Desde que a epidemia do HIV teve início na década de 1980, as campanhas de prevenção se dedicaram a apavorar a população sexualmente ativa para que usassem preservativo. Mesmo assim, 45% das pessoas que têm relações sexuais casuais não usam camisinha, como apontaram pesquisas recentemente divulgadas pelo Ministério da Saúde. Trinta anos tocando o terror não pareceram ser capazes de alterar o comportamento das pessoas; 2015 traz uma mudança de tática e de tom nos esforços para controlar o HIV.
Esse ano, ao invés de focar exclusivamente na camisinha, a campanha do Ministério da Saúde para o Carnaval investe no lema “camisinha + teste + medicamento”: use o preservativo, faça o exame para descobrir seu status sorológico, e, se o resultado vier positivo, comece o tratamento imediatamente. Tudo sem drama, muito carnavalesco. Perceberam que dizer que a vida da pessoa acaba quando ela se torna soropositiva só faz com que ela fique com medo de fazer o exame (posso dizer por experiência própria). Entitulada #partiuteste, a campanha conta com 129 mil cartazes em quatro versões – segmentados para a população jovem, travesti e jovem gay – um spot de rádio, 315 mil folders explicativos da prevenção combinada e um vídeo para TV, concentrados principalmente nas cidades onde há as maiores festas de Carnaval: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Olinda, Florianópolis, Ouro Preto, Diamantina, São João Del Rei e Alfenas.
Outra estratégia inovadora do Ministério da Saúde foi criar perfis nos aplicativos Tinder e Hornet para se comunicar diretamente com pessoas que preferem fazer sexo sem preservativo. Esses perfis propõem sexo sem camisinha para usuários desses aplicativos, e, depois de engatarem conversa, informam as pessoas sobre os riscos dessas práticas.
Esse ano população LGBT é também o alvo de uma campanha específica criada pelo gabinete do deputado federal Jean Wyllys. Sem falsos moralismos nem meias palavras, o material criado por Wyllys mostra situações próximas à realidade em linguagem voltada para o público jovem. “Absorvemos algumas críticas das organizações de combate às DSTs/HIV/AIDS e fizemos uma campanha mais próxima dessa juventude, incluindo os jovens LGBT, bem como as prostitutas, muitas vezes ausentes. Uma campanha onde os casais se tocam, se beijam e transam. Tudo com muito cuidado e bom gosto, mas também sem ser artificial”, explica o deputado em release.
Resta agora que esses esforços de conscientização e prevenção, tradicionalmente concentrados no Carnaval, passem a acontecer durante o ano todo.