Pastores usam imagem de candidatos majoritários sem autorização em panfletos homofóbicos e discriminatórios

Marina Silva, Alckmin e Serra aparecem em panfletos que dizem que caso a lei da homofobia seja aprovada, gays praticarão sexo em igrejas

por James Cimino

O jogo sujo dos pastores fundamentalistas que empesteiam o Congresso e as Assembleias Legislativas não para. E nestas eleições eles têm feito de tudo para demonizar, patologizar e caluniar mais ainda a comunidade LGBT por meio da divulgação de panfletos terroristas em que associam sua mensagem de ódio a candidatos majoritários sem nem pedir autorização.

Está acontecendo em SP e no Rio, mas não duvido que em outros Estados o expediente não esteja sendo aplicado com ainda menos pudor, já que as histórias não chegam à grande imprensa.

Desta vez foi o candidato à reeleição Marco Feliciano (PSC-SP), que está enviando um panfleto eleitoral por correio, com conteúdo homofóbico, pedindo votos para si e para os candidatos Geraldo Alckmin e José Serra (ambos do PSDB-SP).

O panfleto, em formato de carta, diz que o motivo de sua carta “é muito sério” e, em seguida, enumera algumas leis e projetos de lei que, segundo ele, “ferem a igreja de Cristo”. Não há no conteúdo qualquer proposta para as áreas de educação, saúde, reforma política e tributária, previdência e corrupção.

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Panfleto distribuído por correio por Marco Feliciano; PSDB repudia texto do material e disse que foi confeccionado sem autorização da legenda

Dentre os projetos citados pelo pastor, há “a mais séria lei que passou pelo Congresso, a PL 122, a lei contra a homofobia”. No texto, Feliciano diz que essa lei, caso aprovada “obrigará líderes religiosos a fazerem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, correndo risco de prisão”. O texto do PLC 122, no entanto, não faz qualquer referência à obrigação citada.

Feliciano critica ainda um projeto de lei que pretende transformar em lei municipal a Parada do Orgulho Gay e diz que esse é o primeiro passo para que os LGBTTs “implantarem o início de seu governo promíscuo”. O texto ainda critica a lei do PSIU, que, segundo ele, fechou mais de 300 igrejas em São Paulo e Rio.

A reportagem do UOL procurou a assessoria de imprensa do PSDB, que afirmou que “a propaganda em questão não foi confeccionada pelas campanhas do PSDB, que sequer tinham conhecimento dela. O texto não expressa as opiniões do partido”. Alckmin, inclusive, foi o governador que assinou a lei que pune a homofobia em São Paulo em 2001.

O chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, disse por telefone que a carta é pessoal e assinada por Marco Feliciano e que a inclusão dos nomes de Alckmin e Serra no panfleto é porque são da mesma chapa. “A gente coloca até como uma gentileza com eles. Mas não nos preocupamos se eles concordam ou não. É o pastor quem está falando.”

Marina Silva

Cerca de duas semanas atrás, um panfleto dos candidatos Ezequiel Teixeira (SD-RJ) e Edino Fonseca (PEN-RJ) se utilizou da mesma prática para colar sua imagem à da candidata Marina Silva (PSB). O material, no entanto, era mais agressivo ainda.

Em 24 páginas (clique aqui para ver a íntegra do documento), a revista com Fonseca, Teixeira e Marina anuncia: “Veja os planos do anticristo: nova ordem mundial contra a família e a igreja” (a palavra “Veja” é escrita com a mesma tipografia usada pela revista da editora Abril).

O anticristo, no caso, são os homossexuais, prostitutas, ateus, comunistas, “abortistas”, usuários de drogas e o governo Dilma, a quem acusa de “dominar a mente do povo com a legalização das drogas”, acusa o governo do PT de querer legalizar a eutanásia, para “matar os mais velhos” e diminuir os gastos do SUS, e o aborto, para provocar um “extermínio” e comercializar os órgãos dos fetos abortados. Há inclusive uma tabela de preços de um suposto “mercado do feto”. Diz ainda que a legalização do aborto provocará um aumento da pedofilia, porque as meninas estupradas serão obrigadas a abortar para esconder o crime.

