Como o Instagram está se tornando um refúgio para gays e lésbicas

Traduzido do artigo de Matt Cain para o jornal The Guardian

Quando se pensa sobre o Instagram, a primeira coisa que vem à mente é uma torrente de selfies dentro de vestiários, fotos de matar de inveja tiradas durante as férias, e uma avalanche de fotos de comida. Mas há outra linha estética que, pode-se argumentar, define essa rede social de compartilhamento de fotos, e pode passar batida quando se é heterossexual.

O Instagram está sendo transformado por gays e, menos intensamente, lésbicas. Busque as hashtags #gay, #gaygirl ou #instagay e 45 milhões de posts estarão esperando por você. Entre os perfis que devem ser seguidos estão @thenexttopgay (caras sarados que não fazem questão nenhuma de vestir camisa); @lesbianfunhouse (garotas cheias de estilo com topetes, tatuagens e gravatas borboleta) e @thegaybeards (dois caras que adoram decorar as barbas). E, nos últimos meses, uma porção de contas brotou para celebrar tudo que se relaciona ao casamento igualitário, como pode-se ver no artigo 17 contas de Instagram lindas que vão trazer o amor igualitário para seu feed.

Eu me converti recentemente ao Instagram (eu tendo a utilizar o Facebook para postagens pessoais, o Twitter para divulgar meus livros e me conectar com os leitores), e descobri que essa rede de fotos é menos poluída por trolls e é um espaço mais caloroso e amigável que o Twitter. E, diferente do Facebook, as “curtidas” e comentários favoráveis que você atrai muitas vezes levam a novas conexões. Simplesmente, é mais divertido.

Simon Dunn é um membro da seleção australiana de bobsleigh, e sua conta @bobsleighsimon tem mais de 35 mil seguidores. Assim como eu, ele descobriu que a rede é divertida, mas também a utiliza para aumentar sua projeção e atrair patrocinadores: “Eu tendo a manter tudo o que penso sobre direitos LGBT no Twitter. Mas é difícil mostrar que você teve um dia ótimo nos treinos, ou o ensaio fotográfico de que você participou, em menos de 140 caracteres”.

Mas como é que o Instagram se tornou esse sucesso com a comunidade LGBT e, em particular, entre os gays? Assim como outras mídias sociais, ele oferece a sensação de pertencer a um grupo, e, para quem está crescendo, descobre-se gay e sente-se sozinho, buscar as hashtags #instagay, #homogram ou #gaygirl permite conectar-se com milhões de pessoas de todo o mundo em um espaço relativamente seguro.

A maioria dos homossexuais, sejam homens ou mulheres, cresceu ouvindo da sociedade que a homossexualidade é algo errado. Mas, enquanto uma menina um pouco mais masculina pode ser chamada de “moleca” sem grandes sofrimentos, as manifestações de feminilidade entre meninos pode ser motivo de ridicularização, ou pior, bullying. Não importa o quanto aprendemos a amar nossa sexualidade depois que crescemos, muitos de nós ainda carregam resquícios da sensação de não ser aceitável ou bom o suficiente, o que nos deixa famintos por afirmação – algo que pode-se obter quando se faz parte de uma comunidade de pessoas estranhas, mas amistosas.

Há mesmo quem diga que, no fundo, um número desproporcional de gays lutam contra níveis baixos de autoestima. Muitas vezes nós somos muito bons em arrumar a superfície e nos tornarmos mais bonitos – assim como tudo a nossa volta. Isso pode explicar por que nossa presença na moda, nos salões de beleza e na decoração é tão intensa que nos tornamos um estereótipo. Parece lógico, portanto, que tantos de nós foram seduzidos pela seleção de filtros que dão um tapinha na realidade. Juno, Perpetua, Mayfair: cada um deles nos oferece a oportunidade de nos tornamos uma versão melhorada de nós mesmos.

Seja qual for a razão, o Instagram não dá sinais de estar perdendo sua popularidade entre a comunidade LGBT. Se você ainda não fez uma conta lá, crie a sua e confira você mesmo. E, já que está lá mesmo, pode me seguir: minha conta no Instagram é @mattcaiwriter. Trate de “curtir” se eu postar uma foto sem camisa.

Nota do tradutor: meu perfil no Instagram é @marciocaparica, estão todos convidados a me seguirem também! 🙂