Mãe se jogou na frente de filho para salvá-lo durante o massacre de Orlando

Mãe de onze crianças e sobrevivente de dois câncers, Brenda Lee Marquez McCool sacrificou-se para salvar Isaiah Henderson. “Ela ia [para a boate] com seu filho para que ele pudesse ser exatamente quem era, sem medo”

por Marcio Caparica

Já se passou uma semana desde que o Omar Marteen assassinou 49 pessoas na boate Pulse, em Orlando. Com o decorrer dos funerais, histórias dramáticas sobre o que aconteceu naquela noite de horror vêm à tona. Como a de Brenda Lee Marquez McCool, que, obedecendo ao instinto materno, sacrificou a própria vida para proteger a de seu filho.

McCool tinha 49 anos e 11 filhos. Mãe solteira, ela já havia sobrevivido a dois câncers. Ela gostava de ir dançar com seu filho Isaiah para demonstrar seu apoio a seu filho Isaiah, abertamente gay. “Ela ia lá com seu filho para que ele pudesse ser exatamente quem era, sem medo”, declarou o ator Wilson Cruz ao site Huffington Post. Foi o que ela fez na noite de 12 de junho. McCool chegou a compartilhar um vídeo no Facebook por volta da meia-noite para mostrar como estavam se divertindo juntos.

Poucas horas depois, Brenda seria morta no massacre em Orlando. Depois de disparar seus primeiros tiros dentro da casa noturna, Omar Mateen virou sua arma para mãe e filho. “Brenda viu que ele havia apontado a arma [em sua direção]. Ela disse ‘Abaixe-se!’ para Isaiah e se colocou em sua frente”, declarou Ada Pressley, sua cunhada, ao jornal New York Daily News. McCool levou dois tiros e morreu.

“[Isaiah] teve que ficar lá e ver esse maluco metralhar sua mãe e seus amigos”, continua Cruz. “Eu não sei como ele vai sobreviver a isso. Não sei como qualquer pessoa consegue sobreviver a isso. Mas sei que ele vai.”

Durante seu funeral, ontem, Isaiah caiu em pranto. “Eu só queria dizer que minha mãe era a melhor de todas. Eu nunca pensei que sua vida se acabaria na minha frente. Ela era a mãe que todos queriam ter. Ela amava a todos profundamente, não importava como fossem. Eu ainda não consegui parar de chorar desde que isso aconteceu.”

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Vítimas da homofobia passiva

O pesar pelas vítimas do massacre ainda causa comoção, principalmente na região da tragédia. Uma vigília reuniu 50 mil pessoas no parque Lake Eola em Orlando. Durante o evento, Teresa Jacobs, prefeita do condado de Orange, subiu ao pódio e apontou como a cultura da homofobia ajudou a tornar o massacre da boate Pulse possível:

E nós, minha geração e todos aqueles que nos precederam, nós falhamos para com nossos irmãos e irmãs, nossos filhos e nossas filhas. Nós falhamos quando fomos indiferentes. Nos falhamos quando fomos insensíveis. E talvez, mais que tudo, falhamos quando sabíamos que isso tudo era errado, mas não fizemos nada.

Se aprendemos uma coisa, foi que quando tratamos o ódio com indiferença, o ódio sempre vence. De muitas maneiras, minha geração e as gerações anteriores foram doutrinadas com crenças e mensagens que cultivavam e perpetuavam o ódio e o preconceito, às vezes de forma intencional, mas, na maioria das vezes, sem se dar conta. Mas, hoje, basta!

Nós não podemos ficar parados e perder mais vidas para atos de violência sem sentido. Nós não podemos deixar que mais crianças cresçam com medo – com medo de contar para seus pais, contar para seus pastores, contar para seus amigos o que está em seus corações. Não podemos deixar que nossos filhos continuem a crescer e viver suas vidas em segredo – ou pior, viver vidas vazias, tudo num esforço para serem aceitas e amadas pelas pessoas a seu redor.

Para nossa comunidade LGBT, eu digo hoje que vocês não estão sozinhos. Vocês não estão sozinhos em sua tristeza, e vocês não estão sozinhos nessa luta. Eu chamo todos os membros de nossa comunidade heterossexual para que abram seus corações para a aceitação, que acolham a diversidade, e valorizem nossas diferenças.

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Um comentário

Fabio Oliveira

.toda vez que vejo matérias sobre violência homofóbica, e a tentativa de sensibilização das pessoas, quando vejo que muitos arranjam sempre uma desculpa para justificar, ou dar qualquer lógica ao crime, fico pensando se realmente vale a pena a militância usar esse método de sensibilização como norte para conscientização. As vezes penso que deveríamos usar a argumentação comum dos conservadores, a tática do “é assim por que nós queremos que seja assim e ponto.” Agora quando falam em Felicianos e Bolsonaros eu uso aquela música do Raul Seixas “E nem adianta vir me detetizar pois nem o DDT pode assim me exterminar, por que você mata uma e vem outra em meu lugar. EU SOU A MOSCA QUE PERTURBA O SEU SONO”

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