Graham Moore faz discurso em prol da diversidade no Oscar

Ao ganhar a estatueta pelo roteiro de “O Jogo da Imitação”, sobre o matemático gay Alan Turing, roteirista manda mensagem contra suicídio

por Marcio Caparica

Um dos discursos mais tocantes da cerimônia do Oscar, que aconteceu ontem em Los Angeles, foi feito pelo roteirista Graham Moore. O escritor ganhou a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado pelo trabalho que fez ao transformar o livro Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges (ainda sem tradução no Brasil) no roteiro para o filme O Jogo da Imitação.

Alan Turing foi um matemático britânico, unanimemente considerado um dos gênios da era moderna. Seu trabalho estabeleceu a fundação para a criação dos computadores; durante a Segunda Guerra Mundial, ele conseguiu decifrar os códigos que os alemães usavam para criptografar suas mensagens, fato que se tornou um trunfo durante o conflito. Homossexual, em 1952 foi condenado a se submeter a um programa de castração química pelo governo britânico – a homossexualidade na época era crime. Turing suicidou-se em 1954, tomando cianeto. Em 2013 o cientista recebeu perdão póstumo da rainha Elizabeth II.

Ao receber o prêmio da Academia, Moore aproveitou a história de Turing para contar fatos pessoais e enviar uma mensagem de esperança:

Então, é o seguinte. Alan Turing nunca pôde subir num palco como esse e olhar para todos esses rostos desconcertantemente lindos, e eu posso. E essa é a coisa mais injusta que eu já ouvi. Quando eu tinha 16 anos, eu tentei me matar porque eu me sentia esquisito e me sentia diferente e sentia que não pertencia a lugar nenhum. E agora que eu estou aqui eu gostaria de dedicar esse momento aos jovens por aí que sentem que são estranhos ou diferentes ou que não se encaixam – sim, vocês se encaixam. Eu prometo. Permaneçam estranhos, permaneçam diferentes, e quando chegar a sua vez, e vocês estiverem sobre esse palco, transmitam essa mensagem para as pessoas que virão depois de vocês.

Depois de vencer o prêmio, Moore falou com a revista Advocate sobre a responsabilidade que sentia ao escrever o roteiro sobre a história de Alan Turing: “Alan foi alguém que foi tão maltratado pela história. Ele foi alguém que, por ser gay, foi perseguido pelo governo cuja existência manteve. Então eu sempre senti que nós precisávamos de um filme que ajudasse a espalhar seu legado, e o celebrasse, e o levasse um novo público que de outra maneira não seria exposto a este homem porque a história o tratou tão miseravelmente.”

Graham Moore se declara heterossexual, mas isso não o impediu de usar seu momento perante as câmeras do mundo todo para enviar uma mensagem de apoio a todos que se sentem deslocados e desesperançados, seja qual for o motivo. A empatia não precisa ser limitada pela orientação sexual.

Outro discurso pela igualdade durante a cerimônia do Oscar de ontem foi feito pela atriz Patricia Arquette, ao vencer o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. “Para todas as mulheres que deram à luz, todos os pagadores de impostos e cidadãos dessa nação: nós lutamos pelos direitos iguais para todos. Já é hora de termos igualdade de salários de uma vez por todas. E direitos iguais para as mulheres dos Estados Unidos da América.”

A desigualdade dos valores pagos entre homens e mulheres voltou à pauta quando os estúdio Sony tiveram seus e-mails hackeados no final do ano passado. Entre as mensagens que vieram ao público, estavam indícios de que os atores do filme Trapaça (American Hustle) receberam 9% dos lucros, enquanto as atrizes Amy Adam e Jennifer Lawrence ganharam 7% – apesar de Lawrence ser vencedora de um Oscar. Meryl Streep aplaudiu entusiasmadamente o discurso de Arquette.

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Um comentário

Robson

Heterossexual? Sério? hahahahahaha Jurava que era gay. Meu gaydar indicava algo entorno dos 99,9%.

Enfim, uma história incrível, que merece ser contada e vista por todo o mundo. Assistirei em breve! 😀

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