dúzia de capítulos ou uma temporada e volte a escrever.

Sem dizer que a linguagem usada no texto é lamentável.

Guto

Discordo completamente do autor do texto. Me sinto mto mais representado por looking do que por QaF ( que gosto mto). Não acho que o seriado seja preconceituoso, apenas mostra um dos lados da diversidade LGBT. E acho melhor que saia daquele gay caricato, afeminado que serve de humor, ou então do promíscuo e sem pudor, que se resumo em sexo. Quero ver o andamento da serie para avaliar melhor, mas até agora só lamento os episódios serem tão curtos e rápidos.

Danilo

Marcio, concordei ctg em tudo. O seriado parece que vai ser bom. Bem mais atual que Queer as Folk, but, mto fofinho. Vamos ver como serão os próximos episódios.

Bjo!

David Ramos

Eu só acho que estamos dando uma sentença de morte para um seriado que acaba de começar e que só foi visto os primeiros 30 minutos.
Que tal fazer uma outra análise depois do terceiro ou quarto episódio?

David Ramos

Porém Marcio, por ter sido um episódio piloto, deveria ter tido o dobro do tempo…. Por isso ficou esse vazio nas expectativas.
Vamos esperar os próximos episódios e seus novos comentários!

tonu

“Bichas”, “viados”, “pegação”… isso sim é pasteurizar e reduzir o “universo” gay. Nem todo mundo vive grudado no grindr ou em cantos escuros de boites. Estar fora da cena não é heteronormatizar, é exercer uma opção. E dizer que pra ver homem pelado é preciso ver seriados “mais heteros” – e eu nem imagino o que isso quer dizer, pois não existe esse tipo de classificação indicativa – é o fim da falta de senso. Quer ver homej peladp e cenas de putaria? Assina o forman. Reduzir o público e a vida gay a esses clichès é um desserviço.

Alvise Lucchese

Marcio, querido! Tudo bem?

Espero que você tenha assitido o segundo episódio ontem (tá bem melhor, viu?). Já tem algum update pra dar ou sua opinião continua a mesma?

O que acho da série é o seguinte: de fato ela esquenta mas não escracha. Creio que isso seja uma atitude… digamos… “editorial” da HBO de não pegar pesado em relação a cenas de drogas, sexo, bla bla bla… E concordo que o canal deve ter diminuído a sexualização da coisa exatamente pra não perder audiência.

Há 10 anos atrás, o QaF vinha dar um soco nos telespectadores, visto que o momento pedia essa penetração (trocadilho infame) dos gays na mídia. Isso veio agregar uma caracterização exarcebada da nossa vida cotidiana: a bicha pegadora, a pão-com-ovo, festas, drogas, HIV… De fato foi muito importante para construir a tal cena gay que vimos hoje (quer exemplo melhor que a principal festa da TWSP ser totalmente inspirada na balada que os personagens iam, até no nome?) Te falo que não consegui assistir toda a série (eu era novo demais, não tinha TV a cabo e só acompanhei via internet, anos depois). Não me identifiquei em tudo, não gostei, achei uma pintura muito forte! Parei de assitir.

Hoje os gays são mais aceitos e conscientes do seu papel na sociedade. Hoje, aos 29 anos, me identifico muito mais com Looking do que com QaF. Também passei por todas as fases que foram mostradas em ambas as séries e te digo: talvez levar uma vida mais discreta, quieta, não seja uma escolha tão ruim e não venha acompanhados de milhões de crises.

Em um episódio de 30 minutos fica muito complicado entrar a fundo (outro trocadilho) em questões sérias e que passam pela cabeça de todas as pessoas gays ou não, mas serve pra mostrar que não somos melhores ou piores que ninguém, o que já é um avanço. Crises existenciais e profissionais, confusões amorosas, etc., são problemas comuns a todos e vão existir para todo o sempre. Mas mostrá-los através de uma ótica GLS e como em específico esse público lida com isso, é algo que merece nossa atenção especial.

