Igreja Anglicana pune igreja Episcopal por casar LGBTs

Bispos anglicanos decidem suspender seu ramo norte-americano por três anos das decisões da igreja. Episcopais norte-americanos decidiram aprovar o matrimônio homoafetivo em julho de 2015, depois que o casamento igualitário foi aprovado nos EUA

por Marcio Caparica

A Igreja Episcopal, braço norte-americano da Igreja Anglicana, foi punida ontem pela Comunhão Anglicana Internacional por aceitar o casamento homoafetivo. Pelos próximos três anos a Igreja Episcopal não terá permissão para influenciar nas decisões internas da igreja ou representar os anglicanos de suas congregações em encontros com cristãos ou membros de outras religiões. A decisão foi feita na quinta-feira (14) em uma reunião dos arcebispos anglicanos de todo mundo, realizada na cidade de Canterbury, na Inglaterra.

Em julho de 2015, assim que o casamento homoafetivo foi legalizado nos EUA, a igreja Episcopal realizou uma votação que acabou por permitir o casamento religioso entre pessoas do mesmo sexo em sua congregação. Poucos meses antes, a igreja Presbiteriana norte-americana havia feito o mesmo. A partir de então, a congregação passou a adotar uma linguagem neutra quanto ao gênero dos noivos em cerimônias de casamento, e seus sacerdotes passaram a ter permissão oficial para utilizar o ritual do matrimônio presente nos livros litúrgicos da igreja em casamentos homoafetivos.

Gay-marriage

Estima-se que a igreja Anglicana tenha 85 milhões de fiéis pelo mundo todo. A retaliação vem depois de protestos de representantes da igreja Anglicana da Ásia, da América do Sul e, principalmente, da África. A igreja Anglicana do Canadá, que apenas oferece uma bênção para o compromisso de fidelidade entre pessoas do mesmo sexo – mas não casamento – não foi alvo de censura.

A decisão é menos severa que a excomunhão dos 1,8 milhões de fiéis da igreja Episcopal, ou que um cisma entre as duas igrejas. Em comunicado oficial, a igreja Anglicana declarou que “a doutrina tradicional da igreja, em vista dos ensinamentos das escrituras, mantém o casamento como algo entre um homem e uma mulher, numa união fiel para a vida toda. A maioria dos aqui reunidos reafirmam esse ensinamento.” O porta-voz da igreja Anglicana, reverendo Arun Arora, declarou via Twitter que os bispos estão “agindo dentro do amor e da graça de Jesus. Não se trata de sanções, mas de consequências no contexto de um compromisso unânime de que devemos todos caminhar juntos”.

Chris Bryant, membro do parlamento inglês, homossexual e ex-pastor da igreja Anglicana, deixou clara sua insatisfação sobre a decisão tomada ontem. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o parlamentar declarou: “É enfurecedor. A igreja Anglicana votou contra a abolição da escravatura, e manteve escravos mesmo depois que o tráfico de escravos havia sido abolido. Ela votou contra a reforma. E agora, claro, todos os membros sãos da igreja pensam que [essa decisão] é absurda e constrangedora.” Ele também declarou em sua conta no Twitter que, um dia, a ação que os bispos tomaram repreendendo a igreja Episcopal vai parecer tão errada quanto o apoio que a igreja já deu à escravidão.

O reverendo Michael B. Curry, líder da igreja Episcopal norte-americana, declarou que essa decisão causa “uma dor real” para seus fiéis. “Isso vai trazer mais sofrimento para os amigos discípulos de Jesus em nossa igreja que são gays ou lésbicas”, afirmou em comunicado. “Para muitos que já se sentiram ou foram rejeitados pela igreja por serem como são, para muitos que já se sentiram ou foram rejeitados por famílias e comunidades, nossa igreja abrir-se com amor era um sinal de esperança. Isso só acumula sofrimento sobre sofrimento.”

Jayne Ozanne, ativista LGBT e membro do sínodo geral da igreja Anglicana, também demonstrou sua insatisfação: “[A igreja] afirma que ‘não há vitoriosos ou derrotados’. Isso é falso. Aqueles que terão suas vidas mais impactadas por isso serão nossos irmãos e irmãs LGBT ao redor do mundo, que sequer são citados pela declaração. É como se nós sequer existíssemos.”

A igreja Episcopal já vem entrando em atrito com o resto da igreja Anglicana desde que elegeu seu primeiro bispo abertamente gay, Gene Robinson, em 2003. Desde 2012 ela já oferecia uma cerimônia de benção para os relacionamentos homoafetivos, quando também proibiu oficialmente a discriminação contra pessoas transgênero no processo de ordenação. Desde 1976 a igreja Episcopal permite que mulheres tornem-se sacerdotes.

Vale lembrar que, ironicamente, a igreja Anglicana foi formada porque o rei Henrique VIII queria casar-se novamente, mas o papa não permitia.

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Um comentário

Márcio Albino

A Igreja Episcopal não foi suspensa. ALGUNS primazes proporam algo do tipo, mas eles não tem autoridade para suspender ou excomungar uma província da comunhão anglicana. E o ACC, que pode fazer alguma coisa do tipo, negou-se a qualquer tipo de punição.

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