Injeções podem se tornar nova forma de prevenção contra HIV

Pesquisas com macacos indicam que uma aplicação do novo tratamento a cada três meses pode impedir a transmissão do virus da Aids

por Marcio Caparica

Pesquisadores anunciaram que injeções de drogas para o tratamento contra a AIDS de longa duração protegeram macacos contra infecções do virus por semanas, uma descoberta que pode se tornar um dos maiores avanços na prevenção da doença entre os humanos.

Dois estudos feitos por diferentes grupos de laboratórios constataram 100% de proteção em macacos que recebiam injeções mensais de drogas antirretrovirais. Há indícios ainda de que uma única dose a cada três meses poderia ter o mesmo resultado.

Se os resultados se repetirem com os humanos, há grandes chances de ter se encontrado a maneira para se superar um dos maiores problemas na prevenção da AIDS: o fato de muitas pessoas não conseguirem tomar suas pílulas antirretrovirais regularmente.

Sabe-se desde 2010 que pessoas saudáveis que tomam uma pequena dose de drogas antirretrovirais – um procedimento conhecido como profilaxia pré-exposição, ou PrPE – conseguem uma proteção acima de 90% contra infecções. O remédio mais popular para esse tratamento é o Truvada, que vem demonstrando taxas de proteção de 98%.

Mas em vários experimentos clínicos desde então com homens gays, com usuários de drogas injetáveis e com casais em que apenas um dos parceiros é soropositivo, constatou-se que apenas os participantes que tomam seus remédios todos os dias sem falta permanecem protegidos. Muitos dos pacientes não conseguiram manter essa disciplina, e assim a proteção oferecida pela droga cai drasticamente.

A taxa de fracasso foi particularmente alta entre mulheres da África. Apesar de que pacientes em um estudo sobre PrPE terem afirmado que tinham ficado com medo por causa de rumores de eventuais efeitos colaterais, muitos também afirmaram que temiam guardar as pílulas em casa, porque o parceiro sexual ou algum vizinho poderiam vê-las e pensar que o paciente já era portador do vírus.

Uma injeção intramuscular que impeça a transmissão pode ser a solução para todos esses problemas.

Os estudos foram realizados pelo Centro de Pesquisa da AIDS Aaron Diamond da Universidade Rockfeller e pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta. Em ambos, macacos recebiam injeções de GSK744, uma droga experimental que é uma forma de longa duração de drogas já em uso no tratamento do HIV. Um grupo de controle recebia injeções de um placebo. A cada duas semanas, uma variante para macacos do HIV era injetado na vagina ou no ânus das cobaias, para simular o ato sexual com animais infectados. Nenhum dos macacos que haviam recebido a injeção de GSK744 foi infectado, enquanto todos que eram injetados com o placebo tornavam-se soropositivos rapidamente.

Testes feitos pelos cientistas para descobrir qual concentração da droga é necessária para obter os resultados desejados levam a crer que uma injeção a cada três meses seria o suficiente para manter a proteção contra o vírus.

Testes em pequena escala com seres humanos vão começar ainda este ano, com 175 voluntários nos Estados Unidos, na África do Sul, em Malaui e no Brasil. Estima-se que ainda levará três anos até que seja possível fazer um teste em grande escala que possa demonstrar se as injeções de GSK744 vão ser tão eficazes com humanos quanto com os macacos.

Fonte: The New York Times

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