Reino Unido proíbe práticas de dominação feminina sobre homens em pornôs

Tem sempre gente criticando a gente aqui do LADO BI por traduzirmos textos dos EUA e da Europa para o blog sob o pretexto de que “não valorizamos a cultura nacional”. Esta é uma visão parcial do nosso trabalho. Quem acompanha o blog e o podcast já nos leu ou ouviu debatendo filmes como “Tatuagem”, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”,  “Gata Velha Ainda Mia”, “São Paulo em Hi-Fi”, a novela das 21h… Mas tanto eu quanto o Marcio temos todo o interesse em trazer debates sobre questões LGBT, feminismo, racismo e toda e qualquer forma de discriminação ou de limitação de direitos no mundo até para refletir sobre a nossa posição, não por uma questão de colonialismo cultural, mas por uma questão de inserção no debate global.

Este texto, por exemplo, me fez pensar duas coisas: afinal, que liberdade de expressão é essa que está ocorrendo na Inglaterra quando o parlamento se propõe a votar uma emenda que veta dez práticas sexuais nos filmes pornográficos ingleses? E o que está por trás dessa censura que, segundo análise do jornal “The Independent”, apenas veta práticas sexuais que colocam a mulher em posição de poder na hora do sexo?

Pois é: aconteceu nesta terça-feira (2). Por meio de uma emenda à lei 2.003, que versa sobre comunicações, os Serviços de Regulação das Comunicações Audiovisuais exigem agora que os videos “on-demand” (mais conhecidos como pornografia on-line) devem aderir às mesmas diretrizes estabelecidas para os filmes pornôs vendidos em sex shops, conforme determinação do Conselho Britânico de Censura a Filmes (BBFC, na sigla em inglês).

Quais seriam essas diretrizes? Com o aparente objetivo arbitrário de decidir o que é sexo bom e o que não é sexo bom, a diretoria da BBFC proibiu que os produtores de pornografia britânicos exibam cenas de:

1. Palmada
2. Caning (um tipo de surra de vara)
3. Chicotadas agressivas
4. A penetração com qualquer objeto “associado à violência”
5. Abuso físico ou verbal (mesmo que consensual)
6. Urolagnia (os famosos “esportes aquáticos” ou “golden shower”)
7. Ejaculação feminina
8. Estrangulamento
9. Facesitting (quando a parceira senta sobre o rosto do parceiro)
10. Fisting (introdução da mão ou do braço no ânus)

Os três últimos foram listados, sob o ponto de vista do BBFC, por “colocar [o praticante] em perigo de morte”. Eu não reclamaria de morrer num facesitting…

Chega a ser uma piada. E chega a ser mais engraçado ainda perceber como os parlamentares ingleses e brasileiros são parecidos no tocante a decidir o que as pessoas devem fazer com seus corpos ou como elas devem se excitar, especialmente as mulheres e LGBTs. Há Bolsonaros, Felicianos e Malafaias na Câmara dos Lordes, afinal. E eles todos acham que uma foda pode ser boa sem uma boa sentada na cara!

Facesitting vetado em pornôs ingleses: depois não querem que digam que fodem mal…

Pode assistir, mas…

O BBFC deixa bem claro que as medidas não impedem as pessoas de assistirem a qualquer gênero de pornô. E como vídeos desse tipo feitos no exterior ainda estão liberados, as imposições estão restritas apenas (eu diria por enquanto) aos conteúdos criados no Reino Unido.

“Não parece haver explicações racionais para a maioria das regras”, diz Jerry Barnett do grupo anti-censura “Sexo e Censura”. “Tudo isso é um simples conjunto de juízos morais projetados por pessoas que têm lutado incessantemente para impedir o povo britânico de assistir pornografia.”

Segundo o “Independent”, o que é mais preocupante é o fato de as restrições mirarem em práticas sexuais que costumam colocar as mulheres em posição de dominação sobre os homens.

“A nova legislação é absurda e surreal”, diz Itziar Bilbao Urrutia, uma dominatrix que produz pornô feminista. “Quero dizer, por que proibir o ‘facesitting’? O que há de tão perigoso nisso? É uma atividade inofensiva que artistas como eu fazem totalmente vestidas. É poder simbólico: A mulher por cima e inatingível.”

Então, amiga, é bem isso mesmo. Assusta… Não estranhe se um dia for necessário preencher uma ficha antes de fuder.