Traduzido de um post original de Suzanne Brockmann
“Aliás,” minha mãe adicionou enquanto a gente batia um papo por telefone. “Seu pai e eu íamos adorar se você e o Ed pudessem vir para atender a missa de véspera de Natal com a gente.” E lá estava, a conversa que eu não queria ter de jeito nenhum. “Nossos amigos também iam gostar muito de ver vocês”, continuou minha mãe, enquanto eu me retorcia por dentro.
Eu sabia que meus pais se beneficiavam muito de sua igreja, não apenas espiritualmente como socialmente. Minha mãe sempre foi uma pessoa muito social. Mesmo aos 82 anos sua agenda vive lotada – eventos teatrais, concertos, festas, reuniões políticas progressistas. E sua igreja oferecia jantares semanais e cafés da tarde, e era uma fonte constante de novos amigos.
Mas como mãe de um rapaz que eu já suspeitava ser gay quando tinha 3 anos de idade, eu tinha plena consciência dos perigos e dos danos que algumas organizações religiosas podem causar à comunidade LGBT. Como uma ativista pelos direitos gays, eu sabia das quantidades imensas de dinheiro que algumas denominações que se dizem “cristãs” doam para causas anti-homossexuais. E eu ficava ofendida em especial por mensagens de ódio e alienação lançadas dos púlpitos, mensagens que podem crescer e bater de volta e talvez até ferir fisicamente meu filho ou o filho de alguém.
Quando minha mãe e meu pai moravam em Connecticut, eles frequentavam uma igreja que ostentava uma bandeira do arco-íris. Eles sempre amaram e apoiaram Jason, seu neto, incondicionalmente. E eu sabia que nunca tinha ocorrido a meus pais que, aqui nessa igreja na Flórida, a máxima de que “Deus ama todos seus filhos” era interpretada de maneira diferente, que nela “todos” não significa todos.
Eu tinha inventado desculpas vagas anteriormente, nas outras vezes em que minha mãe nos convidou a participar da missa de véspera de Natal com ela, mas dessa vez eu fui direto ao ponto: “Eu não posso, mãe. Eu não sou bem-vinda nessa igreja”.
Ela se assustou. “Mas é claro que você é bem-vinda!”
“Não sou não”, respondi, “porque o Jason não é.” Respirei fundo e soltei tudo de uma vez. “Sua igreja é homofóbica. E eu sinto muto. Mas não vou mais entrar nela.”
Alguns dias depois minha mãe me ligou de volta. “Se a nossa igreja é homofóbica”, ela declarou, “então eu vou mudá-la iniciando um grupo de pais, famílias e amigos de gays dentro dela. Pra falar a verdade, eu já marquei uma reunião com o pastor essa semana mesmo.”
“Que ideia ótima.” Por dentro eu já me encolhia por conta da avalanche de sofrimento que recairia sobre minha mãe. “Depois me conta como foi então.”
Minha mãe chegou na reunião com toda a disposição que lhe é característica. Mas o pastor foi impassível. Iniciar um grupo de aliados de gays, ele disse, causaria controvérsia na igreja. Minha mãe me contou mais tarde: “Ele me disse que um dos pilares da igreja é que pessoas LGBT são acolhidas – mas apenas se elas se mantiverem celibatárias!”. Ela estava furiosa. “Em outras palavras, ‘não amarás nem serás amado’.” Minha mãe, que mal pode esperar até que seu neto encontre seu príncipe encantado e viva feliz para sempre, considerava isso completamente descabido. (“Minha filha, você sabe que eu não estou ficando nem um pouco mais jovem”, ela me diz cada vez que eu ligo e não anuncio que o Jason vai se casar com o homem de seus sonhos.)
Meus pais, sempre tão valentes, foram conversar então com um pastor adjunto. Para o espanto dos dois, ele resumiu a crença da igreja em uma única declaração: “todos os homossexuais são pecadores”. Imagine só minha mãe e meu pai, sentados na sala desse homem, ouvindo ele dizer que acreditava que seu neto amado, tão doce e gentil, era um pecador que ia para o inferno. Discussão encerrada, fim de conversa, passar bem!