Em tempo: adoro o site de vocês! Continuem botando lenha na foGAYra! Beijo grande e mais sucesso! 😉

Daniel

Duvido que seja uma atitude “editorial” da HBO pq a emissora é conhecida por dar liberdade às suas produções originais. A emissora que acaba de produzir a brilhante Masters of Sex não ia atenuar com a primeira série gay, tenha certeza. E lembre-se que Looking é exibido após Girls que não economiza NADA nas cenas de nudez. Essa é uma escolha do criador.
Independente da polarização do debate (cotidiano de gays comuns x gays baladeiros), a série não funciona como produto de entretenimento. E é isso que todos os grandes veículos de comunicação falam: New York Times, Washington Post, Boston Herald, Gawker, Slate. Todos afirmam que Lookin é BORING. E todos já viram os primeiros episódios, se não me engano a primeira temporada completa.
E eu concordo.
É difícil ouvir pq talvez ficamos muito tempo sem uma representação num meio tão mainstream. Ainda mais uma representação de um gay sem estereótipos e sem afetação, mas o roteiro de Looking é pobre e as atuações idem.

Do protagonista de inocência irritante e inverossímil, ao amigo mais velho e mais sábio, o colega de trabalho engraçadinho e de outra etnia que funciona de alívio cômico. Tudo os personagens são meio clichês. E não teria problema se viesse acompanhado de diálogos inteligentes, mas tudo é muito parado e sem dinâmica.

Sendo exibido tão perto de Girls é outra coisa que só prejudica Looking, porque Girls tem a mesma estrutura mas é muito mais ágil e dinâmico nos diálogos e inteligente mesmo.

Marcio Caparica

Muito boas suas observações, Daniel! E você também tocou num ponto digno: o pessoal já elegeu Looking como queridinha. Cria aquela situação em que, se está nela, é porque é bom.

Atwood

Acho que o seriado mostrou bem uma parcela dos gays, eu por exemplo me identifiquei muito, não sou de sair, tenho uma vida tranquila, acho que o seriado faz bem o que se propôs que é mostrar esse lado da vida gay.
Temos que pensar do mesmo jeito que existe N seriados héteros que mostram N tipos de personalidades, porque não podemos ter N seriado gays que mostram N tipos de personalidade ? Looking foi inteligente em retratar essa outra faceta da população gay, pois a faceta do lado mais festeiro e sexualizado já foi muito bem abordado em QaF, apenas isso é um seriado gay mas que retrata outra faceta gay, como tem seriados héteros que retratam facetas diferentes dos héteros.
Temos é que comemorar quando mais material gay e mais diversificado na personalidade desses gay é melhor e não ao contrário.

Alexandre

Oi 😛
Não quero dizer que o seu ponto de vista esta errado, para o primeiro episódio, os personagens realmente mostraram esse perfil. Mas não significa que este perfil não exista no mundo gay. O tal ”mundo gay” é repleto de diversidades, e não existe uma maneira de colocar toda essa diversidade em um único episódio, e novos personagens provavelmente iram surgir, acho que você ficou mais decepcionado por não ter mostrado algo desta ”diversidade” no qual esperava. Mas uma coisa é certa, o que você chamou de ”heteronormatição”, esta presente na vida de muitos, muito mais do que imaginamos. A aceitação da homossexualidade tem-se aumentado e muitas pessoas apenas buscam viver como todos os outros, logo não deixa de ser uma representação de um dos ramos da sociedade gay. Não espero um QaF, mas é sempre uma boa oportunidade de mostrar algo aos homofóbicos, por que antes de ser homoafetivo/heteroafetivo somos humanos.

Marcio Caparica

Estou adorando essa discussão aqui nos comentários. O barato do blog é esse, trocar ideia com os leitores. Já vi aqui vários argumentos ótimos para eu pelo menos continuar assistindo nas próximas semanas… e fazer outro post quando terminar a primeira temporada. 😉

Bruno

Olá Marcio, tudo bem?

Bom, acabei de ver o episódio e achei que foi um bom primeiro episódio. Na verdade não sei qual o rumo à série irá tomar, tampouco conheço o “mundo gay” de San Francisco, mas achei bastante interessante.

Acho que na verdade é difícil mostrar um gay não estereotipado, como acontece geralmente aqui nas novelas, até porque, na verdade existem tantas diferenças nesse meio, que achar um “padrão” é difícil.

Não identifiquei essa intenção de heteronormatizar à vida gay. Acho que na verdade crescemos em uma sociedade que sendo gays ou não, ainda é muito forte essa “romantização” dos relacionamentos e a necessidade em ter um par. Tenho amigos, por exemplo, que “sofrem” quando estão solteiros e idealizam um par romântico como sendo a única fonte de felicidade. Assim como tenho amigos que idealizam esse par de outra forma, porém se divertem com apps e noitadas e conseguem ao mesmo tempo “buscar” uma pessoa, assim como o personagem principal.

