O frei anglicano Eduardo Faria é um padre de Juiz de Fora (MG) que afirma ter se sentido tocado com o protesto de Viviany Beleboni, que desfilou crucificada em um carro durante a última Parada LGBT de São Paulo.
Casado, professor (bacharel em direito, filosofia, teologia e física) e frei franciscano, ele passou a ficar mais conhecido nas redes sociais pela mensagem que publicou sobre a foto em seu perfil no Facebook.
Não poderia me recolher sem comentar a foto que ilustra este post… Já vi vários comentários medíocres e nada lúcidos acerca da mesma, inclusive de uns infelicianos…
Quem conhece a verdadeira causa do Nazareno (excluído, marginalizado, destruído socialmente – mas Deus da vida, Libertário e Libertador, que veio para a vida plena e em abundância), compreenderá a beleza e religiosidade contida nesta foto.
Talvez a manifestante entenda mais de Jesus do que aqueles que a criticam. Só rogo a Deus que nos perdoe quando nos calamos diante da morte, e que nos mostre – e também aos infelicianos ou malassemalçaias – que continuamos a crucificar o Mestre naqueles que ferimos, maltratamos e não respeitamos.
Que esta imagem nos leve à profunda reflexão durante esta semana, para que não matemos aquilo que o Senhor mesmo nos ordenou cultivar.
Parabéns à comunidade LGBT, não há qualquer desrespeito na imagem, que quem tem olhos para ver veja…
Hoje, depois de ter sido ofendido da maneira mais torpe e vulgar por um homofóbico de profissão e depois de ler que este Frank Underwood tupiniquim colocou em votação com urgência um projeto de lei bizarro que criminaliza a “Cristofobia”, fiquei procurando uma forma de estancar esse esgoto caudaloso de autoritarismo que transborda diariamente das bocas dos políticos religiosos fundamentalistas.
Me ocorreu, depois de ler o texto do frei, que a melhor forma de combater esse cristianismo bandido, sectarista, mercantil, vil, vulgar e deturpado é promover o verdadeiro cristianismo: solidário, amoroso e acolhedor. Por isso, resolvi bater um papo com o frei sobre o que aconteceu com a Viviany, sobre o que tá rolando no Congresso e sobre a palavra de Jesus Cristo.
LADO BI – Por que o senhor acha que tantas pessoas se ofenderam com a imagem da Viviany crucificada?
Frei Eduardo Faria – penso que há vários motivos para a ofensa: alguns se ofenderam por ignorarem o verdadeiro sentido do projeto de Jesus Cristo, tudo o que Ele disse e pregou. É uma das lutas que tenho travado, trazer à tona os verdadeiros ensinamentos do amigo revolucionário de Nazaré.
Outros se ofenderam porque a homoafetividade influi em temores e desejos reprimidos, muitas vezes provocados pela ousadia do ser legítimo e corajoso que me atine em minha covardia ou em medo de me assumir.
E há ainda aqueles que “se sentiram” ofendidos por uma hipocrisia, um farisaísmo puritano que quer impor um “way of live” como se houvesse um modo certo e todos os outros fossem errados. Quem não se submete à opressão é maldito, ofensivo.
Por último, há aqueles que reproduzem, sem pensar, conceitos que recebem de “líderes” ou “referências”, sem questionar ou mesmo refletir.
Falando em hipocrisia e em farisaísmo puritano, como o senhor tem acompanhado o trabalho da bancada teocrática na Câmara?
Me colocando em apuros (risos). Bem, penso que a questão é muito complexa, e – em minha opinião pessoal – não estão desempenhando bem a função pública. Explico-me: o artigo 37 da Constituição Federal (que elenca os princípios que regem a administração pública) elenca a impessoalidade como imposição ao funcionário público no exercício de sua função. Assim, ao tomar-se um partido, seja ele qual for, violado este princípio, é incorreta a postura do agente. Então, como o Estado é laico (também garantido na C.F.), impor-se questões de denominações A ou B é como que voltar a ter uma orientação religiosa no poder público, o que é ilegal, como expliquei. Até entendo que, em alguns casos, haja necessidade de manifestação de orientações éticas e morais – por clamor público ou social – mas penso que não tem a citada bancada feito isso de forma imparcial e competente.
O senhor acha que ela apenas privilegia um grupo específico?
