O heavy metal está cada vez mais aberto à comunidade LGBT

Apesar da fama de homofóbicos, os músicos do rock pesado e seus fãs vêm demonstrando tolerância cada vez maior à diversidade sexual

por Marcio Caparica

Traduzido do artigo de Michael Friedman, Ph. D., para a revista Psychology Today

Depois de um hiato de três anos, a banda de heavy metal Life of Agony vai subir aos palcos  no dia 8 de agosto, no Alcatraz Hard Rock And Metal Festival, na Bélgica. Essas são boas notícias para os fãs de heavy metal que amam a combinação de metal, rock e hardcore que é característica do Life of Agony desde seu álbum de estreia em 1993, River Runs Red. Mas esse evento é especial também por outra razão. A vocalista do Life of Agony, Mina Caputo, é a primeira estrela abertamente transgênero do heavy metal e uma das musicistas transgênero mais preeminentes do mundo. Esse show será sua primeira performance ao vivo com o Life of Agony desde que ela saiu do armário em 2011.

Esse evento não é apenas outro marco para os direitos e aceitação LGBT, também é uma oportunidade de examinar como uma forma de música que é rotineiramente descartada como socialmente irrecuperável continua a lançar e apoiar ídolos abertamente LGBT.

A melhor maneira de se desafiar os pensamentos estereotipados sobre qualquer grupo de pessoas é a exposição. Harvey Milk, o primeiro homem eleito a um cargo público dos Estados Unidos abertamente gay, disse: “Eu gostaria de ver todos os médicos gays saírem do armário, todos os advogados gays, todos os arquitetos gays saírem do armário e deixarem o mundo ficar sabendo. Isso faria mais para eliminar o preconceito da noite para o dia que qualquer um pode imaginar.” Suas palavras acabaram por se tornar proféticas, já que recentemente cada vez mais pessoas em posições de destaque se declaram gays, lésbicas e bissexuais, além das tremendas vitórias da comunidade LGBT norte-americana ao conseguir acabar com o regulamento conhecido como “Don’t Ask, Don’t Tell” no exército, e aprovar a legalização do casamento homoafetivo em 17 estados e no Distrito de Columbia.

Mina Caputo é mais uma adição à lista crescente de pessoas transgênero famosas em vários setores da vida, onde já estão Laverne Cox, atriz do seriado Orange Is The New Black, e Stuart Rasmussen, primeiro homens transgênero a se tornar prefeito, na cidade de Silverton, Oregon. Talvez por causa disso, as atitudes com relação às pessoas LGBT estão se modificando. Pesquisas recentes nos EUA sugerem que 73% do país apoia medidas que impeçam a discriminação no lugar de trabalho contra pessoas transgênero. Além disso, essa abertura está tomando a forma de leis como a aprovada na Califórnia, que garante a pessoas transgênero acesso aos sanitários de sua escolha em escolas.

Caputo também oferece uma oportunidade de se questionar crenças enraizadas sobre músicas e fãs de heavy metal. Muitos desconsideram o heavy metal como algo agressivo e até perigoso. Essa atitude foi frisada em 1985 pelo Parents Music Research Center, que acusou o heavy metal e quem o produzia de minar os valores familiares e até promover o suicídio entre as crianças.

Um estereótipo é que a cultura do heavy metal encoraja atitudes anti-LGBT. E a história aponta que alguns astros do heavy metal e seus fãs realmente se enquadram nesse estereótipo tacanho. Em 1989, Sebastian Bach, da banda Skid Row, fez uma aparição com uma das camisetas mais horríveis da história, exibindo dizeres anti-LGBT. Mais recentemente, Bradlee Dean da banda Junkyard Prophet foi alvo de críticas por fazer declarações contra a comunidade LGBT.

Mas outros acontecimentos sugerem que uma evolução está acontecendo. Caputo recebeu apoio do público em geral, e é apenas a mais recente de uma linhagem de músicos LGBTs famosos do heavy metal. O exemplo mais famoso talvez seja Rob Halford, da lendária banda Judas Priest, um dos primeiros astros do heavy metal a se declarar gay publicamente. A comunidade do heavy metal demonstrou amplo apoio a Halford, frequentemente considerado o rei do metal, e historicamente o vocalista mais reverenciado do gênero. Outros astros do heavy metal abertamente gays incluem Doug Pinnick do King’s X e Otep Shamaya do Otep and Gaahl of Gorgoroth.

Mais ainda, atitudes preconceituosas são agora, em geral, criticadas no mundo do metal. Por exemplo, quando David Brockie da banda Gwar fez um discurso homofóbico durante uma apresentação, o relato de todos os presentes concorda que ao invés de celebrar, o público no local se calou, e a atitude da imprensa especializada foi criticar o incidente. Greg Puciato do grupo Dillinger Escape Plan tem deixado muito clara sua posição contra a homofobia e a favor dos direitos LGBT.