Acho que gosto desse formato do seriado. Assisti “Queer As Folk” anos atrás e achei bem ousado a forma em que a história de desenrolava, mas confesso que não senti nenhum tipo de identificação com aqueles personagens.

Enfim, achei sua opinião pertinente e sua visão bem clara, mas acho que deve ser considerado os diversos padrões de comportamento. Eu, por exemplo, jamais me sentiria confortável na situação do mêtro, em que os caras flertam e até rola um papo. Mas outros caras conseguiriam se sair super bem e dali rolar um encontro, um sexo ou o que seja.

Achei interessante, vou esperar os próximos episódios. Adorei o site, os layouts e o conteúdo .

Um abraço.

MARCOS GOBERTO

Achei uma crítica demasiada precipitada. E, embora o primeiro ep tenha sido morno, abordou temas que são vividos pelos gays sim! Arrisco até em dizer que são temas disfarçados, mas que será magnífico poder ver isso na serie. Afinal, nem todos os gays vivem nos parques fazendo pegação; Em contrapartida, há os moralistas, como o médico do encontro; A pegação fácil e desinibida no metrô; A bicha que namorou no máximo por 5 meses; O casal que transa a 3 e assim como para muitos gays, é uma experiencia incomum…Só acho que explorar apenas o gay do Queer as folk é uma furada! Não existe essa de que o gay está sendo abordado de forma “X” ou “Y”. Afinal de contas não existe uma forma exata. A série, por enquanto, mostrou de um jeito e que não impede de ir além!

Naldo

Acho interessante o mimimi de sempre: se é estereotipado demais isso quer dizer bicha quá quá ou eterno caçador hipersexual é ruim,se pasteuriza não presta ,realmente é dificil agradar !O que seria real ou interessante para novos personagens gays que fugisse da caricatura e do clichê?Penso como roteirista,não há muito como fugir dos clichês já que pouca gente se dispõe a enxergar a realidade e encara-la de forma honesta,embora seja ficção e depois porque afinal gritamos que somos normais como qualquer pessoa?eu entendo que há gays de todos os tipos!Não é pq o conteudo é gay que tem que ser sensual,ta aí o félix com seu sucesso e mesmo assim as afetações são criticadas,é preciso enxergar,ver é para todos,mas enxergar é refletir com olhos diferenciados!

Lucas

Eu particularmente já adorei Looking só por ter uma temática que me interesse: Gays e relacionamentos. Tenho 29 anos e já passei pela fase da balada, pegação, das drogas, do sexo a 3, grupal, das desilusões amorosas e acredito que não vou voltar a fazer essas coisas porque simplesmente não me acrescentam em nada. Eu estou procurando um relacionamento monogâmico já ha um tempo, mas acredito que por conta de a maioria dos gays serem clichês, isso não tem se tornado possível. Me identifiquei muito com a busca dos personagens por uma vida normal. Não gosto de esteriótipos. Gay, hétero… porque temos essa mania de querer padronizar tudo? Não acredito que um gay que não faça parte do lifestyle gay seja heteronormalizado. Gostei muito da série e vi um pouco de mim em cada personagem e até mesmo em algumas situações.

MARCOS GOBERTO

Concordo pow! O que foi abordado na série está intrínseco em muita gente. E isso vale a pena ser visto também. Não apenas o gay baladeiro, que fode a 3, galinha e tals(não sou moralista). Não por nada, mas porque isso já é tão taxativo e clichê que já cansou!

diego pinto

Poxa Marcio no piloto tem uso de drogas e sexo a três. Como assim heteronormatividade?
Posso entender a comparação com Girls. Gostei bastante dos personagens.

Marcio Caparica

Fumar baseado não conta mais porque, para todos os efeitos da TV americana atual, maconha está tão normalizada quanto álcool. E o sexo a três… mostra mas não mostra, né? Registra que acontece, mas não chega a mostrar qualquer coisa num ménage que seria muito controverso. Não tô falando que precisa mostrar a trepada, mas que tal um beijo triplo? Um beijo triplo seria numa medida boa de algo real, fora do status quo e vestido. Como eu disse, atiça, mas não “pega pesado”, para não tirar os telespectadores HT muito de sua zona de conforto, suspeito eu.

