“Um pai levou o filho adolescente para ver o namorado e restaurou minha fé na humanidade”

Ativista conta como presenciar uma cena que deveria ser corriqueira fez com que ele revisse alguns de seus próprios preconceitos - contra héteros

por Marcio Caparica

Traduzido do artigo de Benjamin O’Keefe para o site Huffington Post

Sabe aqueles momentos que parecem ter saído de um filme? Você sabe quais são – quando você literalmente fica esperando começar tocar uma música inspiradora no ponto em que uma cena comovente chega a seu clímax bem na sua frente? Bem, eu fui testemunha de uma que valia um Oscar.

Esse fim de semana eu estava em um Starbucks, escrevendo – eu sei, não dá pra ser muito mais clichê que isso – quando eu percebi que um homem e seu filho entravam na loja. Meu gaydar me informou imediatamente que eu estava na presença de alguém como eu. O garoto era muito bonito, vestia uma camiseta da Lady Gaga e um par de jeans enrolados, e parecia ter por volta de 16 anos. O homem que parecia ser seu pai, e só poderia ser descrito como um homem com jeito de homem, estava acompanhando-o. Com uma estatura corpulenta e intimidadora, ele vestia uma camisa com estampa de camuflagem e um par de jeans sujos.

Pouco depois outro garoto, mais ou menos da mesma idade, atravessou a porta. Ele caminhou até o primeiro menino e abraçou-o com carinho. O pai acenou para o garoto com a cabeça, severo, num cumprimento bem macho. “Oh-oh”, pensei, ele não parecia ser o tipo de cara que estaria super feliz de ter um filho declaradamente gay. Os garotos se dirigiram até o balcão para pedir seus cafés carésimos e o pai pagou a conta.

Depois que os dois receberam suas bebidas e se sentaram, o pai disse aos garotos “Tratem de se comportar”, e apertou a mão dos dois (eu disse que ele era homem com jeito de homem). Ele falou para seu filho ligar quando quisesse voltar para casa, e saiu da loja. Virado para a porta da frente, eu vi o pai parar em frente à vitrine. De costas para a porta, sem se darem conta de que o pai ainda estava observando, os garotos se aproximaram e deram-se um beijo. Para minha surpresa, a reação do pai foi abrir um sorriso enorme. Seu filho estava apaixonado, e não fazia diferença que era com um garoto.

Do lado de dentro eu estava pirando. Eu me segurei porque estava num lugar público, mas eu queria chorar de alegria por causa do momento lindo que eu testemunhei. Mas daí eu me liguei; eu havia acabado de ser preconceituoso com alguém. Eu tinha presumido que, como esse homem se encaixava em um certo estereótipo, ele automaticamente seria contra a igualdade, e de jeito nenhum seria a favor da sexualidade de seu filho.

É fácil se tornar cínico e desiludido, especialmente quando parece que todo dia nós ouvimos histórias devastadoras como a de Leelah Alcorn, que acabou com a própria vida por causa da rejeição que sofreu de seus pais depois que se declarou trans. Eu mesmo tive que enfrentar a rejeição de grande parte da minha família conservadora por causa da minha sexualidade – algo que levei anos para superar. Tendo dito isso, me ocorreu que, para um grupo que muitas vezes sofre de tanto preconceito, as pessoas da população LGBT também podem ser muito preconceituosas. Nós às vezes pressupomos que as pessoas nos odeiam por causa de nossa identidade – e muitos sem dúvida odeiam mesmo – mas não podemos nos esquecer que há pessoas que são muito melhores do que nós lhes damos crédito.

Para cada história de alguém que escreve “VIADO” na porta do apartamento de um casal gay, há uma de um pai que sorri quando vê seu filho gay adolescente beijar o menino de quem gosta abertamente. Para cada história horrível sobre sair do armário, há a história de uma família que trata seus membros amados com respeito e aceitação.

Não há dúvida de que não devemos subestimar as lutas que nossa comunidade enfrenta. Nós não devemos mostrar apenas as histórias boas e ignorar as ruins. Não devemos parar de lutar pela igualdade só porque alguns já a alcançaram. Mas eu tenho que dizer, quando vierem aqueles dias em que parece que tudo está contra nós, agora eu tenho a cena que eu presenciei num Starbucks – uma cena de amor e aceitação vinda de onde eu menos esperava – para me dar uma razão para sorrir.

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20 comentários

Renan

Bom dia! Tenho 30 anos sou casado há 4 anos com meu parceiro de 51, à família dele me recebe com muito amor e carinho em todas as situações, por exemplo, aniversários, confraternizações e etc. Minha batalha é que minha família aceite meu parceiro, no circuito de reuniões familiares também??? Não estou aqui para julgar e nem impor nada há ninguém… mais meu pai diz que não concorda com essa situação, meu parceiro não me cobra de nada em relação “A MINHA FAMÍLIA”,só que isso me incomoda profundamente, pois nunca tive o prazer de sentar em uma mesa com meu namorado perante a minha família, e ser feliz por completo! sempre haverá uma lacuna?? Estou sendo franco sofro muito com essa situação, por que? olho para lado e penso os meus pais poderiam estar conosco nesse domingo tão bonito e com essa mesa farta não só de alimento mais de carinho e amor pelo próximo. Quem sabe um dia isso poderá acontecer… pois ficarei completamente feliz. (Sem dor, sem briga, sem mágoa, só amor por favo)r.

