O ator Stephen Fry, homossexual assumido, a quem conheci quando brilhantemente protagonizou no cinema a biografia de um mestre da literatura, Oscar Wilde, também perseguido por sua homossexualidade, produziu para a BBC uma série de documentários sobre a situação dos homossexuais nos países onde sua existência é considerada péssima.
Out There (“Lá Fora”, em tradução livre) mostra o que não é surpresa para quem é gay no Brasil, na Rússia, em Uganda. Durante sua passagem pelo Brasil, Fry visitou a mãe de Alexandre Ivo, um garoto de 14 anos que foi raptado por três skinheads, torturado por duas horas e morto, estrangulado por sua própria camiseta.
No documentário, Fry mostra a mãe, em cena de cortar o coração, cheirando a camiseta do filho, para se lembrar dele. Veja abaixo:
Nada disso que você viu acima: a dor dessa mãe, o vazio, a injustiça, o ódio injustificado, nada parece comover esse degenerado desse deputado conhecido como Jair Bolsonaro.
Durante a entrevista, ele espalha para o mundo toda sua ignorância, sua boçalidade, sua prepotência ao minimizar a morte do garoto, ao disseminar uma ideia de ameaça gay à sociedade e às crianças e ao falar da vergonha que seria para os pais ao descobrirem um filho homossexual.
Pois bem, caro Bolsonaro, fora esta lista que achei na Wikipedia com os gays mais notórios da história da humanidade, digo a você sem medo: Eu, James Cimino, 37 anos, jornalista e homossexual, sou sim um exemplo para muitas crianças. Especialmente àquelas que nascem em famílias pobres, que são criadas apenas pela mãe. Sou exemplo de que, mesmo contra todas as imposições sociais, é possível estudar, trabalhar e ser bem sucedido em uma carreira ultra competitiva.
Sou exemplo de que, se você quiser mesmo, consegue entrar por mérito em uma escola técnica concorrida sem fazer cursinho. Que você, mesmo sendo filho de uma cozinheira e de um eletricista, consegue aprender a falar cinco línguas (duas autodidaticamente).
Que se você tem objetivos, consegue passar no vestibular de uma universidade pública em primeiro lugar. Que se você é obstinado, consegue levar uma faculdade por quatro anos trabalhando o dia todo, estudando à noite e, ainda assim, se destacar tirando notas altas.
Que você consegue ser respeitado por seus patrões sem ter que se esconder em um armário porque eles enxergam, antes de tudo, a sua competência e seu bom humor.
Mas, claro, minha mãe não pensava o mesmo. Mesmo eu tendo sido sempre o melhor aluno, mesmo eu tendo começado a trabalhar aos 13 anos vendendo brigadeiro na escola para ajudar na parca renda que ela aos trancos e barrancos conseguia juntar por mês. Para ela, nenhum dos meus méritos era motivo de orgulho.
Isso porque minha mãe pensava como você. Ou melhor, por causa de gente como você, embora a minha mãe tivesse a desculpa da ignorância, da dureza da realidade para pensar como pensava. E a realidade que se impunha a ela era essa realidade construída por gente como você e seus pares que transformaram esse país em um regime ditatorial, que desrespeitava qualquer ideia de individualidade, exceto quando se tratava de seus próprios interesses, expediente do qual o senhor ainda se utiliza.
Então, qual é o seu motivo de orgulho mesmo? Que exemplo que o senhor tem a dar ao Brasil? De que uma ditadura militar é o melhor para o país? Que negros têm de ser mantidos no lugar social que sempre lhes fora reservado? Que quando o senhor quiser pescar em uma reserva ambiental basta mudar a lei para atender ao seu hobby? Que mulher tem que ser tratada como objeto? Que legal é se pendurar em uma carreira política fracassada, quem nada tem a acrescentar ao desenvolvimento social do país e que é apenas centrada na necessidade de tentar ressuscitar um modo de pensar e de viver que só existe nos seus devaneios napoleônicos?
Tenho também vários péssimos exemplos que não listarei aqui é porque não devem ser compartilhados, mas nenhum deles é achar que o valor de uma pessoa está em como ela se utiliza de sua genitália. Para mim, isso diz muito mais sobre a forma torpe como o senhor vê o mundo. E as nossas referências falam mais sobre nós do que sobre nosso objeto de crítica.
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Caro leitor, se você também tem exemplos a dar para o mundo, escreva-os na nossa área de comentários e mostre que você, LGBT, tem muito mais valor que muita gente que se acha importante.
Tenho muitos amigos gays, tenho orgulho de todos eles, adoro apresentá-los aos meus filhos pq eles tem muito a ensinar, são inteligentes, viajados, estudaram muito, são honestos, batalhadores, e por acaso, são gays. E se eu fosse mãe deles terai muito orgulho deles também.