Tiago Ferreira

Esqueci de dizer: não vi contos de fadas no piloto de Looking. Só por que não se parece com a vida do autor, não quer dizer que seja conto de fadas. Eu achei uma ótima história e odiava Queer as Folk, essa sim, na minha opinião, uma história clichê, horrorosa e muito mais distante da realidade que conheço. Não suportei nem acabar a primeira temporada de tão ruim e caricatos que eram os personagens. Nível Malhação de caracterização de personagens.
Mas a maioria das pessoas amava… eu sempre achei aquilo longe da vida gay carioca que conheço. Uma coisa plastificada, pasteurizada, bem americana, tão distante de mim quanto a lua.

Marcio Caparica

Oi Tiago! Bacanas seus comentários. Vamos lá:

  • Não quis dizer que “gay de verdade tem que ser promíscuo”, mas acho que um seriado sobre a vida dos gays que não se propõe a mostrar essa promiscuidade – que existe – de alguma forma está fazendo um retrato equivocado da vida gay. Nem todos têm que ser promíscuos, mas nenhum ser promíscuo também acho bola fora.
  • A meia hora de televisão não é chata porque não tem sexo. É chata porque é chata. Eu não acho que a presença de muito diálogo seja a razão do tédio, mas sim o fato de serem diálogos que nem muito avançam a história, nem são particularmente inspirados ou espirituodos (por isso eu os chamei de “conversinha”). Na verdade eu nem assisto Game of Thrones porque estou lendo os livros antes de assistir a série, mas me pareceu irônico que o telespectador que queira ver homem nu não encontre isso no seriado gay, mas sim no de fantasia.
  • E superconcordo com o que você falou sobre monogamia!
  • Conto de fadas: usei essa expressão para denotar quando uma história se baseia na busca por um príncipe encantado. Que é, ao que parece, a premissa de Looking. Não é? 🙂
Lugh

Não achei ruim, na realidade achei superbacana. QaF me parecia muito distante da minha vida pq não convivi com aquele glamour todo. Todo gay tem que ser estereotipado? Não existe gay que não é afeminado? O personagem do Jonathan Groff é o gay meio nerd – o que me fez se identificar de cara – não parece o gay convencional.O putão parece estar entrando em crise. Fazer todo um julgamento em um primeiro episódio é complicado. No início ele diz, não sabia que as pessoas AINDA faziam isso. Nem todo gay precisa ter uma vida agitada. Nem todo mundo tem uma vida a la QaF. Eu não tenho. Escolha minha. Essa série me representa melhor.

MARCOS GOBERTO

Também tenho aversão a forma como Queer as Folk aborda a temática gay. É real sim mas não é só isso!

Tiago Ferreira

Na tentativa de tentar criticar uma suposta heteronormatividade do seriado, creio que o autor do texto força uma homossexualidade padrão. Só falta dizer “gay de verdade tem que ser promíscuo, tem que transar muito, se não faz isso, está copiando um padrão hétero”. Como se a vida dos héteros fosse assim tão sem sexo, aliás. Como bem demonstra Foucault, falar, expor o sexo, não é sinônimo algum de liberdade. Esse sempre foi um dos problemas do gueto homossexual masculino: a crença no mito de que fazer muito sexo, por si só, é sinônimo de liberdade, de progresso. Não é. Liberdade é poder escolher de acordo com as circunstâncias. É poder dizer “sim”, “não”, “talvez”, “por enquanto não”, etc. Acho um erro crasso o autor do texto dizer “E o resultado acaba sendo meia hora de televisão chata. Os atores são lindos, mas conversinha vai, conversinha vem, e nada muito acontece no episódio inteiro.” Ora, um seriado com personagens gays não pode ser centrado nos diálogos? Tem que ter sexo pra ser bom? O sexo tem que ser o assunto principal? É o sexo que seria o acontecimento esperado? Conversa não é acontecimento? Por que raios d’água temos que ver um seriado esperando que apareça um homem pelado? O objetivo de uma série é contar uma boa história. Pode aparecer um homem pelado, mas não há necessidade alguma disso. Fico perplexo que alguém ache que tem que aparecer. O autor do texto assiste Game of Thrones pra ver homens pelados? Quando eu quero ver homem pelados eu vou no Xvideos. Vejo Game of Thrones pq a história é do caralho, simplesmente. Posso até curtir cenas de nudez, mas elas não são o objetivo principal e, na verdade, no caso em questão até atrapalham um pouco a história e algumas são apelativas.
Agora, isso quer dizer que sou moralista por isso? Muitos podem achar que sim. Eu apenas creio que a liberdade sexual não pode ser atingida com a simples exploração do sexo e sua banalização.
O máximo que podemos criticar o seriado, até agora, é pela forma como tratou os relacionamentos e não o sexo. A questão é a monogamia compulsória e não o sexo em si. Acho que o autor apontou um erro possível que o seriado pode cometer, mas o direcionou para a questão errada. O que o seriado parece defender é a monogamia como única forma possível de relacionamento, ou a forma mais superior. Nesse caso, seria um erro grotesco. Por outro lado, é inegável que a maioria dos gays, hoje em dia, busca relacionamentos monogâmicos e critica quem não se encaixa nesse padrão. De fato, não acho um erro que os personagens de Looking queiram um relacionamento tradicional, pois seria apenas a retratação da realidade. Desde que não se torne uma coisa moralista do tipo “Tem que ser monogâmico pra ser respeitável”, não vejo problema algum. Existem pessoas que são monogâmicas, ora. Elas podem querer continuar sendo e não há problema nisso, desde que respeitem quem não é. Se o seriado seguir essa linha, terá meu respeito.

