Comemore todos os dias o fato que você não vive mais numa época em que um bando de executivos metidos a gênio controlavam as porteiras do conteúdo que você seria capaz de assistir. Hoje em dia basta ter uma ideia e perseverar, e qualquer um pode encontrar seu público, sem esbarrar nas opiniões de quem supõe logo de cara que “isso nunca vai dar certo”. O Porta dos Fundos já abriu esse caminho no Brasil (aliás, você já viu a série “Viral”?), outros grupos tentam seguir seu caminho, e agora estreia um novo canal de vídeos voltado para os gays, o Põe Na Roda.
O canal é criação de Pedro HMC, que já participou da equipe de redação dos programas Furo e Comédia MTV, colaborou com Dani Calabresa no CQC e nos programas Fritada e Vamos Rachar, do Multishow. Em release à imprensa, ele afirma: “Sempre tive uma grande vontade de escrever humor, de levar conteúdo para esse público, que pouco se vê representado na mídia (quando representado, normalmente é uma esquete sem graça num programa de humor meia boca). Você vê um monte de programas segmentados, mas o público gay em geral tem pouca representação, até na internet”.
Infelizmente o vídeo de estreia do canal deixa bastante a desejar. Tomando como pauta o iminente racionamento de água no estado de São Paulo, a equipe do canal parodia as campanhas de conscientização incentivando que os gays economizem água como podem: minimizando a quantidade de chucas. Sério mesmo? Nesse momento em que a figura do homossexual no humor começa a fugir dos estereótipos da TV aberta, é bem decepcionante que o vídeo de estreia de um canal gay (ou “anal gay”, como anunciam num “lapso”), aquele em que teoricamente os autores mostrariam a que vieram, não consiga mandar uma mensagem além do sexo anal. OK, vai um pouco além: recomenda que não se lave o cabelo para quem faz chapinha e que se tome whey protein sem água.
É inevitável comparar qualquer iniciativa de humor no Youtube à Porta dos Fundos, e portanto Pedro HMC & companhia devem estar muito cientes de que têm um patamar bem alto a alcançar, seja em fuga dos estereótipos, seja em utilizar os estereótipos como forma de subverter clichês, seja em graça mesmo (no que se refere juntar campanhas e escatologia, perde de longe do “Desafio Pacsivia”, e até “Faça Cocô No Banho”, a campanha que brincava com o “Faça Xixi No Banho” em 2010, tinha mais graça). “Pra você que não gostou, relaxa que no comecinho dói, mas depois você acostuma”, preconiza HMC durante os créditos. Acostumar-se é diferente de gostar; como sabemos que leva um tempo para se encontrar o tom de um programa (o Lado Bi de um ano atrás é bem diferente do de hoje, por exemplo) estamos torcendo para que os próximos episódios adicionem roteiros instigantes e hilariantes à boa qualidade de produção. E que assim a roda aumente cada vez mais.
A temática da água seja uma abordagem x ou y é ótimo porque foca um problema que descortina um dos maiores engodos da mídia nativa e conservadora, que esconde esse tema e reelege governadores incompetentes com indícios incontestáveis de ineficiência administrativa. A temática do humor é livre! Depois a esquerda que vigia os meios de comunicação….kkkkkk
Criticam o vídeo por julgarem estereotipado. Oi?? “Nesse momento em que a figura do homossexual no humor começa a fugir dos estereótipos da TV aberta blablablá…” Mas como um site que se chama “Lado BI” pode criticar estereótipos? E esse “Bi” aí, e toda essa insistência desse site em manter conteúdo que trata de uma suposta “cultura lgbt” (que não passa de um monte de ideias mercadológicas massificadas), nada disso é estereotipado?
Ideias mercadológicas estereotipadas? Desenvolva, por favor. Porque vir aqui sem nem se identificar e encadear meia dúzia de palavras de efeito até o Reinaldo Azevedo faz, queridinha. Sabe quem é Reinaldo Azevedo, né? Espero que sim, porque não foi um elogio… E sobre o nome Lado Bi, uma palavrinha de efeito pra você: polissemia.
Concordo que o vídeo deixou muito a desejar. O humor direcionado ao público gay tem muito mais potencial do que piadas batidas sobre sexo anal e trocadilhos forçados.
Vamos torcer pra que melhore.