Nas páginas seguintes, a revista diz que a criminalização da homofobia permitirá que os gays pratiquem sexo dentro das igrejas, além de dizer que gays, lésbicas e transexuais são doentes mentais.

 Após denúncia do candidato a deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), a candidata do PSB à presidência chamou o material de “criminoso” e acusou Edino Fonseca, responsável pela confecção do panfleto, de usar de forma indevida sua imagem. A campanha da candidata soltou uma nota de repúdio aos panfletos que afirmou ter “cunho homofóbico e amplamente discriminatório”. A campanha ainda afirmou que entraria na Justiça para que o material fosse apreendido. Leia abaixo a nota na íntegra:
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Panfleto que sau a imagem de Marina Silva sem autorização no Rio de Janeiro; candidata considerou o material ofensivo e homofóbico

A Coligação Unidos pelo Brasil vem a público repudiar de forma veemente o uso criminoso e indevido da imagem de Marina Silva em panfletos de cunho homofóbico e amplamente discriminatório, assinados com o CNPJ da campanha de Édino Fonseca, candidato a deputado estadual pelo partido PEN/RJ, que cita também Ezequiel Teixeira, candidato a deputado federal pelo Solidariedade/RJ.

A Coligação vai acionar a Justiça para a busca e apreensão, bem como proibição de distribuição do material, que estimula o ódio e a violência contra pautas diferenciadas dos movimentos feminista e negro.

O programa de governo da candidata à Presidência Marina Silva não deixa dúvidas quanto à cultura de paz e de garantia ampla dos direitos humanos: “Não podemos mais permitir que a dignidade das minorias sexuais continue sendo violada em nome do preconceito. É preciso olhar com respeito os grupos hoje discriminados.” O programa aponta como fundamentais políticas, leis e programas destinados a reparar injustiças históricas e a aproximar, cada vez mais, a cidadania cotidiana da definida como ideal pela sociedade em sua lei maior.

A reportagem procurou os candidatos Edino Fonseca e Ezequiel Teixeira, mas não conseguiu resposta deles sobre o material. O UOL também procurou o TRE-RJ para saber se houve a apreensão do material, mas foi informado que, “pelo menos na cidade do Rio de Janeiro”, a cartilha de Fonseca e Teixeira não havia sido recolhida.

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4 comentários

Joe

Na boa, tem q ser muito burro pra acreditar nessas viagens. E sendo burro assim, alguem vai enganar, manipular e fazer de trouxa. É um fato. Acontece que são esses pastores, que tenho certeza que não acreditam em nada disso e ainda morrem de rir.

Mike

O problema dos evangélicos fanáticos é querer impor a religião deles como lei e se alguém discorda é intolerante, mas quando fazem discursos de ódio contra os gays estão expressando a opinião, espero que em um futuro proximo vejamos esse tipo de comentário e esse tipo de material com vergonha e indignação assim como olhamos para senzalas hoje….

Rodrigo

Num belo dia de sábado estava eu na rua para comprar um presente para meu namorado e uma menina me joga na minha mão essa revista, pensei até que era uma Veja. Acabou com meu dia.

Me senti extremamente desconfortável na hora, minha vontade era rasgar e jogar tudo na cara dela, mas minha civilidade me impediu. Cada esquina que eu olhava tinha essa revista e minha raiva só aumentava, nos associar com coisas como pedofilia, que pratica abominável…

Que material sujo, que pessoas mal caráter, esses imbecis usam a ignorância do povo para disseminar essas maldades. E a revista tinha uma impressão de ótima qualidade. Imaginei: por que esses caras que se dizem cristãos gastaram uma verba dessas para difamar pessoas de bem… se fossem de Deus como dizem usavam pra matar a fome do próximo.

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