Marco Túlio Alcantara

IRRETOCÁVEL SUAS PALAVRAS TIAGO! CONCORDO TOTAL E PLENAMENTE! O SEXO, O EROTISMO E A NUDEZ DENTRO DA HOMOSSEXUALIDADE SÃO DETALHES ASSIM COMO O SÃO DENTRO DA HETEROSSEXUALIDADE. DEPENDENDO DA DEMANDA DE CADA ESPECTADOR, TEM OPÇÃO PARA TUDO, DESDE XVÍDEOS ATÉ HBO! PORÉM FALTAM HISTÓRIAS PLAUSÍVEIS, E É NESSE SENTIDO QUE “LOOKING” PARECE PODER NOS CONTEMPLAR, SENÃO NO PRIMEIRO EPISÓDIO, MAS AO LONGO DA TEMPORADA. É ESPERAR PARA VER…

Beto

Parabéns Tiago.
Adorei a sua resposta ao texto do nosso amigo acima.
Concordo plenamente em tudo que você disse

Daniel

Acho que você tá enganado.
O problema não é a falta do ato sexual e sim a atitude do personagem Patrick diante do sexo. Ele quer ter uma postura sexual mas acaba sendo uma Britney Spears na época de “I’m not a girl not yet a woman”. Essa suposta inocência do personagem principal é meio irritante, o que foi confirmada no segundo episódio.
E quando o autor se refere a “que nada acontece no episódio”, eu concordo totalmente. Nada acontece em Looking. Mas isso não significa que devesse acontecer sexo. Seinfeld se notabilizou por ser uma série sobre nada. Girls (que comparam constantemente Looking) também não acontece nada. Mas a diferença é que ambas tem estofo. Ambas tem um lastro de um roteiro irônico e boas atuações.
Looking é apenas atores bonitos.
É difícil porque todo mundo já escolheu a série para queridinha, mas Queer as Folk tinha muito mais o que falar, e não era uma série de putaria (como andei lendo por aí).
Retratar o cotidiano comum de um gay comum, ok? Se o objetivo é passar longe das “grandes questões”, ok? É válido
Mas então que tenha um bom roteiro e boas atuações.

Luiz Fernando

Disse tudo, Tiago. Eu acho que gays nunca estão satisfeitos! Lembro muito bem que na época de QAF reclamavam (e reclamam até hoje) por ter muita putaria. Hoje reclamam de Looking porque não tem putaria. Pelamor!

Eu também não vejo Game of Thrones pra ver homem pelado. É apenas um plus.

Quando retratam um gay afeminado, acham a pior coisa do mundo. Mas quando retratam um gay com comportamento masculino, “heteronormativo”, reclamam também. Assim fica dificil! Ambos existem e ambos podem ser retratados em séries/filmes/novelas.

Eu to adorando Looking e adorava QAF. Mas me identifico muito mais com Looking. Não sou rato de balada como a maioria dos personagens de QAF.

