Jogador de futebol americano revela a verdade sobre os vestiários

Scott Cooper, ex-atleta amador, joga limpo: vestiários são fedidos, sujos e broxantes. Medo de gays no chuveiro vem de insegurança e ignorância

por Marcio Caparica

Para qualquer atleta que está com medo de ter alguém abertamente gay em seu time:

Vamos falar dos chuveiros e de futebol americano logo de cara, já que essa parece ser uma preocupação enorme para alguns jogadores, principalmente desde que Michael Sam saiu do armário. Eu joguei futebol americano no colegial por anos, e na faculdade por três anos, e durante a universidade todos os jogadores do meu time sabiam que eu sou gay. Depois de horas de treino duro num calor de 40 graus, eu ficava com calor, suado, dolorido, machucado, cansado e faminto. Dar em cima dos outros jogadores era a última coisa na minha cabeça. Tirando o fato de que eles eram como irmãos para mim, e que não faziam o meu tipo, tudo o que eu queria naquele momento era tirar o suor e a grama do meu corpo, tomar um Gatorade e bater um rango.

Vamos parar um momento para visualizar como são o vestiário e os chuveiros quando 100 jogadores de futebol americano estão neles. Não é nada bonito. Eu adorava meus colegas de time, mas vamos falar a verdade, são poucos os jogadores que seriam dignos de irem para a capa da Men’s Health.

Imagine um ambiente enorme que tem roupas de treino suadas e nojentas por todos os lados, tiras de esparadrapo e outros tipos de lixo jogados pelos cantos, e privadas que já deixaram de cheirar a Pinho Sol faz tempo. Com certeza não é o lugar mais romântico do mundo. E quando você entra no chuveiro, tudo que você pensa é em evitar a água gelada, em mirar no ralo pra dar uma mijada (nem vem que não tem, você também faz isso!) e em como a bunda do outro atacante está precisando de uma limpeza urgente. Quando você entra no chuveiro, todos os músculos estão doloridos, a água arde pra cacete nos lugares que você ralou no chão durante o treino, e sua única preocupação é tirar aquele maldito esparadrapo que ainda está colado na sua pele. Suas únicas prioridades são ficar limpo, se enxugar, e passar um desodorante. Já está soando como uma cena de filme pornô? Não? É porque realmente não chega nem perto.

Do que é que vocês têm medo? Eu não acho que esses comentários sobre gays não serem aceitos na NFL, e sobre ficar ansioso ao compartilhar o chuveiro com um colega homossexual, venham de ódio aos gays. Acho que vêm de medo, de ignorância  e de insegurança.

As pessoas resistem às mudanças; eu entendo. Nossa história tem vários exemplos disso. É só lembrar de quando uma mulher tentou correr na maratona de Boston pela primeira vez, e de quando Jackie Robinson entrou na Primeira Divisão de Baseball, ou quando jornalistas mulheres finalmente tiveram permissão para entrar nos vestiários dos jogadores homens. Ter um outro atleta declaradamente gay em seu time vai ser algo novo para muitos jogadores nos próximos anos. Eu entendo que muitos héteros possam ter medo disso. Tudo bem. O que não está bem é já receber os atletas gays com uma pedra em cada mão.

A NFL é um negócio. Os atletas são profissionais que levam seu trabalho muito a sério, e isso não muda dentro do vestiário. Como um amigo uma vez me disse, “Não se vai à caça onde se trabalha”. Eu garanto, atletas gays não praticam esporte para conseguirem ficar pelados na frente dos outros jogadores. Isso vale não só para a NFL, como para todos os outros esportes. Quando afirmamos que num time somos todos irmãos (ou irmãs), isso quer dizer que os jogadores são uma família, e se tratam como tal.

Tem um episódio de Seinfeld que comentava sobre como os homens reparam uns nos outros dentro de um vestiário. Todos os homens dão uma olhada, vamos admitir. Todo esse complexo que nos leva a nos compararmos com outros caras já está incutido em nós, e é um dos fatos da vida que os homens espiam-se uns aos outros para comparar. Só porque nós olhamos não quer dizer que estamos à caça e vocês são nossas presas.

A coisa mais difícil de se mudar é a própria maneira de pensar. Pode ser que você tenha medo de ser substituído por um atleta gay, e se sentir inferiorizado. Disso você pode ter certeza: não há sensação melhor que quando a gente toma o lugar de alguém que foi escroto com a gente.

Scott Cooper

Scott Cooper

Você já conversou com algum atleta que saiu do armário? Já jogou ao lado de um? Por favor, para o seu próprio bem, encontre um jogador gay e converse com ele. Fale sobre seus medos, inseguranças, dúvidas, e qualquer outra coisa que lhe ocorra. Eu acredito, de verdade, que encarar seus problemas é a melhor maneira de lidar com eles. Eu já tive algumas conversas insanas com membros do meu time, mas isso só fez com que ficássemos mais tranquilos um com o outro. Colegas da minha equipe já vieram tirar dúvidas sobre sexo gay, namoro gay, casamento gay, e cuidados para a pele. Membros do meu time me olhavam esquisito quando me viram usando produtos para a pele e para o cabelo, mas em poucas semanas os meus produtos acabaram porque todos eles pediam um pouco emprestado.

Esses comentários negativos também vêm da insegurança. Nenhum dos héteros com quem eu já joguei (e que calharam de dividir um vestiário comigo) jamais teve qualquer problema comigo ou com eles mesmos. Quando você está seguro de si, não vê problemas em estar perto de gays. Todos os dias eu tinha que entrar numa banheira gigante de água gelada com o resto do time depois do treino, e nenhum deles se importava. Eles não tinham qualquer insegurança quanto a eles mesmos e quanto a mim. E provavelmente eles também sabiam que a água gelada é a assassina da libido. Além do mais, você pode pensar que seu corpo é uma escultura enviada por Deus para impressionar os outros seres humanos, mas tente ser humilde; você pode se achar muito sexy, mas nem sempre a gente concorda.

Ano passado eu fiz um discurso durante o Dia Nacional de Sair do Armário, e uma das principais mensagens que eu tinha para dar era para todos, não apenas pessoas LGBT: descubra o que impede que você seja verdadeiramente você mesmo, encare o problema, e acabe com ele. Isso vai fazer de você uma pessoa mais feliz, e então você vai ser capaz de ser feliz ao conhecer outras pessoas.

É lamentável como as pessoas não percebem que esses comentários negativos sobre atletas gays nos magoam de verdade. A força da linguagem existe mesmo. Dizer que não se pode aceitar gays no esporte profissional logo vai se tornar tão ofensivo quanto dizer que mulheres não são capazes de praticar esporte. Tudo o que queremos é ter as mesmas oportunidades e a mesma aceitação que o resto dos outros jogadores. Manchetes sobre atletas gays são necessárias agora para que, um dia, isso não seja mais notícia.

Sinceramente, Scott Cooper, um atleta gay

Scott Cooper se formou em dezembro de 2013 no Augsburg College em Minneapolis, com uma graduação em Comunicação. Ele atuou com linebacker para sua faculdade nas temporadas de 2012 e 2013. Quem quiser entrar em contato com ele, pode escrever no Twitter @shc2112 ou no e-mail shc2112@hotmail.com . Traduzido de post no site OutSports.

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