Traduzido do artigo de Tim Bissel para o site Outsports
Em 2012, o Ultimate Fighting Championship (UFC) aceitou o que muitos já diziam há anos – mulheres também sabem lutar, e as pessoas querem ver. Quando criou sua primeira divisão feminina, a organização revolucionou todo o esporte. Desde então, uma mulher se tornou a maior estrela que o MMA já viu, e dúzias de lutadoras ganharam a oportunidade de competir nos mais altos escalões.
Entre as campeãs, pioneiras, ídolas e aspirantes há várias mulheres declaradamente homossexuais. Estas são apenas algumas das estrelas do MMA que vivem (felizes) fora do armário.
Liz Carmouche
Ex-técnica de aviação na aeronáutica norte-americana, Liz Carmouche fez história no MMA em 23 de fevereiro de 2013, quando tornou-se a primeira lutadora a pisar no octógono do UFC. Nessa noite ela enfrentou Ronda Rousey pelo cinturão feminino dos pesos-galo (até 135 libras, ou 61 kg). Apesar de dar trabalho para Rouse logo cedo, “Girl-Rilla” acabou por sucumbir à famosa chave de braço de Rousey. Quando Carmouche atravessou as grades do UFC ela também tornou-se a primeira lutadora abertamente homossexual a competir na maior organização de MMA do planeta. Desde que foi derrotada por Rousey, Carmouche lutou mais quatro vezes no UFC, conseguindo duas vitórias, e perdendo apenas para mulheres que seguiriam para contestar o cinturão de Rousey.
Carmouche há muito tempo é uma porta-voz orgulhosa de sua comunidade, já tendo discutido em numerosas entrevistas os desafios de ter sido lésbica e membro das forças armadas, e também uma atleta profissional homossexual. O orgulho de Carmouche vem ainda mais à tona em suas lutas, quando usa um protetor bucal com as cores do arco-íris.
Atualmente com 31 anos, ela já serviu três vezes no Oriente Médio, e treina na San Diego Combat Academy. Apesar de Carmouche ser mais conhecida por suas técnicas de luta greco-romana, 6 de suas 15 vitórias foram obtidas por nocaute técnico. Nona colocada no ranking feminino dos pesos-galo do UFC, Carmouche é uma oponente difícil para qualquer lutadora que pretenda escalar aos patamares mais altos do MMA feminino. A própria Carmouche pode vir a competir pelo título mais uma vez, caso consiga amealhar uma série de vitórias.
Raquel Pennington
Raquel “Rocky” Pennington conquistou os fãs durante sua participação no reality show do UFC, The Ultimate Fighter. Em 2013 ela foi membro do Team Tate, treinada por Meisha Tate (que vai disputar com Holly Holm o título dos pesos-galo no dia 5 de março, no UFC 196). O oponente do Team Tate era o Tem Rousey, liderado pela ícone pop Ronda Rousey. As lutas incendiárias de Pennington eram, sem dúvida, as lutas mais espetaculares já vistas na série. O estilo arrebatador de Pennington não é, no entanto, a única coisa que faz com que ela se destaque. Pennington revelou com muita sinceridade a história de como saiu dor armário para os telespectadores, assim como as dificuldades que enfrentou quando era uma jovem atleta lésbica.
Desde sua participação no programa, Pennington lutou cinco vezes no UFC. Duas de suas três vitórias nesse campeonato foram obtidas por estrangulamentos. Sua derrota mais recente foi numa luta extremamente acirrada contra a atual campeã Holly Holm (que, em 2015, derrubou Rousey do trono de forma espetacular).
Pennington, que treina na Altitude MMA, no Colorado, é a 13a. colocada na divisão peso-galo. Aos 27 anos, Pennington está no auge de sua carreira. Ela enfrenta Bethe Correria (que já disputou o título anteriormente) no dia 16 de abril, ao vivo na FOX Sports. Uma vitória contra Correria poderia fazer com que Pennington avançasse bastante no ranking, colocando-a a duas ou três vitórias de disputar novamente o título de campeã.
Jessica Andrade
Jessica Andrade, nascida no estado do Paraná, é conhecida por sua poderosa técnica de ground-and-pound. Esse estilo já abriu o caminho para quatro vitórias em sete lutas disputadas no UFC. Em sua primeira luta no UFC, Andrade perdeu para Liz Carmouche. O embate entre Andrade e Carmouche foi a primeira vez que dois atletas declaradamente homossexuais enfrentaram-se no UFC. Todas as lutas de Andrade no UFC foram na categoria das 135 libras (61 kg). Em outubro de 2015, pouco depois de ser derrotada por Raquel Pennington, Andrade anunciou seus planos de descer para a divisão peso-palha (115 libras, 52 kg) do UFC.
Andrade não costuma dar muitas entrevistas ou falar muito de sua vida pessoal para os fãs e a imprensa. Em uma de suas raras entrevistas, para o MMA Junkie, Andrade falou sobre ser lésbica e como ela acha que, no mundo dos esportes de luta, sair do armário é mais difícil para um lutador homem do que para uma lutadora.
