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Como contar para o boy novo que você tem HIV

O estigma contra soropositivos e o medo da rejeição fazem com que falar sobre o status sorológico seja sempre tenso. Confira como facilitar esse momento

por Marcio Caparica

Traduzido do artigo de David Artavia para a revista The Advocate

Toda vez que eu saio com um boy novo eu passo o encontro inteiro avaliando se ele vale a pena ver de novo. Está sendo divertido? Eu gostaria de escutar mais dessas histórias? Qual que é o trampo dele mesmo? Muitas vezes o date termina com um abraço e um dos dois arriscando chegar junto (mas sem forçar demais para não ficar sem-graça em caso de rejeição).

É claro que eu não sou o único que passa por isso. Mas para quem é soropositivo como eu, sempre há uma ansiedade extra quando o encontro vai chegando ao fim, por uma de duas razões: ou chegou-se à conclusão de que o cara não vale um segundo encontro, e agora resta descobrir o que fazer com a próxima meia hora; ou decidiu-se que ele vale um segundo encontro, e essa meia hora é gasta tentando descobrir a melhor maneira de se contar que ele está diante de um cara que vive com HIV.

Fique frio, todo mundo já passou por esse tipo de situação – seja por causa do HIV ou por outros detalhes da vida pessoal. O segredo aqui é bancar a situação. Chega uma hora na vida que não se pode mais deixar um vírus definir quem você é. Não dá pra ficar tremendo de medo na hora de falar de sua saúde para um desconhecido. Se isso acontece, é melhor trabalhar bastante isso com algum profissional, fora da vida afetiva.

Todo mundo sabe como é estar numa posição desconfortável, com medo de ser rejeitado ou julgado (ou algo pior). Mas quando se para pra pensar, na maioria das vezes estamos julgando a nós mesmos antes até do resto do mundo. Deixe isso de lado e, quem sabe, surpreenda-se. Considere o seguinte:

  1. A pessoa vale a pena? Como ainda há muito estigma no que se refere ao HIV, muitas vezes associamos a falta de interesse com nosso status sorológico. Se ele toma chá de sumiço depois do encontro, a gente logo supõe que isso aconteceu porque somos soropositivos. De repente ele tomaria chá de sumiço de qualquer maneira, por uma outra razão: ele é um cretino. Então considere se ele é alguém que merece saber que você tem HIV. Isso pode poupar muito sofrimento com o tempo. Permita-se algum tempo para decidir se ele é alguém que você realmente quer ver de novo. Se a resposta é sim, cabe a você decidir quando dar o próximo passo. Às vezes é melhor esperar até o segundo ou terceiro encontro para conhecer melhor o caráter dele, antes de contar sobre seu status.
  2. Se você for estiver com a carga viral indetectável, diga isso de cara. Sim, você é soropositivo, e não vai negar. Mas se sua carga viral já caiu a um nível indetectável, a chance de você transmitir HIV é zero. Isso mesmo: fazer sexo com você é fazer sexo seguro, quando se trata do vírus HIV! Então diga que está “indetectável” com orgulho. O HIV pode ser parte de sua vida, mas não define quem você é. Faça questão de informar a seu date que sua carga viral está indetectável, e isso quer dizer que o risco de pegar HIV com você não existe. Quem garante são os cientistas.
  3. Comece falando sobre suas paixões. Sempre há um momento durante um primeiro encontro em que se fala das paixões, dos objetivos e dos sonhos. Ao invés de falar apenas sobre objetivos de carreira, experimente falar “eu sonho com o dia em que o estigma com relação ao HIV vai acabar”. Ou diga que uma de suas missões é liderar com seu próprio exemplo. Algo como “eu gosto de educar as pessoas sobre o HIV. Eu estou com a carga viral indetectável, o que significa que eu não transmito o vírus para ninguém. Nem todo mundo sabe disso!”. Essa é uma maneira de contar que tem o vírus sem exprimir vergonha nem desconforto; mais do que isso, demonstra-se entusiasmo e dedicação a uma causa. Esse tipo de atitude é super sexy. Mostra-se para o outro que ter HIV não é nenhum bicho de sete cabeças. Isso é muito atraente.
  4. Jogue verde. Não peça desculpas por ser portador de um vírus. Lembre-se que cuidar de si mesmo vai muito além do tratamento contra o HIV. Trata-se de amar a si mesmo. Todo mundo tem medo de ser rejeitado, principalmente no começo. No final das contas, o medo é um grande covarde. É só encará-lo que ele foge. Não tenha medo de deixar a conversa cair no assunto HIV, sem contar sobre si mesmo. Avalie a reação do seu date. Se ela não for das melhores, deixe a discussão correr. Se no final das contas ele perceber que essa primeira reação não passa de preconceito e entender que não é nada demais, sinta-se à vontade para dizer “Pois é. Eu sou soropositivo e estava aqui julgando você o tempo todo”, cheio de ironia. E ria. Provavemente ele vai rir também, e assim vocês vão construir um pouco mais de confiança entre os dois.
  5. Pergunte antes para a outra pessoa. Por que não virar a mesa e perguntar antes sobre o status sorológico da outra pessoa? Quando, depois, você contar o seu, ele vai estar menos armado. Hoje em dia, quando se fala sobre HIV, em geral isso acontece nos aplicativos de encontro. As pessoas se esquecem como é ter essa conversa ao vivo. Escutar a frase “você tem HIV?” ainda me dá um arrepio. Essa pergunta ainda é tão cheia de fantasmas. Pode soar estranho, mas falar isso antes do outro é uma boa maneira de diminuir a ansiedade. E, vai saber – de repente ele também é soropositivo.