As crianças me amam. De pararem na rua e virem brincar. Sério. Acho que sou um ótimo exemplo, porque, ao meu lado, elas não escondem que estão felizes. Sou jornalista, escritora, tenho livros ganhadores de prêmios, além de um blog. Sou bem humorada, educada, perfeccionista e amo estudar. Tenho uma noiva linda e inteligente e somos muito felizes, obrigada.
Querido e equivocado Bolsonaro,
Gostaria que conversasse com um de meus nove sobrinhos, idades entre 21 e 3, e perguntasse a eles se sou exemplo ou não. Sairias do papo envergonhado de si mesmo, não resta dúvida. Sou casada com outra mulher, todos os nove convivem comigo, dormem em nossa casa, dizem que nos amam. São crianças que crescerão sem preconceitos e sabendo amar a despeito das diferenças. O que mais você acha que Deus espera de cada um de nós? Do que mais você acha que precisa o mundo hoje? De mais pessoinhas como essas ou de mais semeadores de preconceitos e ódios como você? Pense, homem. Pense.
…Não entendi também!…”morrem” de orgulho mesmo!
Não entendeu o que? Mesmo que os pais dele não morram de orgulho dele, ele morre de orgulho de si mesmo. E você? Pode dizer a mesma coisa? Aposto que não, né? Aposto que você nem leu o texto, não viu o vídeo e veio aqui cornetar e tentar reafirmar seu preconceito. Se você acha, como o Bolsonaro, que gays são motivo de vergonha, por que não dá uma olhada pra sua vidinha de merda antes de nos criticar? Ah, já deve ter olhado né…?
“Nenhum pai tem orgulho de ter um filho gay”, diz Bolsonaro em mais um dos seus devaneios. Só que dessa vez internacionalmente, em uma entrevista para um documentário em exibição na BBC. E eu concordo com ele. Calma que eu explico! Antes de tudo, um breve histórico autobiográfico (isso pode lavigne?): Não gostava de mim quando jovem. Tinha poucos amigos, não saia muito de casa, não era convidado pras festas de 15 anos, não beijava na boca, não tinha coragem de ser nem 10% do que eu realmente sou e minha personalidade pede. No período de transição pra faculdade tive síndrome do pânico e em uma das crises, tão forte, acabei tomando 40 comprimidos pra ver se passava. Em nenhum momento queria me matar, só queria que aquela dor passasse. E passou. Uma amiga/anjo sentiu minha voz estranha no telefone, conseguiu me salvar e, por questão de minutos, não entrei em coma. Pelo contrário, foi aí que comecei a sair do coma que a minha vida estava por muitos anos. Aceitei os meus gostos, meu jeito, minha voz de goiano nordestino fanho bicha, minhas escolhas, meus medos, minhas preferências e minhas vontades. Eu virei o meu maior defensor, minha maior defesa! Só que eu tive ajuda – o que muita gente não tem, infelizmente, principalmente graças a esses fdps que nos fazem sentir inferiores (ou pelo menos tentam). Eu tive ajuda dos meus poucos – mas incríveis- amigos, e tive ajuda da minha mãe, que já veio nessa vida evoluída milhões de gerações e me disse uma frase que resume muita coisa: “Ser gay não é problema nenhum, meu filho. Minha preocupação é: beba menos”. Enfim, com muito apoio e uma terapeuta incrível consegui ser quem sou. E me aceitando mudei de Goiânia pra São Paulo. Sozinho. Aprendi a cozinhar, conheci cada rua dessa cidade, conheci pessoas extraordinárias, e me virei. Sem QI nenhum trabalhei no maior portal do país, escrevi matérias das quais tenho orgulho, me envolvi em projetos maravilhosos, paguei minhas contas, fiz pós-graduação e tenho uma tese toda minha. Hoje, me meto em outro ramo e trabalho em uma grande agência de publicidade (por que o que eu gosto mesmo é de me aventurar) e me casei (te amo amor). No fim das contas, depois de tanto anos e tantas experiências, é disso que meus pais se orgulham: de ter um filho MUITO feliz. Ser gay é só um detalhe.
Ser gay é só um detalhe…disse tudo Matheus.
Ah! Isso é tão lindo e motivador. ❤
Mirem-se em mim as criancinhas! Estudante CDF. Viajante. Honesto. Uma carreira bem-sucedida como designer no currículo, outras mais iniciando no momento. Realiza projetos estupendos e absurdos (vide: atravessar continentes de bicicleta, montar programa de rádio e podcast, estudar fora sem grana nem ninguém conhecido). Canta, dança, escreve, e gosta das pessoas. Cheio de histórias para contar e amor para dar. E gay. Tenho certeza que minha mãe e meu pai morrem de orgulho.
Nao entendi???