Two Girls

Meninas pegarem meninas é pratica crescente no Reino Unido e nos EUA

Pesquisa diz que quatro vezes mais mulheres relatam terem tido experiências homossexuais que há 20 anos

por Marcio Caparica

Mais mulheres do que nunca estão tendo relações homossexuais – ou pelo menos mais mulheres do que nunca estão contando isso.

Semana passada, uma longa pesquisa realizada no Reino Unido descobriu que o número de mulheres que admitem terem passado por ao menos uma experiência erótica com outra mulher se multiplicou por quatro nos últimos 20 anos. Relatos de comportamentos equivalentes entre homens, no entanto, permaneceram praticamente constantes. Hoje em dia “a proporção de mulheres que relatam experiências sexuais com parceiros do mesmo sexo … excede a de homens, ao menos entre as idades mais jovens”, diz a pesquisa. Nem esse aumento nem a diferença entre os gêneros pode ser explicada por uma mudança na autoidentificação sexual, de acordo com o estudo.

E isso também não é algo que acontece só entre os britânicos. Debby Herbenick, pesquisadora da Universidade de Indiana, aponta que sua pesquisa nos Estados Unidos trouxe resultados similares: 8% dos homens e 15% das mulheres relatam ter tido algum tipo de comportamento homossexual em algum ponto da vida. Infelizmente, os norte-americanos não dispõem das estatísticas históricas para demonstrar como esses números se alteraram com o tempo. Voltando, então, à descoberta britânica, publicada originalmente no periódico The Lancet: qual a razão da diferença entre os gêneros, e por que esse aumento?

Uma explicação possível para a disparidade entre os gêneros é que a sexualidade das mulheres é mais fluida que a dos homens. Meredith Chivers, sexóloga da Queen’s University, afirma “as mulheres têm uma capacidade maior para a expressão sexual fluida quanto aos gêneros que os homens. Isso pode estar relacionado à capacidade das mulheres de se tornarem excitadas sexualmente por um leque maior de estímulos sexuais, inclusive imagens de outras mulheres.” Chivers foi a responsável pela hoje infame pesquisa que descobriu que a resposta genital das mulheres à pornografia não dependia do gênero dos atores envolvidos, ao contrário da dos homens. (As mulheres também ficavam genitalmente excitadas ao assistir sexo entre macacos bonobo – porque elas são, hmmmm, especiais desse jeito.) No que se trata de imagens de coito, as respostas físicas de excitação femininas são pansexuais.

No entanto pode ser também que “esses padrões de excitação não sejam a causa, mas sim o efeito de como as mulheres têm sido socializadas em relação a sua sexualidade”, lembra Chivers. Isso nos traz a possibilidade de que haja um efeito cultural influenciando as descobertas britânicas – que poderiam, ao menos em parte, explicar a quadruplicação dos números. A diferença entre os gêneros é mais acentuada entre a faixa etária mais baixa (entre 16 e 34 anos). Mais ainda, a diferença entre os gêneros desaparece quando se analisa pessoas acima de 45 anos; quando se faz a média entre todas as idades, a diferença se reduz. “Este é um efeito em bando, e sugere que há algum fator cultural ou sociológico em ação que está alterando o comportamento das mulheres”, especula Chivers.

Não é necessário muito esforço para imaginar qual seja esse fator. Dica: flashes da Madonna beijando a Britney. Menina pegando menina é um fetiche da nossa cultura num nível muito maior que menino pegando menino, e as mulheres têm muito mais margem para explorar a sexualidade ou desenvolver uma identidade sexual fluida que os homens. (Quantas vezes se permite que um beijo entre dois homens heterossexuais seja nada mais que um beijo?) Isso talvez fique ainda mais claro com outro resultado do estudo: mais homens se identificam como gays que mulheres, e mais mulheres se identificam como bissexuais que homens. Chivers resume isso tudo da seguinte maneira: “os comportamentos sexuais dos homens permanecem mais polarizados e estáveis”.