Essa evolução faz sentido; as pessoas que gostam de música intensa e rebelde como o heavy metal, na verdade, demonstram um alto nível de abertura para novas experiências, e alta inteligência. Elas também estão mais propensas a se envolverem com ativismo por direitos civis. Pesquisas sugerem que músicos de heavy metal e seus fâs são “renegados geniais” repletos de sentimentos de baixa autoestima derivada da sensação de alienação. Eles buscam inspiração e apoio no heavy metal. Essa pode ser um dos motivos porque os músicos e fãs do heavy metal se dedicam tanto. Bandas pop vêm e vão, mas um fã do Metallica é fã pela vida inteira.

Outros indícios da cabeça aberta dos fãs de música agressiva e dos músicos que a criam vem do mundo do punk rock. Um ícone de longa data do punk rock, Bob Mould do Husker Du, é abertamente gay; Billy Joe Armstrong do Greenday se declarou bissexual; mais recentemente, Laura Jane Grace da banda de punk rock Against Me! se declarou transgênero. A lendária Bad Brains é conhecida por ter sido excomungada da cena hardcore por causa de suas declarações incendiárias dirigidas à banda hardcore abertamente gay Big Boys. E a lenda do hardcore Henry Rollins é um famoso defensor da causa LGBT.

Celebremos então Mina Caputo e todos os músicos e fãs que continuam a derrubar os estereótipos entre as pessoas LGBT e os gêneros de música agressivos. Porque, no final das contas, metal é metal. Nothing else matters.

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7 comentários

Daniel

Eu me sinto representado com esse texto. Ele mostra Não são todos os gays que curtem divas Pop, isso é só um estereótipo que surgiu a partir do destaque que esse gosto musical ganha na grande maioria.
Eu sou gay. Gosto de Rock, principalmente o thrash metal. Não consigo me identificar emocionalmente com o gênero Pop. Assim como alguns amigos gays que conheço.

Gui Oliveira

Eu citaria também a lenda Marcie Free (Mark free). Recomendo o pessoal a conhecer o trabalho seja solo ( o álbum Long way from love é lindo!) ou nas ótimas bandas Unruly Child, Signal ou com o King Cobra (que a tornou conhecida). Mas sempre fui fã de heavy metal e queria falar do Halford. Sou fã do estilo desde que tinha 15 anos (hoje 34 anos) e a saída do armário do Rob Halforf foi épico! Ele é um ídolo no rock pesado, influência de grande parte das bandas e cantores do gênero e ao se assumir fez o público pensar a respeito e hoje mesmo o mais homofóbico fã de heavy metal respeita o legado do cara. A mudança que o Halford causou foi demais!

Föxx Salema

Vou aproveitar a matéria e me apresentar, eu sou a (Amy) Föxx Salema, sou uma pessoa transgênera (corpo masculino, alma/mente feminina), cantora de Hard Rock / Metal, vlogger, humorista, livre-pensadora, ativista LGBT, membro da TLV e esta aqui é a minha primeira música solo lançada no ano passado:

http://youtu.be/9nX_4mOdsn8

Letra + tradução:

http://www.letras.com.br/#!/foxx-salema/constant-fight/traducao-portugues

E uma lista com os vídeos musicais que já gravei (o último foi um cover de Wasted Years do iron Maiden):

https://www.youtube.com/playlist?list=PLSuKWwHy1_jcF9q5om-rYOEOzYGqQxHf8

Dêem uma conferida… =^.^=

E por gentileza, ignorem o nome que consta em meu perfil, pois este não me representa artisticamente/socialmente (como consta nestas matérias):

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/03/facebook-e-processado-por-transexual-que-teve-perfil-desativado.html

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/os-rotulos-sexuais-estao-chegando-ao-fim

😉

Marcos Silva

Heavy Metal homofóbio é o fim da picada!

Jamais imaginei algo possível, quer porque os que curtem rock são tudo doideira e mundo as vezes avesso as convenções sociais, quer porque há bastante gays no mundo Rock…

Nilson

Muito boa matéria, porém, esqueceram de uma música muito famosa dos anos 80 como homem e hoje é também transgênero feminina, a nossa queridissima Marcie Free (Mark Free) vocalista do King Kobra, Signal e Unruly Child, uma das minhas bandas favoritas…grande voz que interpretou o susseço iron eagle…se vcs se lembram muito bem do refrão…never say die, iron eagle…abraços, Nilson.

Gui Oliveira

Nossa ia citar a Marcie Free. Ela foi de uma coragem incrível e a banda Unruly child é ótima e continua na estrada. Desde meus 15 anos sou fã de heavy metal e o Rob Halford da banda Judas Priest é um ícone do estilo. Ele ter saído do armário foi muito importante. Já era muito fã, mas depois disso passei a amar o “metal god” como ele é chamado. Abraços

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