O fundador e CEO do Grindr, o app de rede social gay que chegou na cena em 2009 e agora afirma ter mais de 7 milhões de usuários em 192 países, acredita que tem uma “oportunidade de fazer a diferença”. Homens gays do mundo todo podem estar usando o Grindr para localizar rapidamente os potenciais parceiros para uma transa a seu redor, mas Joel Simkhai acredita que, se ele puder inspirar esses homens a refletir sobre a homofobia e ligar para seus representantes no poder público entre uma conferida e outra, isso já é um grande avanço.
Em entrevista para a rádio SiriusXM, Simkhai contou sobre alguns dos esforços do Grindr nesse sentido. rebateu algumas críticas, e promoveu o Grindr4Equality, uma ação que ele lançou em 2011 para conscientizar e organizar seus usuários por meio do app. “O Grindr existe para ajudar você a encontrar pessoas. Nós não estamos nessa para mudar o mundo. Mas se no processo de ajudar você a encontrar alguém a gente conseguir fazer alguma diferença no mundo, eu fico muito feliz.”
Em regiões em que não há bares gays ou mesmo uma cidade num raio de muitos quilômetros, o Grindr se tornou um instrumento vital para homens que querem se encontrar. Simkhai aponta que isso acontece não só nos EUA, mas em muitas outras partes do mundo em que seus usuários estão conversando e trocando fotos.
“Veja por exemplo a Arábia Saudita e o Afeganistão, e todos esses países em que é literalmente ilegal ser gay, em que não há bares gays”, ele mostra. “Lugares em que não há proteção. Em que ser preso por ser você mesmo é um risco real. Onde de repente as pessoas nem sabem o que é ‘ser gay’. Alguém percebe esses sentimentos em si, mas não há outra pessoa por perto que possa explicar o que está acontecendo. Para a sorte desses caras, o Grindr preenche esse espaço em sua vida. É tudo o que eles entendem. Não há outro lugar em que eles possam ir além do Grindr. É uma situação muito infeliz, que nós sejamos a única opção que eles têm disponível. Mas temos orgulho de cumprir esse papel. É algo que nos esforçamos para que mude na vida deles. Há muito o que podemos fazer.”
Essa habilidade de conectar homens gays faz do Grindr uma ferramenta de mobilização muit poderosa, talvez da mesma maneira em que bares gays historicamente serviram de pontos de encontro de onde partiam ações políticas, apesar de sua função primária era encontrar pessoas para relacionamentos ou encontros casuais. Sendo assim, o Grindr não passou despercebido por governos antigay.
“Há pouco tempo nós fomos banidos na Turquia”, lembra Simkhai. “Sem recebermos qualquer explicação quanto ao motivo. Do meu ponto de vista, 60 anos atrás as pessoas queimavam livros. O que os governos fazem hoje é cortar o acesso à comunicação. Eu estou preocupado com os homens gays na Turquia. E também muito preocupado com homens e mulheres homossexuais na Rússia.”
Segundo o Grindr, 100 mil usuários assinaram uma petição contra as leis “antipropaganda” da Rússia, e seus usuários também ajudaram a arrecadar 107 mil dólares para frear legislações contra gays em Singapura. O app foi utilizado para chamar atenção para campanhas do Dia Internacional Contra A Homofobia E Transfobia, assim como para a violência contra homossexuais na África do Sul. Nos Estados Unidos, os usuários do Grindr recebiam mensagens ao abrir o aplicativo pedindo para que ligassem para seus deputados exigindo o casamento igualitário nos estados de Nova Jersey, Rhode Island, Havaí, Minnesota, Delaware e Illinois.
“Nós partimos do princípio de que se a gente conseguir que muita gente faça algo pequeno, a gente pode fazer a diferença”, Simkhai explica. “Nós temos um número imenso e a capacidade de enviar mensagens para eles, com alvos específicos. Nós somos capazes de mirar apenas em Delaware. Nós podemos mirar em Illinois, e pedir para que eles liguem para seus deputados, que contactem seu governador. Uma das dádivas da nossa democracia é que nossos representantes eleitos têm que prestar atenção nesse tipo de estatística, na quantidade de ligações e contatos.”
Simkhai afirma que não recebe muitas reclamações de usuários do Grindr que não se interessam por política.
“Nós recebemos quase nenhuma reclamação”, diz ele. “Mas é uma questão de equilíbrio. O Grindr não é um aplicativo político, não é para isso que ele serve, não é isso que seus usuários buscam. Eu não finjo que minha missão na vida seja política. Não é essa nossa meta. Nossa meta é ajudar os gays a encontrarem outros gays, para você não gastar tempo demais no telefone ou no computador.”
Simkhai também respondeu às críticas de que o Grindr e outros sites de namoro estão acabando com os bares gays, cada vez mais escassos, talvez porque agora gays se encontram online e não precisam mais desses espaços historicamente importantes.
“Eu vejo isso de outro modo. Antes do Grindr existir, quando havia apenas a ‘Internet pura’, de computadores e laptops, você era forçado a ficar em casa para usar esses serviços”, ele rebate. “Sua escolha era binária. Ou você saía, ou você ficava no computador. O Grindr proporciona uma outra opção, em que você pode estar online e offline ao mesmo tempo. Você pode estar no bar usando o Grindr. Você não tem que optar entre sair ou se conectar.”
E para quem reclama que o Grindr é superficial e reduz os gays aos atributos físicos, ele responde com um sorriso.
“Fantástico! Amo/sou. Totalmente. Cuide da aparência mesmo. Eu me orgulho muito do fato de que o Grindr nos força a nos aprimorarmos. A escovar os dentes. Pentear o cabelo. Comer direito. Ir malhar. Se tornar alguém saudável. Cortar o cigarro. Cortar o que faz mal e manter a melhor aparência possível. Nós somos homens. Nós somos visuais. Nós enxergamos antes de ouvir, antes de pensar, antes de fazer qualquer outra coisa. Nós somos assim. Eu não mudei isso. A evolução nos ensinou a ser assim. Com certeza eu vou mais para a academia por causa do Grindr. Eu estou competindo com o cara no quadradinho ao lado naquela tela.”
E sim, Simkhai, que afirma ter criado o Grindr porque queria arranjar uma solução para seus problemas e encontrar outros caras mais facilmente, está sempre no Grindr.
“O tempo todo”, ele responde. “Eu sou o usuário número um. Eu montei esse app para mim mesmo. Então eu o uso o tempo todo.”
Traduzido de entrevista feita por Michelangelo Signorile para o site Huffington Post.