OMS expande recomendações para tratamento e prevenção do HIV

Organização passa a recomendar tratamento antirretroviral imediato para todos soropositivos, e indica PrEP para todas as pessoas com comportamento de risco, independente da orientação sexual

por Marcio Caparica

Acabar com a epidemia de HIV até 2030. Essa é a (ambiciosa) meta que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu quando divulgou, ontem, novos parâmetros para o tratamento e prevenção do vírus HIV. As novas recomendações, baseadas nas pesquisas mais recentes, alteram alguns princípios estabelecidos desde o início da epidemia, nos anos 1980.

A OMS agora recomenda que todos aqueles que descobrirem-se soropositivos comecem a tomar antirretrovirais – a recomendação até então era de que o tratamento de pacientes soropositivos apenas se iniciasse quando a contagem das células em seu sistema imunológico ficasse abaixo de um certo patamar. Essa medida comprovadamente impede a transmissão do vírus para outras pessoas (pacientes com carga viral indetectável não transmitem o HIV) e aumenta a qualidade de vida do paciente a longo prazo. O Ministério da Saúde do Brasil já recomenda o tratamento imediato de soropositivos desde 2013.

A profilaxia pré-exposição (PrEP) também passa a ser indicada para todas as pessoas em situação de potencial exposição ao HIV. A PrEP, para quem não sabe, é o tratamento em que um indivíduo soronegativo toma um comprimido de Truvada (a combinação de dois antirretrovirais) todos os dias, para evitar a contaminação pelo HIV. Ano passado a OMS havia recomendado a PrEP para todos os homens que fazem sexo com homens (HSH). Agora essa restrição foi eliminada, algo que vem de encontro a várias reclamações de ativistas LGBT, que viam a indicação apenas para HSH como discriminatória.

O infectologista Ricardo Vasconcellos, do Hospital das Clínicas de São Paulo e um dos coordenadores do estudo PrEP Brasil, comemora: “A atualização da recomendação da PrEP tem impacto significativo, pois reconhece que a PrEP é eficaz no bloqueio das novas infecções e segura para quem faz uso dela, e deve ser oferecida para todos que forem se beneficiar dela. É também um aviso para que todos os países do mundo ajustem suas estratégias de prevenção com o que há de mais moderno, e um lembrete para a população mundial de que, apesar do HIV acometer principalmente o grupo dos HSHs, ele deve ser também assunto e preocupação de todos.”

Segundo a OMS, esses novos parâmetros faria com que o número de pessoas que teriam o direito ao tratamento antirretroviral aumentasse dos atuais 28 milhões para 37 milhões. Ainda não se sabe como (e se) cada país vai seguir esses novos parâmetros, principalmente em países severamente afetados pela epidemia, como aqueles na África. “Essas recomendações vão destacar a disparidade entre o que as pessoas deveriam ter e aquilo que conseguem obter. Os países em desenvolvimento mal cumprem os parâmetros antigos, e essa expansão é bastante significativa”, aponta Rick Elion, especialista em HIV e professor de medicina da George Washington University School of Medicine. Nos EUA, a PrEP custa 13 mil dólares por ano para cada paciente. No Brasil a PrEP ainda não está disponível para o público em geral, mas tudo indica que será fornecida aos interessados gratuitamente pelo SUS.

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Um comentário

pedro

Isso sao 52 mil reais no Brasil. É um valor altissimo. Não sei porque a demora em implantar isso no Brasil. Já deveria estar em qualquer farmácia e, até mesmo, com quebra de patente pra baixar esse preço extorsivo.

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