No ano passado a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou o casamento homoafetivo em todo o país. Desde então, conservadores e fundamentalistas vêm tentando encontrar maneiras de legalizar seu preconceito no âmbito estadual, que é muito mais forte nos EUA que seus equivalentes no Brasil. Vários estados norte-americanos vêm propondo em suas assembleias legislativas projetos de lei que permitiriam discriminar contra LGBTs, disfarçados sob o nome de “defesa da liberdade religiosa”. Essas propostas, no entanto, não trazem nada além de prejuízo para esses estados, como agora também está descobrindo o estado da Geórgia.
No último dia 16 os parlamentares desse estado aprovaram uma lei que permitira que, para “defender a fé”, tabeliões se recusassem a realizar casamentos homoafetivos, e também tornaria legal que empresas de organizações religiosas demitissem funcionários LGBTs. O projeto agora aguarda ser sancionado pelo governador Nathan Deal. Para sua infelicidade, o governador está sendo pressionado por grandes corporações de todo país para que essa lei seja vetada, pois não concordam com suas propostas discriminatórias.
Uma das principais são os Estúdios Disney e sua famosa subsidiária, os Estúdios Marvel. De acordo com a revista Variety, a empresa declarou que “a Disney e a Marvel são empresas inclusivas, e apesar de termos tido experiências excelentes ao filmarmos na Geórgia, pretendemos levar nossos negócios para outros lugares caso qualquer legislação que permita práticas discriminatórias seja sancionada”. A Motion Picture Association of America, que entidade que representa grandes estúdios de Hollywood, também declarou na segunda-feira que “temos confiança de que o governador Deal não permitirá que um projeto discriminatório torne-se lei na Geórgia”.
A Geórgia é particularmente vulnerável à pressão dos estúdios de cinema porque, graças a incentivos fiscais, o estúdio tornou-se uma locação popular para vários filmes com alto orçamento. Grandes sucessos como Homem-Formiga e Capitão América: Guerra Civil foram filmados em Atlanta, uma das principais cidades do estado; a continuação de Guardiões da Galáxia está sendo feita lá agora. Longas dos estúdios Sony, Dreamworks e Universal também estão sendo produzidos agora na região. Uma debandada cinematográfica pode gerar grandes prejuízos.
Os governos estaduais já deviam ter aprendido sua lição quando, em 2015, a possibilidade de que projetos similares se tornassem lei nos estados de Indiana e Arkansas fez com que várias companhias considerassem procurar outros lugares para atuarem, e essas leis foram alteradas para evitar a fuga de dólares.