Na última quarta-feira (27 de agosto), um vídeo no Youtube postado por Daniel Pierce, um jovem de 19 anos que mora no estado de Georgia, nos Estados Unidos, se espalhou pela internet. O vídeo, postado em um grupo do Reddit pelo namorado de Pierce, mostrava o momento em que o adolescente era atacado por seus familiares religiosos por causa de sua orientação sexual. Mesmo para quem não entende inglês fica clara a agressividade e a falta de compaixão dessa família pretensamente cristã.
“Os membros da família deram a ele duas opções: participar de uma oração para que sua homossexualidade fosse eliminada, ou ser deserdado pelas pessoas que deveriam amá-lo incondicionalmente”, escreveu Regina Ryan, uma amiga de Pierce, na descrição do vídeo.
Pierce confirmou os detalhes da descrição do vídeo para o site Huffington Post, e deu mais detalhes de sua história. Ele havia se declarado gay para os pais em outubro. Em princípio, seu pai não demonstrou reação e sua madrasta parecia apoiá-lo. No entanto, na quarta-feira ele foi convocado para uma “intervenção” por seus familiares, momento em que ele ligou a câmera de seu celular. “Eu queria que houvesse provas do que estava acontecendo caso algo grave acontecesse”, ele escreveu por e-mail.
No vídeo (até agora visto mais de 2,3 milhões de vezes), os familiares recriminam Pierce por sua sexualidade e insistem que ela é uma escolha, apesar de inicialmente admitirem que percebiam que ele era gay desde muito jovem. Quando ele insiste que, portanto, obviamente ele nasceu assim e não optou por ser gay, os argumentos religiosos começam a ser disparados. “Você pode acreditar [que isso não é uma escolha] se quiser”, a avó de Pierce diz, “mas eu acredito na palavra de Deus, e Deus não cria ninguém desse jeito. Esse é um caminho que você escolheu… Você pode dizer a bobagem científica que quiser. Eu sigo a palavra de Deus”. Em seguida ela diz que a família não vai mais sustentá-lo e ele deve sair de casa, porque ela não quer que “as pessoas acreditem que eu apoio isso que você faz”.
Quando Pierce pede para que sua madrasta permita que ele continue em casa, ela se nega. “Você é um merda!”, ela grita. “Você me disse por telefone que havia feito essa escolha. Você sabe que não nasceu assim!”. Pierce retruca que ela está distorcendo a conversa que tiveram por telefone, mas ela insiste: “Você sabe muito bem que isso foi uma escolha que você fez. Você sabe que seu pai fez de tudo para criá-lo bem… Você disse que ele não tinha que se culpar [por você ser gay].”
Nesse momento, Pierce é agredido fisicamente por seus familiares. Pode-se ouvir Pierce pedindo para que parem de bater nele. As pessoas ao redor de Pierce gritam que ele é “um maldito dum viado” e “uma desgraça”.
No Facebook, Pierce desabafa sobre o que aconteceu:
Mas que dia… eu pensava que acordar às 9:48 da manhã e chegar 15 minutos atrasado no trampo seria o meu maior problema de hoje. mas eu mal imaginava que meu maior problema seria ser deserdado e expulso da casa em que eu vivi por quase vinte anos. para deixar tudo pior, minha madrasta me deu um soco na cara várias vezes, enquanto minha avó a incentivava. eu ainda estou chocado, não consigo acreditar.
“A reação deles era bem o que eu esperava quando eu resolvi ir embora ao invés de rezar, pois eles sempre deixaram bem claro que não apoiavam o estilo de vida gay”, ele relatou ao Huffington Post. “O que realmente me surpreendeu e magoou foi a reação da minha madrasta.”
Os membros da família envolvidos na intervenção (incitada pelos avós, segundo Pierce) não falaram com a mídia ainda, mas deixaram uma mensagem de voz no celular do jovem ordenando que ele retirasse o vídeo do ocorrido do Youtube. Pierce admite que não chamou a polícia por causa do que aconteceu no vídeo.
Uma vaquinha online para ajudar Pierce a se sustentar depois de ser expulso de casa foi criada no site GoFund; até o momento, mais de 65 mil dólares já foram arrecadados. Infelizmente, a imensa maioria dos homossexuais expulsos de casa por familiares intolerantes não contam com o mesmo apoio: pesquisas demonstram que 40% dos jovens sem-teto dos EUA são LGBT. Pierce confirmou que no momento encontrou abrigo com outros parentes que apoiam sua orientação sexual.