Penso que sim, eis que – ao não decidirem com imparcialidade – acabam por gerar um proselitismo que não somente é “imoral” no sentido acima explicitado, mas também prejudicial, na medida que prejudica a isonomia (igualdade) que deveria haver diante da lei. Por exemplo, no assunto que estamos conversando – o grupo LGBT – há uma predisposição a considerar o grupo como “anormal”, o que prejudica qualquer tomada de decisões e assim não se permite uma igualdade a outros setores, por exemplo.
E o que lhe despertou quando o senhor viu a imagem da Viviany numa cruz?
Fui tocado de grande emoção, em vários sentidos. Primeiro, porque ela fez me sentir ferido, naqueles que, como ela, sofrem agressões, violências e são cotidianamente crucificados. E desse sentimento nasceu em mim o compromisso de fazer algo para que não continuassem a crucificar meu Senhor nestes pequeninos, como Ele mesmo diz em Mateus, capitulo 25, versículo 40. Por isso me vi obrigado a publicar em meu perfil a mensagem que publiquei, em apoio à linda expressão que ela transmitiu, a mim e a muitos.
O que diz em Mateus 25, versículo 40, frei?
“Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Há muito tempo que o senhor olha pela comunidade LGBT ou foi depois da Viviany que isso se modificou?
Na verdade, afirmar que estou para a comunidade especificamente seria injusto com tantas pessoas que trabalham muito mais seriamente do que eu. Sou padre e estou com todos os irmãos. Estes dias, porque a violência se acirrou, acabei focando mais a atenção especificamente nesta causa. Mas, desde sempre os acolhi em minhas comunidades e participei de eventos dando meu apoio e reflexão à comunidade LGBT. Porém, nunca considerei como um grupo diferente, eis que para mim são irmãos como outros, que atendo tão normalmente que não “gera destaque” – se consegue me entender. Mas, há muito já os acolho em minhas missas, recebo-os normalmente e conversamos muito, enfim, em todas as comunidades por onde passo não há distinção entre pessoas. Acho que é assim que os cristãos devem ser: serem reconhecidos por muito amarem (como disse Jesus em João, 13, 35)
Mas, frei, o senhor concorda que as igrejas cristãs não têm sido os locais mais acolhedores para LGBTs, não?
Concordo plenamente. Aliás, penso que muitas comunidades cristãs se assemelham mais aos algozes do Senhor do que ao que Ele pediu. E a Viviany me mostrou que é preciso ser mais incisivo na atuação e acolhida dos jovens LGBT. Às vezes, nos acomodamos em uma zona de conforto e não agimos como deveríamos. Um choque – como foi a reflexão produzida pela Viviany – nos mostra que é preciso mais. E é por isso que estou me articulando e pensando em algumas novidades.
Frei, eu sempre que vejo esses pastores deputados, com suas igrejas que comercializam a fé, penso que eles são os atuais fariseus, os vendilhões do tempo ou, como está descrito no apocalipse, os falsos profetas. O senhor acha essa interpretação equivocada?
Sinceramente, a postura dos mesmos muito se assemelha às figuras citadas, porém, penso que seja arriscado julgar, rotular, sob pena de cairmos no mesmo erro que eles cometem. Penso que somente um movimento consciente, lúcido e amável poderá gerar uma mudança de paradigma, para que não nos tornemos amargos e cruéis. Mas, seu raciocínio é muito pertinente sim.
Eu digo isso, porque quando vi a Viviany pendurada naquela cruz, achei tão forte, tão preciso…
Tive a mesma impressão. Resumistes bem: precisão!
…E pensei que se jesus voltasse à terra hoje e visse tantos homens mal intencionados usando sua palavra para oprimir pessoas que sofrem, que ele os chamaria de fariseus e que se sentaria com a travesti mais miserável, mais sofrida e lhe daria colo…
Estás certíssimo, mas – penso eu – ao mesmo tempo, Ele tentaria – antes de condenar como malditos os fariseus – os tentaria converter, com o amor, e é o caminho que estamos tentando. Se eles vendem “curas”, “objetos mágicos”, doemos o amor, e tentemos mostrar “a quem tem olhos de ver” a Verdade.
Por que tantas pessoas caem nesse falso cristianismo que muitas vezes cria muros entre as pessoas?