Luciana

Olá pessoas
Sou tia de um rapaz que eu e meu marido acreditamos seja gay. Não tenho um gaydar, mas levei a dúvida um amigo e que tem e ele me confirmou. Agora não sei como chegar em meu sobrinho e dizer-lhe que nós, meu marido e eu, o apoiamos. Acredito que ele não se assumiu por conta de sua família materna ser extremamente preconceituosa. E já terem ocorrido brigas por terem dúvidas da sexualidade dele. Alguém pode me dizer como fazer isso? Sugestões idéias?

David

uau! Que Incrivel! consegui imaginar a cena toda! que demais! Ótimo texto!

Eu mesmo vivo numa história de Amor e Aceitação dos meus pais! por isso sei que histórias assim são muito possíveis! Que esse tipo de atitude possa se multiplicar e se propagar entre todos os pais e mães. Amor Amor e Mais Amor!

Marcos

Meio sonhador demais esse final, seria ótimo se fosse verdade. Fora isso, texto ótimo, me emocionaria muito se visse pessoalmente.

Romilda Assis

Maravilha ver isto ,mesmo porque ,sou teóloga ,missionaria de uma comunidade gay e somos gays,evangelizamos a todos,sem vícios,somos bem família,amamos e adoramos a Deus,q.Deus continue abrindo os olhos do coração do povo,porque não escolhemosser gays,foi Deus que nos escolheu ,tenho certeza disso,sou evangélica minha família são pastores evangélicos,e sei q.so serei Salva pelo PASTOR DOS Pastores,(JESUS CRISTO O FILHO DE DEUS.) DEUS ABENÇÕE. A TODOS FIQUEM NA PAZ DE CRISTO!

Arthur Sacramento

Excelente Marcio. Emocionante e contundente a história. Tuas palavras me fizeram pensar no meu preconceito para com os héteros também. Todos vivemos maus bocados nessa sociedade preconceituosa e tortuosa, mas as coisas estão mudando. Moro num lugar onde o casamento entre pessoas de mesmo gênero é legal e celebrado há mais de 10 anos (2004). Vivo feliz e seguro, numa sociedade onde isso que tu viste é comum de acontecer, mas não esqueço de outros lugares mais difíceis e lugares absolutamente aterrorizantes que ainda existem no mundo! Abraço e obrigado.

Marcos

Fiquei feliz com a história, mas ao mesmo tempo meio desgostoso com as indagações que fiz a mim mesmo.

Qual o intuito do pai levar o próprio filho para ver o namorado…

Sei lá, para mim parece superproteção.

Acredito que a ainda falta muito para a população LGBT ganhar uma real personalidade e não precisar de “ajuda” de terceiros para ser o que somos.

Mas… como falta muito, acho melhor me contentar com isso.

Adriano

Marcus,
Pode ser por causa da violência. Você há de convir que aos 16 anos, para qualquer pai, o filho ainda é uma criança.
Também podemos pensar, como você disse, na superproteção. Legal é tão bom se sentir protegido, sem se sentir vigiado. Isso é uma grande diferença.
Quanto ao episódio em si, ainda teremos que esperar um bom tempo para cenas como essa serem corriqueiras.
Enfim o fundamental é que eles sejam felizes, que se amem , se protejam, se respeitem e acima de tudo respeitem as outras pessoas.

Ricardo

Bem eu poderia imaginar que o filho acabou de se revelar para o pai e ele como demonstração de aceitação levou o filho até o namorado…

Carlos

O pai simplesmente foi levar o filho adolescente sem idade pra dirigir de carro ao centro para ir no cinema com o namoradinho, tanto que pede pro filho ligar quando queira voltar pra casa.

whallysson

A pessoa diz que é a favor da bancada da fé! Diz que é a favor da “família tradicional brasileira”, que não concorda com o que a midia “força”, ” impõe”. Mas agora eu pergunto. Qual a dificuldade que a pessoa tem em trocar de canal? Ou por acaso só é transmitido à sua casa apenas essa emissora? Que respeito é esse? Respeito vem junto com aceitação!!!

Kayque

Achei lindo, sorri junto com o pai quando li e mais do que isso, sei que a minha mãe e a maior parte da minha família ficaria feliz se eu trouxesse um garoto para casa e dissesse esse é meu namorado, eu estou feliz… É muito lindo e gratificante!

castro castro

Será que muitos de diretores nao seria preconceituosos tbem dentro da globo,dizem que não,são apoiam os grupos de lgbts,mas sera que realmente não seria não? Eis a pergunta que fica no ar,ninguém é obrigado a aceitar o que a midia tenta impor,por isso apoio a bancada da fé, independentemente de católicos ou evangélicos, a igreja católica prega tbem que isso é pecado não é só evangélicos,então se isso fere os lares com valores que não sao aceitos pelas familias,elas não são obrigadas a aceitarem e amidia tenta de todas as forças enfiar goela abaixo do povo,claro devemos respeitar,mas não somos obrigados a aceitar,esta certa a bancada da fé,quando pedi que desliguem suas tvs na hora que a midia tenta por força colocar um padrão que eu não quero.

James Cimino

Força? A Globo obriga alguém a ver? Quem tá querendo forçar alguém a algo aqui é a bancada da ignorância. Aliás, acho lindo como os hipócritas se unem quando é pra fuder com os LGBT. No dia a dia o que se vê é crente entrando em igreja católica pra destruir santo, chamando de prostituta. É muita fé, né?

Thiago

Isso é mto bonitinho mas é raríssimo de achar, é como uma agulha num palheiro, infelizmente.

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