Vale apontar que a maior parte dos encontros homossexuais das mulheres não envolve contato genital. Aproximadamente 18% relatou ter tido contato sexual com outra mulher sem jamais se aventurar lá embaixo, enquanto 8% se aventurou por lá. Mas fica difícil tirar quaisquer conclusões sobre isso sem saber mais sobre a natureza desses comportamentos homossexuais não-genitais: era uma pegação para o deleite de um bando de homens babões num bar, ou um rendezvous íntimo debaixo das cobertas? Quantas dessas mulheres estavam agindo devido à atração por mulheres? Quantas dessas mulheres estavam agindo devido à atração por uma pessoa que calhava de ser mulher? Quantas estavam cedendo à pressão do grupo de amigos? Quantas estavam fazendo um showzinho para os homens? Quantas estavam experimentando pelo simples prazer de experimentar? Não sabemos.

Pesquisas de comportamento sexual revelam lados nossos a nós mesmos sempre aos poucos. Esses estudo é mais uma peça no quebra-cabeça, mas ninguém faz ideia para onde ele vai levar.

Traduzido de um post original da incrível Tracy Clark-Fiory.

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8 comentários

Roberto

Marcio,não sei se eu me expressei mau ou você que me interpretou erroneamente.
O que eu quis dizer,resumidamente,é que um pesquisador ou equipe que se propõem a fazer uma pesquisa sobre um tema que é essencialmente SUBJETIVO,tenha se esquecido ou preferiu negar a própria SUBJETIVIDADE como um fator determinante nos resultados da pesquisa,se é que isso foi levado em consideração!
Um tanto contraditório isso,não é?

” primeiro, temos que respeitar que pesquisadores profissionais vão tentar encontrar grupos o mais representativos o possível do tema que querem estudar. ”

Mas então voltamos ao ponto que eu levantei anteriormente,ainda está se falando em um GRUPO.Nem sempre,eu diria que quase nunca,a opinião ou atitudes do GRUPO irão ser condizentes ou correspondentes com a opinião ou atitude do INDIVÍDUO.
Como se pode garantir que dentro desse grupo ou parcela estudado na pesquisa também não haveriam tantos outros indivíduos que por diversos fatores,não tiveram o resultado mostrado ou comparado em detrimento dos resultados do grupo?
SUBJETIVIDADE não consultada ainda permanece a resposta mais plausível pra mim.

“Segundo, se nunca puder se extrapolar algo de um grupo de pessoas para a população como um todo, que é o que você quer dizer nesse comentário, então podemos simplesmente fechar as portas de todas as universidades de ciências humanas, principalmente as que se propõem a estudar o comportamento humano, porque elas são todas inúteis.”

É ÓBVIO que eu não falei isso e nem quero que isso aconteça Marcio!
Eu não falei daS pesquisaS. O que eu estou tentando argumentar,é que essa determinada pesquisa EM PARTICULAR, tem a credibilidade bastante comprometida quando não levou em consideração algo tão nítido e necessário para uma pesquisa sobre conteúdo que buscou abordar.
Não sei onde você leu que eu acho as pesquisas de universidades de ciências humanas,a respeito do comportamento humano,são INÚTEIS??
Querendo-se admitir isso ou não,mas a sexualidade e a discussão sobre o assunto,são SIM 90% subjetivos.

“mas tendências de grupos podem sim indicar tendências na população geral, até porque não existe ser humano tão absolutamente único que não seja influenciado pela sociedade em que vive.”

Discordo de você,a sociedade de modo geral NÃO PODE ter suas “tendências” medidas de acordo com grupos.
Sabe por quê?
Por que os grupos são FORMADOS dentro da sociedade,e ela tem o papel de apenas AGREGÁ-LOS!
Que a sociedade exerce uma certa influência em todos nós,isso é inegável, mas como eu falei antes,cada indivíduo vai reagir de uma maneira diferente com essa influência ou estímulos da sociedade.
Lembre-se sofrer influência é diferente de se deixar ser influenciado!
Você acha mesmo que “não existe ser humano tão absolutamente único que não seja influenciado pela sociedade em que vive.”?
Discordo de novo! Você já leu “Robinson Crusoe”?

Até mais!

