“Só ele, maluco, para pensar em mim para interpretar a personagem da travesti”, afirma, feliz, a atriz Carolina Ferraz. Ela se refere ao roteirista Mikael Albuquerque, autor do roteiro do filme A glória e a graça, que chega hoje aos cinemas. Nele, Ferraz dá vida à protagonista Glória, uma travesti culta e bem-sucedida, dona de um restaurante, que vê a vida que construiu se desestabilizar quando sua irmã, Graça, a procura depois de 15 anos. Acometida por um aneurisma, Graça quer que Glória, que não vê desde quando ainda se apresentava como homem, cuide de seus dois filhos. “É uma personagem belíssima, muito complexa, muito humana. O fato de ser uma travesti só a engrandece”, comemora.
“O ator é a soma dos personagens que consegue fazer, não daqueles que tem competência para fazer”, continua a atriz, que teve que tomar as rédeas da produção do filme para conseguir escapar dos papéis que em geral lhe oferecem. “Talvez por minha aparência, pelos papéis que já vivi na televisão, sempre me chamam para um mesmo tipo de papel. Eu na verdade sou bastante subversiva, como artista quero ter a oportunidade de fazer todo tipo de personagem. Mas tenho total consciência de que, seu eu não fosse a produtora do filme, jamais um produtor de elenco pensaria em mim para fazer o papel de uma travesti”.
A glória e a graça percorreu um longo caminho até tornar-se realidade: já se passaram nove anos desde que Ferraz apaixonou-se por essa história e adquiriu seus direitos. “Ninguém queria se envolver com nosso projeto, por causa da personagem travesti”, lamenta. “Esse mínimo de aceitação que existe hoje é algo muito recente. Por duas vezes executivos me disseram: ‘Carolina, você é tão bonita, tão bem sucedida, não faz uma coisa dessa, não estraga sua carreira, não joga fora sua reputação interpretando uma travesti’.” A equipe do longa passou anos amealhando dinheiro em pequenas fontes até que, já na reta final, conseguiu o apoio do Canal Brasil e da Globo Filmes para que ele saísse do papel.
Ferraz aproveitou os anos de batalha para mergulhar no mundo das travestis. “Entrevistei 62 travestis, entre Rio e São Paulo. Interpretar alguém com uma identidade de gênero diferente da sua é um desafio! Houve um momento que eu falei para o Flávio [Tambellini, diretor do filme]: ‘agora eu enlouqueci, descobri que existem 54 identidades de gênero catalogadas, olha que pluralidade!”. Ao longo dos anos Ferraz também contou com o apoio de sua amiga Marjorie Machi, travesti que também participa de A glória e a graça. “Ela foi uma presença constante, ela sempre me colocava a par do que estava acontecendo. Uma mulher de uma competência e uma inteligência gigantes, é uma pena que ela tenha falecido antes do filme ser lançado.”
A glória e a graça chega aos cinemas sob a pressão do manifesto Representatividade Trans Já, divulgado por atores e atrizes transgênero que exigem que ao menos personagens trans sejam dados a artistas trans. “É um movimento da maior legitimidade, corretíssimo”, frisa Ferraz. “Nós vivemos numa sociedade que não dá à população trans sequer o direito de representarem a si mesmos! Temos que reconhecer, sim, que há um processo de invisibilização de um grupo de pessoas que já é tão marginalizado todos os dias. Eu gostaria muito que houvesse oportunidades para todos, que Carol Marra [atriz trans, também parte do elenco do filme] fosse chamada para fazer a mocinha da novela. Daí esse manifesto não seria sequer necessário.”
“Envelhecer está me fazendo bem, acho que estou no meu melhor momento”, celebra. Sua meta, agora, é encontrar cada vez mais papéis de mulheres fascinantes como Glória. “Seja uma lésbica, uma executiva, uma mãe de cinco filhos adotivos, eu quero descobrir personagens que tenham esse valor humano e lhes dar voz, esse é meu objetivo.” E que ninguém ouse questionar que Glória é mulher: “somos todas iguais, somos todas mulheres! Essa é uma das questões principais do filme. Uma travesti tem tanta competência para ser mãe quanto qualquer outra mulher. O que determina a capacidade de cuidar de uma família é o amor, o cuidado, é assumir o compromisso de gerenciar o crescimento de outro ser humano. E isso não depende do sexo que é designado quando se nasce.”
Fico me perguntando porque acham boas atitudes quando se tem população trans completamente formadas para trabalharem e não darem emprego a elas.Simbolo descarado de transfobia.
O link abaixo mostra como é feito um trabalho sério dando uma otima oportunidade e uma maneira legitima de falar sobre identidade trans.
http://www.nlucon.com/2017/03/filme-dirigido-por-daniel-ribeiro-chama.html
ah é…de uma olhada nos xxvideos…vai ver cada “mulher” bem dotada que vai envergonhar o maridão…
Acho engraçado dos comentários transfóbicos aqui é que os que mais deixam esses comentários são os que mais gostam de ver vídeos de travestis no XVídeos. Não tem problema de você apreciar a beleza do corpo da mulher trans e das travestis, Mario.
Realmente, as travestis são tão mulheres como outras: ??? elas mestruam todos os meses, podem gerar filhos, vão ao ginecologista, têm licença maternidade de 120 dias, ainda podem solicitar mais 15 dias de amamentação, produzem leite ‘materno”, e outras características idênticas.
Estou convencido que são iguais.
É, realmente. Uma mulher estéril na verdade é um homem. Uma mulher que por algum distúrbio hormonal não menstrue é um homem. Uma mulher que não consegue produzir leite materno para seu filho recém-nascido é um homem. Tá de parabéns sua lógica, Max. #preconceituoso
Por que não foi utilizada uma atriz trans para representar o papel? Preconceito e falsa representatividade.
Então, acho que a matéria esclarece isso, não? Se com a própria Carolina Ferraz, que é uma atriz de renome, o filme já enfrentou muita resistência para ser produzido e patrocinado, imagina se tivesse uma trans no papel de “mocinha”. Acho que a Carolina no final da matéria deixa claro que, num mundo ideal, sem preconceito, seria excelente que mulheres trans pudessem representar papeis como este sem enfrentar obstáculos. Infelizmente esse tempo ainda não chegou.
Carolina já admirava você como mulher e atriz. Vendo vc. Na entrevista percebo seu lado humano. É isso temos que lutar para mudar a forma desumana de pensar de pessoas que não respeitam as diferenças. Parabéns!
Fala de visibilidade mas por que não usaram uma travesti para o papel?
Concordo. Por que não escalar uma trans para o papel? Representatividade passou longe.
Linda, consciente, desbravadora. Do alto dos seus anos de sucesso, ela nao teria razões para representar e tomar partido em um assunto que é tao tabu na sociedade. Porém é nessas horas que a grandeza da pessoa brilha, Fico estou mto feliz por perceber que existem pessoas buscando o bem da sociedade em geral e como um todo, nao apenas segregando e selecionando a determinados nichos. Parabens Carol, sucesso!
Á tá… lagartixa também é mulher!!!!
Uepa!… Menos, Carol!… Bem menos!… Prefiro você na lama do que uma boneca dessas na cama… kkkk
Acho bem legal ler um comentário desse vindo de uma pessoa que se chama JURACI! Afinal, é homem ou mulher?
Meu voto hoje é SIM! Parabéns!