Artigo: “Eu amo o pecador” é o que geralmente dizem os agressores de LGBTs

O ministro cristão Derek Penwell explica por que simplesmente dizer que se ama os LGBTs e, ao mesmo tempo, endossar silenciosamente a violência praticada contra eles, não é amor

por James Cimino

Você, como eu, é daqueles que sentem que tomaram um tapa na cara quando alguém tenta ser condescendente contigo usando a frase “eu amo o pecador, mas odeio o pecado”*? Muitas pessoas nem se dão conta de que estão sendo agressivas quando dizem frases aparentemente doces para você e nós LGBTs temos que enfrentar esse tipo de merda todo dia. Por isso eu decidi traduzir o texto abaixo para ver se essas Eves Harrington** da vida se tocam que dizer que você é uma pessoa boa não necessariamente te faz uma pessoa boa.

Só para citar um exemplo bem ilustrativo, o cara que tentou esfaquear a atriz transgênero Viviany Beleboni “justificou” sua agressão como uma defesa à dignidade de Jesus. Ou seja, ele estava praticando um ato de amor por Jesus, não um ato de ódio contra Viviany, certo?

O artigo que vocês vão ler não apenas desmascara o que há por trás deste discurso como tem o mérito de ter sido escrito por Derek Penwell, autor, editor, ativista e ministro sênior da Igreja Cristã de Douglass Boulevard em Louisville, Estado de Kentucky. Ou seja, esta é a opinião de um cristão.

“Eu a amo, mas ela tem que aprender a distinguir o certo do errado”, disse ele, após espancá-la até a morte. E encontra-se ela com um pé neste mundo e outro no próximo, mas totalmente “amada”.

Eu imagino que é isso é o que as pessoas LGBT ouvem quando um cristão fala: “Eu amo o pecador, mas eu odeio o pecado.”

Agora posso imaginar que imediatamente após a conexão entre estes dois últimos pensamentos, gritos de indignação subirão como um coro até ao céu. “Nós não somos intolerantes simplesmente porque nós odiamos o que os homossexuais fazem com suas partes íntimas. Nós nunca agrediríamos fisicamente uma pessoa gay por causa de sua homossexualidade.”

Hmmm… Talvez não, eu não te conheço. Na verdade, eu estou perfeitamente disposto a acreditar que você não é parte deste grupo itinerante de homotransfóbicos que vasculham as ruas em busca de corpos frescos para descarregar suas frustrações. No entanto, eu não acho que você seja absolvido da violência que é feita em nome de sua religião por duas razões importantes.

Primeiro, quando você luta contra leis anti-bullying feitas para o manter crianças LGBT a salvo de abusos, você está sustentando um sistema de violência que rouba a dignidade e, muitas vezes, a vida daquelas crianças que você diz que tanto ama. Se um garoto gay ou trans comete suicídio porque você quer manter o direito de condenar em voz alta e repetidamente anunciar ao mundo a sua desaprovação moral, dando força um sistema dedicado a nunca deixar crianças LGBT esquecerem de que eles são “aberrações pecaminosas” para as quais o diabo deixou o fogo do inferno mais quente, você têm alguma responsabilidade por sua morte.

coffeewithjesus712

Diálogo da tirinha “Café com Jesus”:  -Minha questão é esta, Jesus: ame o pecador, odeie o pecado; -Farei uma melhor, Carl: ame o pecador, odeio os seus pecados; -…; -Acho que você tem muito trabalho a fazer, não?

Quando crianças LGBT crianças são espancadas, quando elas são expulsas de suas casas e forçadas a viver nas ruas e lutar pela sua vida fazendo algumas das coisas mais deploráveis, você pode até não ser quem levanta a mão contra eles, mas você está certamente massageando os músculos que praticam esse tipo de dano.

Quando você apoia uma visão de mundo em que as pessoas LGBT diariamente tenham de viver com medo de perder sua subsistência, suas casas, seu direito a uma existência pacífica e próspera para que assim você possa orgulhosamente anunciar sua pureza doutrinária e seu compromisso com um mundo onde apenas sua religião importa, você pode não ser aquele que tira o sangue de alguém, mas, não se iluda que não há nenhum sangue em suas mãos.

Em segundo lugar, a violência física não é o único tipo de violência. O abuso que ocorre em famílias, por exemplo, muitas vezes não é o abuso físico. Você pode reivindicar que nunca prejudicou fisicamente uma pessoa, enquanto, ao mesmo tempo, é culpado por matar a alma dessa pessoa.

Como qualquer pessoa que sofreu abuso por um agressor que afirma amá-los poderá lhe dizer, algumas das piores coisas que podem ser feitas contra si são a humilhação, a desvalorização, a desumanização a ponto de você se sentir sozinho e até louco. Por quantos anos, por exemplo, que nós continuaremos a confundir pessoas LGBT mentindo que a homossexualidade é uma doença mental?