Excelente sua pergunta. Hoje recebi uma mensagem in box ofensiva, de um líder religioso, na qual o mesmo me dizia que enquanto meus posts tinham “meia dúzia de comentários” (ipsis liteirs o que ele escreveu), os dele passavam de dez mil. Me coloquei a pensar e fiquei – ao final de minha reflexão – feliz, pois se repararmos, enquanto uma multidão gritava “crucifica-o”, apenas doze caminhavam com Jesus, e desses, apenas um destes aos pés da cruz. Não deve o servo se considerar maior do que o Senhor. Se consigo converter alguns, acho que já é um bom começo. É o que eu penso, sinceramente. Quero – de alguma forma – criar um movimento que permita à muitos que querem se aproximar de Deus mas não podem, por causa dos fariseus. Uma “igreja virtual”, ou uma igreja sem fronteiras…
Muitos líderes religiosos usam passagens muito específicas da Bíblia para condenar a homossexualidade. Qual sua interpretação dessas escrituras?
Estou escrevendo um livro sobre isso – porém, como tenho parcos recursos financeiros, ainda demora, (padre anglicano, risos) – as Escrituras não condenam a homossexualidade, o que há é uma má interpretação (proposital ou não) do que ali está contido. Jesus conviveu com dois homossexuais, pelo menos, e não os condenou.
Quem eram?
Acho que devo manter segredo, senão não vão comprar meu livro, risos…
Com base em que o senhor afirma que jesus conviveu com dois homossexuais?
Antes de te contar quem são os dois com quem Jesus conviveu, vou te contar que o próprio Deus (como já profetizou Pepeu Gomes) é menino e menina. A palavra hebraica (Ruach) que traduziram como Espírito Santo, não admite masculino, é uma palavra somente feminina, então seria Espírita Santa, ou seja, Deus é Pai, Mãe e Filho
Uau!
E, em relação à Jesus, há bases no próprio texto bíblico que indicam a convivência com os homossexuais: Se você olhar o capítulo 22 do evangelho de Lucas, no versículo 10, verás que Jesus manda que procurem o homem que carrega um cântaro com água. Buscar água no poço era ofício das mulheres (e os homens não poderiam andar com as mulheres, como bem deves saber) então, o homem do Cântaro não somente era gay, mas acima de tudo, travestido.
Uau! (2) E como o senhor, com essa visão, interpreta a homossexualidade ou a transexualidade?
Ele (Deus) fez o homem à sua imagem e semelhança (menino e menina), parafraseio Pepeu: “se Deus é menina e menino, eu sou um masculino e feminino”. Alguns dão vazão a este lado feminino, em uns é mais latente, em outros não. Freud confirma minha teoria, inclusive… (risos)
E o que o senhor está achando desse projeto de lei que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, colocou para votação em regime de urgência, que criminaliza a “Cristofobia”?
Acho que vai ao encontro do que eu falei da atuação do legislativo acima. O Estado agindo no interesse de um grupo específico… A menos que se proponha – o que não é o caso da lei em comento – uma análise séria e comprometida, será uma confirmação da “incompetência da América Católica que sempre precisará de ridículos tiranos” (como já anunciado na canção “Podres Poderes”)
Eu tenho a impressão de que este projeto é de pessoas que querem “patentear” a imagem de Jesus Cristo. Como se dissessem: “nós que determinamos o que se pode ou não fazer com a imagem dele”.
Perfeita sua síntese.
Como faziam os fariseus… Heheheh…
(Risos) Tenho pensado muito em como combater essa enxurrada de ódio e acho que o caminho é o da paz. Vamos semear amor, porque eles acabam ficando ridículos.
Deus te abençoe e te guarde, meu querido Frei Eduardo Faria, Deus te de forças , perseverança na fé e no amor, os ataques, as calunias, as agraçoes virão. Mas jesus Cristo disse que seria asim mesmo: “Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.” (Evangelho segundo São Mateus 5,11-12)
Padre Antônio Piber
[…] http://www.ladobi.com/2015/06/frei-anglicano/ […]
Muito boa a entrevista… palmas para o Frei Eduardo que realmente compartilha a palavra de Deus… amor!!! Só não vê quem realmente não tem olhos pra enxergar.
Hey, vocês poderiam colocar a página ou perfil do Frei aqui? E ainda mais, caramba esse homem deve ser muito interessante de se conversar. A entrevista ficou muito boa, parabéns!
Aqui está: https://www.facebook.com/eduardo.faria.378537?fref=ts
Parabéns por nos trazer esse conteúdo.
Deus está mais aqui do que nesses templos materialistas.
Obrigado Marcos.