Andrade tem pouco mais de 1,5 m de altura – suas oponentes no peso-galo costumam ser muito mais altas. Se a mesma fúria que Andrade demonstrou contra mulheres maiores for utilizada contra oponentes de tamanho mais próximo ao seu, não vai demorar muito para que ela dispute o cinturão.
Tonya Evinger
Tonya Evinger costuma falar sem rodeios, e é uma das lutadores mais poderosas do MMA feminino, tendo ganhado oito vitórias consecutivas. Em 9 de julho de 2015 essa nativa do estado norte-americano do Missouri conquistou o cinturão Invicta dos pesos-galo, depois de vencer Irene Aldana por nocaute técnico. Apelidada “Triple Threat” (“ameaça tripla”), Evinger é habilidosa no boxe, na luta greco-romana e em técnicas de submissão. De suas 21 lutas profissionais, 16 foram vitórias. Evinger já deu a entender que um confronto contra Christiane “Cyborg” Justino (a campeã das 145 libras no Invicta) pode estar em seu futuro. Essa disputa tem o potencial de se tornar a luta do Invicta com a maior audiência de todos os tempos. Evinger deve defender seu cintural novamente em maio, contra Colleen Schneider.
Evinger carece de filtro, o que faz com que ela se destaque das outras lutadoras, que costumam soltar clichês e fazer declarações sem sal. Quando Sherdog lhe perguntou o que ela faria depois de vencer o título do Invicta, ela respondeu “dar uns tapas na minha namorada!”.
Evinger treina na academia Gracie Barra em Houston, e foi candidata ao prêmio de Melhor Lutadora nos World MMA Awards de 2016.
Jessica Aguilar
Ex-campeã peso-palha na World Series of Fighting, Jessica “Jag” Aguilar abdicou de seu cinturão para entrar no UFC. Nascida em Veracruz, México, Aguilar treina com o American Top Team em Coconut Creek, Flórida (uma das melhores academias de MMA do mundo). Com 24 lutas no currículo, Aguilar é uma verdadeira veterana no esporte. Ela conta com 19 vitórias em seu histórico, mas perdeu sua luta mais recente – sua estreia no UFC – para Claudia Gadelha em agosto de 2015.
Aguilar, que se declara bissexual, é embaixadora da Athlete Ally, uma organização sem fins lucrativos que promove campanhas de conscientização pública e programas educaionais para incentivar comunidades esportivas inclusivas.
Aguilar já venceu vários campeonatos mundiais de jiu-jitsu, e atualmente está na 13a. posição no ranking dos pesos-palha do UFC. Aguilar vai enfrentar Juliana Lima no UFC 197, dia 23 de abril. Muitos estão ansiosos para conferir se “Jag” vai se recuperar com uma vitória depois de sua primeira derrota em cinco anos.
Ediane Gomes
Ediane “Índia” Gomes luta profissionalmente desde 2007, e venceu 10 das 14 lutas profissionais que já disputou. Essa brasileira de 35 anos é conhecida por ter se envolvido em uma das lutas mais infames da história do MMA. No começo de sua carreira Gomes derrotou um homem no (já extinto) campeonato Rio Heroes (que era pouco mais que uma competição de esquina). Ex-viciada em drogas e ex-menina de rua, Gomes compete na divisão de 135 libras da Invicta.
Em entrevista para o MMA Junkie em 2012, Gomes declarou que seus colegas na equipe brasileira, em sua maioria homens, sempre respeitaram sua sexualidade. O artigo também revelou que Gomes havia se casado com sua namorada de longa data, que conheceu nos Estados Unidos.
Em janeiro Gomes foi forçada a desistir de uma luta para o Invicta FC 15, por não ter conseguido alcançar o peso necessário com segurança. Antes disso, Gomes havia criado uma campanha no site GoFundMe para arrecadar fundos para suas despesas pré-luta. Gomes é uma lutadora em todos os sentidos da palavra, mas sua carreira como lutadora profissional de MMA pode estar chegando ao fim.
Renata Lívia Souza
A campeã da divisão peso-palha do Invicta, Renata Lívia Souza, veio de São Paulo. Souza se mantém invicta depois de nove lutas profissionais. Ela estreou em março de 2013, e desde então venceu todas suas lutas, com exceção de duas, por submissão. Souza compete no judô e no jiu-jitsu desde os 7 anos, e defendeu seu cinturão contra DeAnna Bennet no dia 16 de janeiro, quando venceu por nocaute técnico.
“Livinha” tem 24 anos e, assim como todos de sua geração, usa avidamente as redes sociais. O Instagram parece ser sua rede preferida, e sua conta exibe inúmeras selfies, a maioria com hashtags como #respect, #rastafari e #gblt.
Com muitos anos ainda por vir antes de alcançar seu ápice, Souza tem o potencial de se tornar uma das principais estrelas do MMA feminino. Souza declarou recentemente que está pronta para o UFC, pois acredita que não há mais mulheres capazes de desafiá-la no Invicta.