Veja, meu pai é um intelectual que estuda a Bíblia. Pense nele recitando versos da Bíblia sobre amor para alguém que nem se dispunha a ouvir. Meu pai saiu batendo a porta. Isso mesmo.
Minha mãe ainda teve a coragem de ficar e tentar convencer o pastor. Ela me explicou depois: “quando você se encontra dentro de um grupo que lhe impõe restrições que você não pode aceitar, só há duas coisas a fazer. Primeiro, você faz esforço para mudar o grupo, especialmente se dentro do seu coração você acredita que essa é a coisa certa a se fazer. Mas se isso não funcionar, você parte para a segunda: você encontra um grupo melhor”.
Então meu pai e minha mãe fizeram algo que poucos se dispõem a fazer: eles seguiram seus princípios. Eles cortaram seus laços com a igreja que frequentaram por tanto tempo porque se deram conta que seu neto realmente não era bem-vindo ali. E começaram a procurar uma igreja que realmente fosse aberta e acolhedora.
Eu tenho plena noção de como isso foi difícil para meus pais. Eles não estavam apenas abandonando uma igreja; eles estavam se desligando de uma comunidade inteira. Eu falei sobre a luta deles para minha grande amiga Deede, que exercita sua fé pessoal com alegria, e ela enviou por e-mail para minha mãe uma lista breve de igrejas pró-LGBT em Sarasota. Só isso já foi um momento de triunfo, descobrir que existem igrejas abertas a gays na Flórida!
Eu adoro ficar imaginando essa parte da história sob o ponto de vista de Doug, o bem-apessoado membro do comitê de boas-vindas da Primeira Congregação da Igreja de Cristo Unida de Sarasota no domingo que minha mãe e meu pai fizeram sua primeira visita. Eu até vejo Doug sorrindo e cumprimentando meu pai e minha mãe enquanto dizia “Sejam bem-vindos! Vocês são de outra cidade?”.
“Não não”, minha mãe o corrigiu, “Fred e eu vivemos em Sarasota já faz muitos anos. Mas a gente acabou de descobrir que a igreja que a gente frequentava é homofóbica, então a gente não quer mais chegar perto dela. Estamos procurando uma igreja em que os gays sejam bem recebidos.”
O coração de Doug deve ter inflado em seu peito quando ele então chamou para a conversa Thom, seu parceiro há mais de 45 anos, para que também cumprimentasse meus pais. Se eu estivesse escrevendo o roteiro dessa história, eu faria com que Doug beijasse as mãos de minha mãe e dissesse “ah, querida, sinta-se em casa.”
Seja o que for que ele disse para minha mãe e meu pai naquele dia, eles receberam uma mensagem que não deixava margem para dúvida. As pessoas dessa igreja maravilhosa acreditam que Deus ama todos seus filhos – sem exceções, sem condições, sem exclusões. Eles tinham encontrado uma nova casa.
Nem precisa dizer que os dois logo fizeram novos amigos ali. E a igreja ganhou dois novos membros, extremamente envolvidos e empolgados. Todos saíram ganhando. Particularmente minha mãe, já que agora eu e meu filho participamos das missas de véspera de Natal com ela, sem falta.
Aleluia! E amém.
[…] CASAL DE AVÓS ABANDONA IGREJA HOMOFÓBICA POR AMOR AO NETO GAY […]
Que história incrível Marcio. Que avós incríveis o Jason possuí. na verdade todos somos sementes do que ainda virá. Jason com certeza vai passar os valores de igualdade para seus filhos, caso os tenha, e nós aos nossos e assim esperamos um dia fazer do mundo um lugar mais tolerante e acolhedor. Parabéns pelo artigo e tradução. Um grande abraço.
Linda esta história! Sinto orgulho de pessoas como esta casal de avós! Se as pessoas abrissem mão de grupos ou ideias homofóbicas ou racistas por amar seus entes tanta violência seria evitadas. Parabéns pelo artigo!