Que pessoas coloquem fotos dos outros em perfis em aplicativos de encontro como Hornet e Scruff não chega a ser novidade. Um ator de Nova York sentiu na pele o resultado da versão extrema (e mal-intencionada) dessa prática, depois que mais de 700 homens vieram encontrá-lo em casa e no trabalho em menos de quatro meses, em decorrência de perfis fake colocados no Grindr.
Como relatou em reportagem à revista Wired, Matthew Herrick começou a receber visitas indesejadas em outubro do ano passado. No primeiro dia, quatro homens vieram até sua casa, dizendo que haviam sido convidados para transarem com o ator. Todos mostraram conversas que haviam acabado de ter com um perfil no Grindr que mostrava fotos do ator sem camisa, retiradas de sua conta no Instagram.
Herrick denunciou a conta para o aplicativo, sem resultado. Logo o perfil falso tornou-se vários, e mais de uma dúzia de homens vinham procurá-lo não apenas em casa, mas também no restaurante em que trabalha. Os perfis falsos também forneciam o número do celular de Herrick, que passou a receber uma enxurrada de mensagens de cunho explícito, ligações, e fotos de genitálias.
Com o passar das semanas o tom dos perfis falsos tornou-se mais agressivo: passaram a propor sexo violento, sem proteção, orgias, e drogas. Consequentemente, os visitantes indesejados tornaram-se também mais violentos. Em casos extremos, a pessoa que se passava por Herrick pedia para que os usuários do Grindr realizassem sua “fantasia de estupro”, e que ele diria “não” quando na verdade queria dizer “sim”. Um visitante já não quis se retirar do prédio em que o ator mora, e teve que ser retirado à força por seu colega de apartamento. Outros passaram a xingá-lo e persegui-lo na frente de seu trabalho, ou tentavam fazer sexo com ele no banheiro do restaurante. No começo de janeiro, seis homens em busca de uma orgia vieram procurá-lo em menos de cinco minutos.
Apesar de já ter conseguido na justiça uma ordem para que o aplicativo retire as contas falsas do ar, elas continuam na ativa, e Herrick continua sendo assediado. É por isso que decidiu processar o aplicativo: segundo ele, mesmo depois de fazer mais de 50 reclamações, o Grindr não tomou nenhuma providência. Ele usa como referência a resposta do aplicativo Scruff quando avisado dos perfis falsos que começavam a também surgir por lá: as contas foram suspensas por 24 horas, e os endereços de IP e os dispositivos utilizados para criá-las foram impedidos de criarem mais contas.
Herrick acredita que o responsável pelos perfis falsos seja um ex-namorado, cujo nome a reportagem da Wired omitiu, já que ele nega estar por trás das contas. Em sua ação, o ator afirma que seu ex alterava as configurações de localização de seu celular, algo simples de se fazer em celulares Android ou iPhones desbloqueados, para que o aplicativo informasse aos outros usuários que ele estava próximo à casa ou ao trabalho de Herrick. “Minha vida foi roubada de mim”, ele lamenta. “Minha privacidade acabou. Sou humilhado todos os dias. É um inferno.” Em sua ação, ele afirma que “vive num estado constante de hipervigilância, com medo de que o Grindr esteja sendo usado para incitar ou seduzir alguém que venha a atacá-lo ou estuprá-lo”.
O processo contra o Grindr pode não dar resultado: há um precedente de um caso de 2003, em que uma mulher processou o site Matchmaker.com por causa de perfis falsos. O site utilizou a seção 230 da Lei da Decência na Comunicação, que afirma que serviços de internet não são responsáveis pelo conteúdo gerado por seus usuários.