Luiz Cláudio

Concordo bastante com o Diego e é bastante arriscado já taxar o seriado como pasteurização gay baseado só em um piloto de 30 minutos.
Além do mais, existe sim uma vida gay mais “paradinha”, caseira e eu sinceramente me identifiquei mais com os 30 minutos de vida “caseira e cotidiana” de Looking do que com Queer as Folk que eu realmente achava cansativa e boba. Mas essa é a minha opinião, eu só acho que a gente realmente esquece que existe uma vida gay mais parada e calma e que isso não incide necessariamente em uma “heteronormatização”, partindo de um pressuposto de que a regra gay é a “balada e pegação”.
Nada contra balada e pegação, acho que até faz bem de vez em quando, mas achar que gay vive só disso e só existe gay assim tbm é um raciocínio bem rasinho né.

Além do mais, até grandes séries como “Breaking Bad” tiveram pilotos não tão empolgantes e foram se desenvolvendo surpreendentemente depois, vamos dar uma chance de Looking se estabilizar e não sair rotulando de pasteurização com só 30 minutos de conteúdo né?

Rayfan Gerbasi

Só hoje fui apresentado a esse blog/chat mto bacana e mto pertinente por sinal. Aproveitando meu dia de folga hoje li algumas matérias e ouvi algumas entrevistas. Todas muito pertinentes.
Com relação ao seriado (e a todos os demais que sempre acompanhei, bem como novelas) acho que todos são válidos, todos com suas peculiaridades, pontos positivos e negativos, porém nunca me senti verdadeiramente representado, como um homem normal e qualquer mas que sente afinidade sentimental e desejo sexual por outro homem, sem contudo mudar meu caráter, forma de me vestir, de falar, de viver a vida…
Será que é tão difícil abordar o assunto da homossexualidade com a devida e pura simplicidade que o assunto demanda?
O segredo é tratar o assunto de forma natural, da forma como ele verdadeiramente é. Mas parece que o simples não é tão fácil.
Mas se tratar do assunto homossexualidade é difícil, imagina tratar de bissexualidade.
Abraço a todos.

Bruno

Rayfan, concordo com o que disse sobre ser representado. Mas na verdade é difícil representar um “gay” sem ser estereotipado, por conta das inúmeras diferenças que existem. Tem o cara que parece “hétero” e não se acha gay; tem o cara que parece “hétero” e é discreto com sua vida; tem o cara que é abertamente gay e não tem problema com isso; tem os caras mais “afeminados” e nem sempre são gays; tem os que curtem drogas e boates e cultuam o corpo; tem os que querem casar; tem os que estão em um relacionamento mas tem vontade de ficar com outras pessoas e reprimem isso. E outros milhares de tipos e diferenças, como todos só somos: diferentes. Eu acho difícil “escolher” um tipo que represente todos. Se não for impossível rs.

diego pinto

Opa, se esta sendo comparado com Girls merece minha atenção.
Eu ainda não vi o piloto mas não acho que só por abordar gays mais “chatos” o seriado esteja sendo homofóbico. Talvez seja apenas se direcionando para este publico com a vida menos agitada. É bom lembrar que pra ser gay basta sentir atração pelo mesmo sexo, portanto existem gays de todos os tipos. Eu por exemplo, acho que vou ter facilidade de me identificar com um personagem deste seriado do que de QaF, justamente por ter uma vida menos agitada e não frequentar locais gays.
Agora, se os personagens se colocam em uma posição de superioridade em relação aos “gays que parecem gays” eu te dou razão. Isso se for a posição do seriado e não de um só personagem (que simplesmente pode ser um personagem babaca).
Resumindo, você pode não ter gostado simplesmente por ele não dialogar com você mas isso não o torna necessariamente homofóbico.

Putz, tá virando uma constante eu vir discordar nos posts de cinema e tv mas não liga não, adoro vocês. Abração!!!!

Marcio Caparica

Oi Diego! Venha sempre discordar!! Realmente, temos que esperar mais episódios para verificar as possíveis homofobias (mesmo que light). De qualquer maneira, acho triste pelo potencial dramático desperdiçado. Assiste o primeiro episódio no vídeo aí no post, e semana que vem a gente conversa mais a respeito. 😉

Weslley

Concordo totalmente com seu comentário. A unica coisa que md faz gay é o fato ds eu gostar muito de homem. Sou bem resolvido e tal, mas nao acho que eu tenha um estilo gay e nada contra quem tem.
Em QasF eu me identificava muito com o Mike. Pra mim foi o que melhor representou os varios “estereótipos” gays. O putão, o espivitado, o jovem, o portador de HIV.
Essa serie vai ser a pedida de hoje. Se falar de um “estilo de vida” que me representa acho que vou ficar bem satisfeito.

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