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15 comentários

Felipe

Estou numa situação que nunca pensei em estar na minha vida. Não sou soropositivo ou pelo menos meu caso ainda não foi encerrado como negativo e explicarei o porque. Em novembro/2016 iniciei um relacionamento, no início (primeiro mês) sempre usavamos preservativo. Não me recordo a época mas cheguei a pergunta-lo o quando tinha feito os últimos exames e ele disse que tinha sido recentemente, não perguntei o quanto. Depois que começamos a nos relacionar sem camisinha (eu ativo e ele sempre passivo) em maio fiz meu exame e deu negativo, fiquei mais despreocupado porque deveria ter feito antes. Continuamos em um relacionamento muito bacana e de muita cumplicidade. Neste início do mês de novembro, como tenho fácil acesso a pedido de exames, consegui um pedido básico mais o de HIV para meu namorado. No dia do resultado, ele disse que ligaram do laboratório para refazer o exame que demoraria 10 dias. Eu já fiquei desesperado e chamei ele pra fazermos o teste rápido no dia 18/11. O dele deu reagente e o meu não! A primeira coisa que fiz foi acolhê-lo, dizer que isso pra mim não significava nada, que também tinha errado em não cobrar o exame antes de começarmos, pesquisei sobre o que eu poderia fazer para ajudá-lo, falei que iria nas consultas, falei que iria fazer um estoque de preservativo, se preciso até na farmácia eu entraria pra buscar os medicamentos, falei que nossos iriam continuar os mesmos! Ele tranquilizou, me agradeceu, disse que varias coisas bonitas! O meu pesadelo veio dois dias depois… tenho acesso a prontuários da área da saúde, queria tentar cadastra-lo no SUS e entrei pânico quando consultei o nome dele… Ja existia a retirada dos medicamentos para HIV em 04/10 e a descrição como início recente… pedi pra ele ir na minha casa e quando entrou eu pedi que me contasse a verdade e ele me confessou que sabia do HIV desde dezembro/2016… 1 mês depois que começamos! Eu me senti a pior pessoa do mundo por ele ter me exposto todo esse tempo, pelo egoismo, uma sensação de que não sabia com quem eu estava lidando, com tanta mentira… ele chorava dizendo que não tinha coragem, que tinha medo mas em nenhum momento insistiu pra que continuássemos usando preservativo, não me deixou já que não tinha coragem… ele relatou que fazia acompanhamento com infectologista e que a carga viral era de 3000 e ainda não tinha indicação de começar, depois em setembro a carga foi pra 10000 e o médico indicou, logo depois ele foi buscar os medicamanentos… ele falou que ele já queria me contar e que aquela tinha sido uma forma q ele encontrou, que não queria continuar me expondo mais, que me amava e tinha muito medo! Enfim, eu estou desolado não pelo HIV, mas pela frieza, egoísmo, covardia durante quase um ano que ele ficou me expondo…
Desculpem o desabafo!