Marcio Caparica

A questão da relação indivíduo x sociedade é um debate imenso que as universidades já exploram por décadas… Como não sou acadêmico, mas esse é um estudo que foi publicado (e portanto, passou pela revisão de outros acadêmicos), eu prefiro acreditar em sua credibilidade antes de descartá-lo devido à “subjetividade” do tema. Os pesquisadores certamente estão mais equipados para lidar com isso do que eu, pelo menos. Certamente quem fez essa pesquisa levou em conta a dificuldade de se falar do assunto e tomou as precauções possíveis para que seus resultados fossem relevantes.

“Robinson Crusoe” é uma obra de ficção. Seu personagem-título, mesmo assim, é um dos maiores símbolos da mentalidade imperialista do século XVIII, seja na maneira como ele “subjuga” a ilha, como trata o Sexta-Feira como escravo (ensina-o a chamar-lhe de “mestre” antes mesmo de dizer “sim” ou “não”) e como considera os outros seres humanos, canibais e europeus, que passam pela história. Ele dificilmente pode ser considerado um exemplo de um homem que não é influenciado pela sociedade em que vive.

Roberto

“Pesquisas de comportamento sexual revelam lados nossos a nós mesmos sempre aos poucos. Esses estudo é mais uma peça no quebra-cabeça, mas ninguém faz ideia para onde ele vai levar.”

Bem,pra mim já ficou claro que pesquisas desse tipo são PESQUISAS POR AMOSTRAGEM.Essa pesquisa citada estudou um GRUPO ou PARCELA de pessoas,então assim sendo,os resultados obtidos com a pesquisa serão válidos APENAS ou pelo menos serão RESTRITOS ao grupo pesquisado.
Já sabemos que a PARTE não representa o TODO!

O que pesquisas como essa não levam em consideração e que pode ter um grande peso,é algo chamado de SUBJETIVIDADE.
Como estamos cansados de saber,NENHUM ser humano é igual ou age da mesma forma que o outro.Está bem que alguns grupos isolados podem vir a ter certos comportamentos semelhantes,mas mesmo assim ainda está se falando em GRUPOS, e não propriamente em INDIVÍDUOS,agindo individualmente,e é esse o ponto que eu quero chegar.

Cada ser humano vai reagir de uma forma diferente a certos estímulos,justamente pelo fato de possuírem características próprias que podem IMITADAS mas nunca poderão ser COPIADAS.

Sem falar nas diferenças biológicas,psicológicas e comportamentais fundamentais entre homens e mulheres que são NATURAIS,como por exemplo: “Mulheres são multifocais e homens são monofocais, etc…”

Finalizando,pesquisas que pretendem estudar algo tão SUBJETIVO e “obscuro” como a sexualidade,nunca poderão ser CONCLUSIVAS,elas sempre serão DEDUTIVAS.

Até mais!

Marcio Caparica

Roberto, primeiro, temos que respeitar que pesquisadores profissionais vão tentar encontrar grupos o mais representativos o possível do tema que querem estudar. Segundo, se nunca puder se extrapolar algo de um grupo de pessoas para a população como um todo, que é o que você quer dizer nesse comentário, então podemos simplesmente fechar as portas de todas as universidades de ciências humanas, principalmente as que se propõem a estudar o comportamento humano, porque elas são todas inúteis. Sabemos que não é o caso. Sim, todo ser humano é único, mas tendências de grupos podem sim indicar tendências na população geral, até porque não existe ser humano tão absolutamente único que não seja influenciado pela sociedade em que vive.

jakeline

Claro que acho. certo isso não tem q ter preconceito mais um casal de de mulheres ou de homens não deve adotar?

Alexandre

Alguns diriam que virou moda… Acho que existe mesmo essa maior liberdade feminina quanto à experimentação. O patriarcalismo impõe muito sobre os homens, ditando regras que são difícies de serem burladas. É como se os gays (homossexuais masculinos) tivesse fadados a viver em um mundo de mentiras e encenação, mas as mulheres (tanto as lésbicas, quando as bissexuais ou mesmo as que gostam de uma aventura), cada vez mais, pudessem viver a sexualidade como (e com quem) quiserem.

Marcio Caparica

Superconcordo, Alexandre. O homem (principalmente o hétero) vive sob uma vigia constante de todos a seu redor para não fazer nada que “coloque em dúvida” sua heterossexualidade. Duas garotas andando de mãos dadas é fofo. Dois meninos de mão dadas levanta suspeitas… Muito triste.

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