Um dos protagonistas de uma das séries de livros infantis mais populares da atualidade foi declarado gay sem grandes controvérsias – viva! Capitão Cueca é uma série de livros infantis protagonizada pelos garotos Jorge e Haroldo, dois vizinhos numa cidade pequena que, sem querer, trouxeram à vida o herói das histórias em quadrinhos que escrevem. Seus livros já venderam mais de 70 milhões de cópias ao redor do mundo, e são publicados em português pela editora Cosac-Naify.
O décimo-segundo volume da série saiu nos Estados Unidos no fim de agosto, e também já saiu em português: Capitão Cueca e a Saga Sensacional de Fedor, o Grande. Nele, os garotos Jorge e Haroldo encontram a si mesmos, e suas famílias, no futuro:
O Jorge velho, sua esposa e seus filhos, Mina e Nik, estavam sentados no sofá, enquanto o Haroldo velho, seu marido, e seus filhos gêmeos, Owen e Kei, estavam deitados na cadeira gigante.
Assim, sem mais nem menos. O Haroldo adulto tem um marido e dois filhos gêmeos, sem a necessidade de chamar a atenção para o fato ou denotá-lo como algo excepcional. Como é bom que seja.
O conteúdo anárquico das histórias de Jorge, Haroldo e seu capitão Cueca já foram alvo de várias reclamações e boicotes nos EUA. Nos comentários sobre a nova obra na Amazon, já houve quem comentasse que deveria haver um aviso prévio quanto à homossexualidade presente no livro. Em artigo publicado no jornal The Guardian, o autor Dav Pilkey responde às opiniões sobre suas obras:
Muitas vezes as pessoas me perguntam como eu gostaria de responder aos críticos que prefeririam que meus livros fossem retirados das prateleiras ao invés de entregues a jovens leitores. Eu tenho uma resposta: basicamente, nem todo livro é adequado para toda pessoa. Alguns adultos não apreciam o tipo de coisa que faz a maioria das crianças dar risada, então tentam pisar em cima dessas coisas.
Eu entendo que as pessoas têm o direito a suas opiniões quanto aos livros, mas elas deveriam ser apenas isso: uma diferença de opinião. Tudo que se precisa é uma mudança simples. Ao invés de dizer “Eu não acho que as crianças deveriam ler esse livro”, adicione uma palavrinha: “Eu não acho que minhas crianças” deveriam ler esse livro.
No que diz respeito a livros, nós podemos não concordar todos sobre o que é uma boa leitura – mas eu espero que possamos concordar que permitir que as crianças escolham seus próprios livros é crucial para ajudá-las a gostar de ler.