Mauricio Motta

Muito boa a reportagem. Tenho HIV há 3 anos e descobri porque tive herpes zoster e fui fazer o teste. Depois de 6 meses meus exames já estavam estáveis e minha carga viral indetectavel. O único medo é o sistema de saúde interromper a doação de medicamentos. De resto, é um tratamento como da diabetes.

Leonardo Cabral

É complicado pra quem não é soro positivo é complicado! Eles não pegaram HIV por que quiseram. Oi foi por descuido, ou por falha da camisinha, ou se relacionou com alguém que era soro positivo e pegou! Mesmo com todos os cuidados do mundo ainda existe risco! O ideal é um soro positivo relacionar com outro! É o mais certo! HIV ainda é uma doença sem cura, e é necessário muitos remédios para a expectativa de vida ser maior! Sempre vai haver o medo! Lembem-se: Ninguem pega HIV por que quer! Desculpa-me, mas acho criminosa uma matéria dessa. Existem muitos soros positivos! Por que não relacionam entre se? Essas pessoas em sua maioria não foram preconceituosas, e estão com HIV agora. Deve haver bom senso! Ao contaminar uma pessoa, você esta mudando a vida dela pra sempre! Você tem que ter ciência disso!

Marcio Caparica

Sua afirmação ainda é preconceituosa. Não devemos formar um gueto para soropositivos – que, segundo você, deveriam apenas relacionar-se entre si. Isso não reduz o estigma. Todos devem relacionar-se com todos, todos devem tomar os cuidados para que o vírus não seja transmitido (usar camisinha, fazer PrEP e, no caso dos soropositivos, reduzir a carga viral para níveis indetectáveis, pois quem tem a carga viral indetectável não transmite o HIV).

Camila

Leonardo Cabral, acredito que não saiba, mas pessoas com HIV podem ter tipos diferentes do vírus, ou seja, também podem acabar sendo contaminadas mesmo já sendo soropositivas.

Andre Lopes

Camila, sim, podem ter cepas diferentes. Mas “acredito que não saiba” se alguém está indetectável, variação de cepa não faz a menor diferença, pois o virus estaria suprimido em ambos. Portanto se não há transmissão de s+ para s-, não há troca de cepas entre s+ e s+. Essa informação é irrelevante hoje em dia, pois quem testa positivo provavelmente a primeira iniciava é iniciar o tratamento e ficar indetectável.

Paulo

Este Anderson acima se acha no direito de julgar oque é certo e o que é errado para o mundo segundo a própria visão medíocre e preconceituosa de ser….

Wagner

Não concordo com sua afirmação! Não é porque fulano tem HIV que deve se relacionar com outro que tbm possui o HIV, o risco de um reinfecção é ainda maior, pois o vírus pode sofrer mutação genética e fica mais resistente aos medicamentos. Eu não sou soropositivo, mais meu ex namorado sim! Ele foi infecctado 3 anos depois que terminamos, me contou no final de 2017 e ainda saímos numa boa depois. Percebi que não existe preconceito dentro de mim, compreendi ele é ainda temos nossos encontros casuais, ele se trata e me protege e eu me protejo para porotegê-lo. A sociedade em si precisa buscar mais informações, ler sobre o assunto, temos muitos sites referência que orientam a respeito, o HIV teve um grande avanço em seus tratamentos e não é nenhum bicho de 7 cabeças. Vamos nos orientar para que a ignorância não nos levem ao preconceito de algo simples que está presente no nosso cotidiano. Tanto que hoje eu posso até ajudar outras pessoas a lidar com isso, levo amigos se testarem, converso com desconhecidos nas redes para apoia-los e assim vou seguindo uma corrente do bem, pq acolher quem precisa é gratificante, a pessoa não pode se sentir sozinha no mundo e muito menos sentir a vida acabou ali, após o resultado da sorologia (na verdade a vida só está recomeçando).

