Gays revelam em desenhos como enxergam as vaginas

Traduzido do post de Luke Malone para o site Vocativ

Shannon O’Malley e Keith Wilson estavam jantando com alguns amigos num restaurante tailandês quando o assunto recaiu sobre vaginas. Depois de discutirem por algum tempo o comprimento e o diâmetro da média dos clitóris, O’Malley pediu que Wilson, um gay, desenhasse uma vagina. Não se parecia muito com uma de verdade. Quando ela pediu que o namorado de Wilson tentasse desenhar uma também, o resultado não foi muito melhor. Logo a mesa inteira estava criticando as tentativas do casal.

Isso se tornou uma piada recorrente entre os amigos: pedir que os gays que eles conheciam desenhassem a genitália que não costumam encontrar frequentemente. Os resultados muitas vezes eram hilariantes, algumas vezes eram ótimos e, às vezes, tenebrosos. A brincadeira se tornou tão popular entre eles que O’Malley e Wilson decidiram convocar o público em geral, armando estações de desenho em alguns dos lugares mais gays de San Francisco.

Eles passaram a publicar os desenhos no Tumblr, e então no Facebook, no Twitter e no Instagram, e convidaram gays de todo o mundo para também participar com suas ilustrações. Ao longo dos três anos seguintes, Gay Men Draw Vaginas (“Gays Desenham Vaginas”) recebeu mais de 500 trabalhos. Com tanto material incrível, eles chegaram à conclusão de que já era hora de transformar o projeto num livro de arte, para o qual eles estão arrecadando dinheiro agora no Kickstarter. “Nosso propósito é criar um livro fino aqui”, avisa Wilson. “Não um objeto de arte de vagina medonho.”

Em apenas quatro dias o projeto já havia arrecadado 10% da meta de 37 mil dólares. Nós entrevistamos O’Malley para saber mais sobre isso.

Shannon O’Malley analisando um mural de vaginas

Numa escala indo de estudante de artes plásticas de primeiro ano até Georgia O’Keeffe, avalie pra gente quão ruim era aquele primeiro desenho.

Alguém deixou cair comida tailandesa em cima dele, então ele acabou ficando bem ruim. Mas ele já era difícil de compreender antes mesmo do molho de macarrão e pedaços de castanha caírem em cima. Eu acho que o maior problema que ele tinha era que Keith estava tentando ser preciso anatomicamente. Várias mulheres estavam participando do jantar, e eu acho que ele estava realmente se esforçando para desenhar corretamente uma vagina, e causar uma boa impressão para todos os gays bem-educados.

Conte mais sobre como você transformou um desenho num império da arte da vagina.

Nós conversamos animadamente sobre vaginas por muito tempo depois que Keith e seu namorado fizeram aqueles desenhos, mas nunca consideramos expandir o projeto. Eu acho que nós estávamos apenas achando muito divertido ficar falando de gays e vaginas num restaurante com crianças por perto. Uma semana depois, na agência de publicidade em que trabalho, eu pedi para que um designer colega meu, Chris Cerrato, desenhasse uma vagina. Ele fez uma virilha coberta por um botão “curtir” do Facebook. Eu amei. Era um desenho conceitual, engraçado e inesperado. Depois que vi o desenho do Chris, meu instinto foi de pedir que ele fizesse mais alguns nessa mesma linha, por diversão. Pouco tempo depois eu fiz um Tumblr com os desenhos dele, aberto para outros artistas. O Keith teve a ideia de transformar o Tumblr Gay Men Draw Vaginas num livro com o trabalho de muitas outras pessoas.

Como é que as pessoas reagiam à estações de desenho na rua?

Nós as montamos em partes bem gays da cidade, então muito do que conseguimos era o esperado. Os homens que pareciam se enquadrar nos estereótipos gays apertavam os lábios e diziam coisas como “Ai, querida, eu não encosto em uma há anos. Você não vai querer essa vagina aqui.” Mas muitos outros se envolviam nisso de uma maneira surpreendente. Eles sentiam que isso era um tipo de brincadeira e que eles eram o alvo, então se esforçavam para criar algo interessante. Além disso também tinha as hordas de bichas bêbadas que desenhavam coisas incríveis, completamente bizarras, que nos deixavam sem saber o que dizer.

E o povo que mandava desenhos por e-mail – vocês receberam algum muito nojento?

As pessoas que mandavam desenhos por e-mail ou pelo correio eram em sua maioria artistas plásticos que gostaram da ideia do livro e queriam que seu trabalho estivesse em algo esquisito e interessante. Mas, sim, alguns desenhos eram nojentos, e você nunca sabe se isso era de propósito ou não. A maior parte das vaginas nojinho foram feitas nas estações. A pilha com esses desenhos é um salve-se quem puder.

Qual é o segredo para desenhar bem uma vagina?

Aqueles que tentaram desenhar vaginas reais quase sempre se deram mal; esses desenhos são todos iguais e puro tédio. Mas os artistas que tentaram comunicar ideias, mesmo se não têm qualquer talento para a ilustração, produziram as melhores vaginas. A que eu mais gosto entre essas é a com o Cookie Monster.

Como é que você fez para organizar as 500 vaginas que vão estar no livro?

Nós temos uma seção de monstros bem cheia, uma seção de edifícios, sistemas e diagramas, outra de flora e fauna, uma de vaginas falantes, e outras. Keith as organizou numa ordem artística misteriosa para que o  leitor tenha passe por toda a coleção num ritmo bom, como se fosse uma canção. Uma canção longa e vaginal.

Vocês vão fazer um livro em que lésbicas desenham pênis?

Não, a gente não considera fazer um Lesbians Draw Penises nesse momento. Eu não acho que eu gostaria de navegar por 500 desenhos de pau. Talvez o Keith queira, no entanto.