Dê uma olhada casual em uma lista de comportamentos considerados emocionalmente abusivo nas relações pessoais; em seguida, leia esta mesma lista com os olhos de alguém que é LGBT e tente convencê-los de que eles não são vítimas deste “amor” abusivo. Como um dos meus teólogos favoritos Fred Craddock disse: “paus e pedras podem quebrar ossos, mas palavras podem matar”.

Agora, alguém poderia argumentar: “Nós realmente os amamos. Nós só achamos que o que eles estão fazendo é errado.”

Bem. O problema é que se você falar com muitos homotransfóbicos eles vão dizer a mesma coisa — e acreditar em cada palavra. Socar a boca de uma pessoa porque você a “ama” ou “quer corrigi-la” não é nada além de uma forma flagrante de patriarcado (ou seja, “eu sei melhor do que você o que é apropriado ao seu comportamento”) ou uma forma de justificar o ódio e a violência do agressor ou, simplesmente, uma mentira cínica. Seja qual for o caso, suas tentativas de “amar” o objeto de sua reprovação sempre parecem uma afirmação hipócrita de sua superioridade moral (na melhor das hipóteses), ou de sua antipatia extrema (no pior dos casos).

Deixe-me ver se eu posso deixar isso mais claro (e eu sei que não se sente bem com o que vou dizer): Participar de um sistema que despreza, pune e comete violência contra aqueles que estão muitas vezes em posição mais fraca para defender-se apenas te torna um agressor aos olhos daqueles que só alegam estarem tentando amar.

Aqui, alguém pode perguntar: “Mas como eles podem não saber que eu os amo? Eu disse que eu os amo, não disse?”

Esse é o ponto. Dizer que você ama alguém enquanto soca sua boca ou assistir, se comprazer e ficar em silêncio enquanto alguém comete o ato ou, ainda, lutar em voz alta por leis que continuarão fazendo com essas pessoas sejam legalmente socadas na boca em nome de “liberdade religiosa” não é amor.

A leitura superficial dos Evangelhos sugere que, para aqueles de nós que seguem a Jesus, o amor não é a necessidade perpétua de fazer todo mundo estar de acordo com o nosso entendimento de Justiça, mas é a percepção misericordiosa de que Jesus nos libertou da responsabilidade de pensar que este é ainda o nosso trabalho.

*Jesus nunca disse a frase “ame o pecador, mas odeio o pecado”. Na verdade, a frase que deu origem a essa ideia é atribuída a Santo Agostinho em sua carta de número 211, que contém a frase, em latim, “cum dilectione hominum et odio vitiorum”, que numa tradução livre seria “com amor pela humanidade e ódio aos pecados”. A frase em sua forma utilizada neste texto, no entanto, tornou-se notória ao ter sido proferida por Mahatma Ghandi, em sua autobiografia escrita em 1929.
**Eve Harrington é a personagem interpretada por Anne Baxter no filme “All About Eve” (1950) que no Brasil ganhou o título de “A Malvada”. Assista ao filme e você entenderá a analogia.

Apoie o Lado Bi!

Este é um site independente, e contribuições como a sua tornam nossa existência possível!

Doação única

Doação mensal:

9 comentários

Mari

Eu sinto dificuldade em assumir um amor com uma garota por conta da religião e Deus, mas sei que as coisas vão se encaminhar. Acho uma atitude de muita coragem quem se assume numa sociedade tão hipócrita em que vivemos hoje. ?

Júnior

Por isso que eu sinto que ser ateu é ser livre de tanta idiotice religiosa, sou muito mais feliz depois que deixei todos esses ensinamentos para trás!

Liah

O texto já foi desqualificado a partir do momento q vc cita a ‘agressão” da travesti, na cara q aquilo foi armação e bm tosca. Nem tm como levar a serio.

James Cimino

A única desqualificada aqui é você e seus comentários cheios de rancor. Por favor, não volte.

Lih

Ui bichona fresca q só sabe ver as coisas no seu mundinho cor de rosa. Vai querer negar q a travesti se maquiou p querer aparecer?

James Cimino

Você pode provar isso? Não pode né? Então quem tá querendo aparecer aqui é você. Vai curtir seu sábado triste lá longe fia.

Júnior

Esse ser que faz esses comentários tem sim muita inveja da beleza e da inteligência da Vivi, pode chamar ela do que quiser, isso não a torna um ser inferior graças a sua opinião insignificante! Com certeza você precisa e muito transar, pessoas que não gozam são amarguradas e invejosas!!!!!

Comments are closed.