Então a dica é: reveja seus conceitos e seus preconceitos.

Cristiano

Infelizmente meu último namorado não leu este texto. Ficamos juntos por sete meses e ele só me contou que é portador quando decidi terminar o relacionamento – pelo menos de preconceito ele não pode me acusar. Senti-me absolutamente traído, enganado, usado. Ele me manteve na ignorância e, acredito eu, que se estivéssemos juntos até hoje eu ainda não saberia. É dever moral um soropositivo contar ao seu parceiro, principalmente quando concorda em fazer sexo sem proteção. O que eu passei não desejo a ninguém. A pior punhalada que recebi na vida.

Anderson

Eu e todas as pessoas que conheço não conseguimos nos relacionar com quem tem HIV, esse papo de preconceito e que mesmo com carga viral indetectável não tem problema é uma grande balela, pq tem gente sendo contaminada todo dia! Falam tanto que a camisinha é segura, mas quando tentam convencer a população que o aborto deveria ser legalizado pq a mulher engravida pq a camisinha não é 100% segura, fica complica, é ou não segura? Quando sei que uma pessoa tem HIV não consigo mais ter nenhum tipo de atração, é viver com medo, dúvida e olhar a cara da pessoa e ver piscando na testa a palavra HIV!

Marcio Caparica

Tem gente sendo contaminada todo dia por pessoas que não estão em tratamento e que portanto são portadoras do vírus HIV mas não estão com a carga viral indetectável. Isso que você é o mais puro preconceito, e tolo, ainda por cima: você pode estar se envolvendo com uma pessoa que é portadora do vírus mas não sabe porque não fez o teste. Essa pessoa é um risco muito maior à sua saúde do que alguém que conhece seu status, está se tratando e baixou sua carga viral. Um soropositivo que não sabe que tem HIV transmite o vírus – mas com esse você vai sair. Já um soropositivo que abre o jogo e é sincero e consciente, você vai rejeitar – apesar de não apresentar risco nenhum. Olhe bem para a própria ignorância, essa sim está piscando na sua testa e você nem vê.

EDSON EDENEI SOARES JUNIOR

Márcio amei a matéria e amei a resposta. Sou portador ha 18 anos, casado há 16, meu companheiro é portador desde 1986, estamos ótimos, indetectáveis há anos e sem medo de sermos felizes. Acho que o maior combate à proliferação do HIV é primeiro o fim do preconceito, somente assim as pessoas estarão mais propensas a discutir o assunto, e o segundo a honestidade sempre. Nós portadores devíamos pensar em sempre sermos honestos quanto a isso pois já fomos “vítimas” por não saber ou não nos preocuparmos em saber. O importante é saber O AMOR COM HIV É POSSÍVEL SIM.

Ingryd

Se uma pessoa sabe que tem é te informa o status dela sobre isso é que falei o tratamentos e tals. Acho q eh mas fácil se relacionar com ela doque com uma pessoa q se diz não tem nada sem ao menos ter feito o teste para saber que conheço muitas pessoas que diz q não tem nada aí se pergunta quando se fez o exame a pessoa solta a faz 2 anos que tive um acidente ou alguma coisa é isso e não deu nada e aí é esses 2 anos se não pode ter pego de alguém sem sabe então preconceito essas pessoas julgando ninguém sai na ia querendo pegar nenhuma doença então gente vão estudar se informar das coisas e para de ser burros e falarem o que não se sabe usem camisinha que vcs ganham mais eu não tenho e oq faço eh usar camisinha pq não tá escrito na testa de ninguém se tem ou não a pessoa pode tá te informando ela tem caráter.

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