Em setembro de 2014 o Facebook colocou em prática a exigência de que todos seus usuários passassem a adotar em seus perfis o nome com que são registrados. Essa regra tinha o objetivo, afirmava a rede social, de impedir que pessoas escondam-se em perfis falsos – e também garantir o maior acesso possível às informações genuínas e valiosas de todos, claro. O efeito da obrigatoriedade de adotar-se o dito “nome real” foi particularmente prejudicial à comunidade LGBT: drag queens que usavam a rede como instrumento de trabalho tiveram que abandonar seus nomes artísticos, transexuais foram forçadxs a carregar seu nome de nascimento em suas personas online, e indivíduos que haviam criado identidades novas para fugir de um passado de abuso ou bullying consideravam colocar-se novamente em risco ao retomar nomes que preferiam esquecer.
Depois de mais de um ano de muita militância, finalmente a maior rede social do mundo decidiu ajustar os processos pelos quais peneira os ditos perfis falsos. Num post em seu blog dedicado à imprensa, o Facebook explica como serão agora os procedimentos para as pessoas que adotam nomes alternativos em seus perfis:
- Não basta mais simplesmente denunciar um perfil como fake; o denunciador será obrigado a descrever a razão da denúncia e contextualizá-la. Com isso, a quantidade de denúncias deverá reduzir substancialmente, já que reclamar sobre o nome de alguém não será tão indolor quanto simplesmente apertar um botão.
- Além disso, o alvo da denúncia vai ter a sua disposição um formulário em que poderá justificar a razão por que não utiliza em seu perfil seu nome de registro.
- O Facebook vai passar a aceitar uma variedade maior de documentos para comprovar a identidade de cada um.
- O bloqueio da conta denunciada não será automático; o usuário contará com sete dias para esclarecer sua identidade.
As mudanças são muito bem-vindas, mas ainda estão longe do ideal, como admite o próprio Facebook. Em entrevista ao site Queerty a drag queen norte-americana Sister Roma, uma das grandes responsáveis pelos protestos contra a regra da identidade “real”, analisou os avanços: “Eles até contrataram uma pessoa em tempo integral para trabalhar com os princípios dos nomes autênticos… mas a má notícia é que o processo novo só foi aplicado até agora a 1% dos usuários do Facebook.” Atualmente a rede conta com 1,55 bilhões de usuários – ou seja, 15 milhões de pessoas já estão contempladas com as novas medidas, mas muitíssimas mais ainda estão à mercê de suas certidões de nascimento.
A ativista afirma que continuará batalhando para que o Facebook trabalhe melhor com as identidades de seus usuários LGBT. “Eu gostaria de arranjar uma maneira para as pessoas recuperarem seus nomes. Esse é o próximo passo. Eu estou nessa desde o começo, e vou continuar até que todos os usuários tenham o direito de identificarem-se como quiserem.”