Nesta quarta-feira (11), a Justiça da indiana decidiu que a homossexualidade deveria voltar a ser crime. Em 2009 um tribunal de Nova Delhi havia suspendido uma lei de 1860 que considerava “sexo contrário às leis naturais” ilegal. Isso desagradou profundamente as lideranças católicas e muçulmanas no país, que entraram com um processo pedindo a suspensão da decisão do tribunal – com sucesso.
Graças a esse ato de “amor ao próximo”, homossexuais indianos voltam a conviver com a ameaça de dez anos de prisão por se relacionarem. Mesmo que raras vezes a punição seja posta em prática, não é raro que ela sirva de base para assédio e humilhações de policiais contra os gays. Os ativistas locais já estão protestando – até porque, depois de seis anos de liberdade em que a cultura gay floresceu no país, vai ser difícil fazer as coisas voltarem como eram.
Além disso, no dia 1º de dezembro, realizou-se um plebiscito na Croácia para que se definisse o casamento como sendo exclusivamente entre um homem e uma mulher. O referendo foi iniciativa de um grupo conservador denominado “Em Nome Da Família”, que recolheu o número necessário de assinaturas para que o plebiscito acontecesse. Esse grupo tem laços estreitos com a Igreja Católica, num país em que ela é extremamente influente (como pude conferir pessoalmente esse ano). A cúria fez questão de se envolver no plebiscito:
Durante a campanha, a iniciativa popular teve importante apoio organizacional e financeiro da Igreja Católica. O maior partido de oposição do país, a conservadora União Democrática Croata (HDZ), ajudou de forma significativa. Num país onde 90% da população é católica, durante semanas os fiéis foram chamados, a partir do púlpito, a votar a favor da emenda constitucional.
O mais interessante nessa história é que não havia nenhum movimento pela legalização do casamento gay. Os conservadores, certamente tomando nota do movimento que se espalha pelo mundo, resolveram se adiantar ao nascimento de um debate que pudesse iluminar as almas croatas tornando o casamento homoafetivo anticonstitucional.
Nem a oposição do primeiro ministro Zolan Milanović conseguiu alterar o resultado – dos 38% dos eleitores que compareceram às urnas, 68% votaram “sim” pela emenda constitucional. Em resposta, o primeiro ministro declarou: “Esta foi o último referendo em que uma maioria limita os direitos de uma minoria” – atitude que eu gostaria que mais políticos em altas posições de poder tivessem por aqui quando figuras políticas aparecem de carinha lavada propondo plebiscitos desse lado do Atlântico.
A lua-de-mel também foi curta para os casais homossexuais da Austrália que se casaram nos últimos cinco dias. Nesta quinta-feira (12), a Alta Corte revogou a lei que autorizava o casamento entre pessoas do mesmo sexo, anulando as cerimônias realizadas desde sábado.
Cerca de 20 casais homossexuais disseram o “sim” desde 7 de dezembro, quando entrou em vigor a lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. As primeiras cerimônias foram realizadas um minuto depois da meia-noite.
O revés foi graças ao governo conservador da Austrália, que recorreu à Alta Corte contra a lei, alegando que contradiz a legislação federal. Na quinta-feira, a corte acatou o recurso e invalidou por unanimidade a lei.
Segundo o tribunal, o assunto precisa ser tratado pelo Parlamento. Projetos que legalizariam o casamento homossexual já foram rejeitados em setembro de 2012 pelos parlamentares.
“Vítimas”
Todas essas articulações ocorridas na Índia, na Croácia e na Austrália têm um mentor em comum: a Igreja Católica. Mesmo assim, há integrantes da religião posando de vítima, conforme você pode ver no vídeo acima.
“A Igreja Católica foi vencida pelo marketing.” Foi essa a declaração do cardeal de Nova York, Timothy Dolan, durante o programa Meet The Press no dia 1º de dezembro. Ainda não contente, Dolan lamentou no mesmo programa que a igreja esteja sendo “caricaturada como sendo antigay”.
O cardeal, basicamente, pensa que o mundo só não concorda com seus pontos de vista homofóbicos porque foi tapeado por marqueteiros viados, esses espertinhos. Não é uma questão de princípios ou de justiça para todos, mas sim de estrelas devassas de Hollywood virando a cabeça da população. Talvez se tivesse tido mais tempo para expandir suas ideias, ele viesse com o velho discurso de que não é antigay porque a igreja não odeia o pecador, mas sim o pecado – como se simplesmente considerar o amor que eu sinto um pecado já não fosse sinal de ódio.