Chloë Grace Moretz em "Carrie, A Estranha" (2013)

Nova versão de ‘Carrie, A Estranha’ explora viés gay

Genuinamente assustador, o filme tem Julianne Moore no papel da mãe e é dirigido por Kimberly Peirce, de 'Boys Don't Cry'

por Marcio Caparica

A primeira adaptação do livro Carrie, de Stephen King, para o cinema foi feita em 1976. O diretor foi Brian De Palma, o papel-título ficou a cargo de Sissy Spacek (na época com 26 anos, fazendo papel de colegial), e o resultado ficou trash mesmo para a época. A cena em que jogam um balde de sangue de porco sobre Carrie durante o prom se tornou icônica, talvez não pelas melhores razões. Seguem-se mais de 30 anos de paródias em filmes e programas de comédia pelo mundo todo, e inúmeras reprises na Sessão da Tarde.

A história tornou-se superconhecida: Carrie, uma garota numa cidade pequena nos EUA, sofre com a mãe, fanática religiosa, e com as ofensas que sofre na escola. Suas emoções reprimidas se liberam nos momentos de tensão em objetos que ela move sem querer com o poder da mente. Quando ela cai numa armadilha e seu sonho de ser a rainha do baile se transforma em humilhação, seus poderes telecinéticos explodem. Destruição generalizada se segue.

(Foi nesse filme, aliás, o primeiro papel do enrustido jovenzinho do John Travolta num longa-metragem.)

Depois de tanto exagero, quando eu fiquei sabendo que dia 18 de outubro estreia lá nos EUA uma nova adaptação de Carrie, eu não pus a menor fé. E daí eu vi isso:

MEDO.

E, digamos, não chega a ser muito sutil o que a mãe está tentando fazer com a filha.

Essa nova adaptação de Carrie é dirigida por Kimberly Peirce, a diretora de Boys Don’t Cry. Para quem não se lembra, Boys contava a história real de Brandon Teena, uma garota que viveu como homem por anos (ou, nos termos de hoje em dia, um trans-homem) até que foi descoberta, estuprada e assassinada. Hillary Swank fazia o papel principal e por causa dele ganhou um Oscar. Imune aos projetos comerciais de Hollywood, Peirce levou nove anos até lançar seu segundo longa, Stop Loss, sobre um soldado que se recusa a voltar para a guerra no Iraque. Agora, cinco anos mais tarde, chega às telas sua interpretação do primeiro romance de Stephen King.

Numa época em que se debate o bullying nas escolas e que mês sim, mês não rola um tiroteio contra inocentes nos EUA, o assunto do filme é quente. Pelo que se vê nos trailers, o estilo mais contido da direção e das atrizes torna essa história absurda em algo muito próximo do espectador. Mesmo a mãe fanática é humanizada, como Julianne Moore explicou para o New York Times: “ninguém é o vilão da própria história. Um dos grandes dons de Kim como diretora e pessoa é que ela entende isso”. A escolha de Chloë  Moretz, ela sim com 16 anos, a mesma idade de Carrie, torna a identificação com a personagem mais imediata.

E, sendo a diretora uma lésbica butch, as entrelinhas da sexualidade das personagens não poderia ficar de fora. Em entrevista à revista Out, ela disse: “a relação entre as meninas no filme é incrivelmente queer. O jeito que as meninas trepam com os namorados para fazer com que eles ferrem ou ajudem a Carrie – é um triângulo de desejo, sem dúvida”. E ela seguiu analisando a relação entre mãe e filha na história: “Carrie tem uma relação de submissão com sua mãe durante a primeira metade do filme, ela apanha, é dominada. Sua mãe não permite que ela faça o menor protesto. Depois que Carrie atinge a totalidade de seus poderes no baile da escola, ela volta para casa e quer voltar a ser a criancinha, quer retornar à situação de ‘Mãe, vou rezar’. E é claro que a mãe permite. Mas então a mãe tenta matá-la e os poderes de Carrie a protegem. Ou seja, você tem esse arco fenomenal do submisso se tornando o dominador, para então querer voltar a ser o submisso – mas é tarde demais.”

Carrie, A Estranha só estreia no Brasil dia 6 de dezembro. Um mês e meio depois da estreia nos EUA. Depois reclamam da pirataria.

Who is Carrie?

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3 comentários

James Cimino

Com licença, Luciana, mas eu gostaria de deixar claro que o outro lado bi desse site acha “Carrie” do Brian de Palma uma obra prima, beijos! hahahahaa

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